Para Nuno Rogeiro, Donald Trump não é algo de novo na política americana. Em “O Pacto Donald – ‘Trump, Novo Contrato com A América ou Fraude?’”, o autor traça a história do populismo nos Estados Unidos desde 1787 e reflete sobre o “problema do voto indireto e das sondagens”, bem como sobre a posição das minorias.

Para o analista de política internacional, o desfecho das eleições indiciam um regresso a questões do século XIX e do princípio do século XX, em que determinadas camadas da sociedade americana, como pequenos comerciantes, agricultores, desempregados, alegadas vítimas laborais da imigração maciça, entre outros, por vezes “guiadas por tribunos inflamados, se sentiram mal representados no sistema bipartidário tradicional e tentaram novas formas de ‘revolta’ local, estadual e nacional”.

 No entanto, o autor acredita que essa revolta trouxe consigo diferenças: “O que há de novo é o facto de Donald Trump ter sido, tradicionalmente, um homem que conviveu com o ‘sistema de poder’ económico, embora quase sempre fora das elites dos dois grandes partidos.”

O eleitorado encontrou em Trump a resposta para a seu descontentamento. O autor explica que passa a existir “Trump ‘pessoa’” e “Trump ‘veículo’”: “Mesmo sem entrarmos em considerações políticas, morais ou éticas sobre o primeiro, sabemos que o segundo existiu: muitas pessoas viram em Trump, nos Estados Unidos, uma boa maneira para canalizar e lavrar o seu protesto”.

As intenções de voto do eleitorado terão passado despercebidas nos meios de comunicação social, que foram alvo de várias críticas. Após as eleições, a relação entre os media e o presidente americano continua tensa. Nuno Rogeiro acredita que, com isso, ninguém sai a ganhar pois “nem Trump pode ganhar a guerra contra os media, nem estes podem ganhar a Trump. E a vítima será a verdade dos factos”, defende.

“Mais cedo ou mais tarde, haverá problemas com a Rússia”

Nuno Rogeiro deixa o alerta para a questão russa e defende que se o país não desistir de violar o direito internacional face à Ucrânia, “mais cedo ou mais tarde, haverá problemas” e acrescenta que o ultimato deixado a Moscovo, pela embaixadora de Trump nas Nações Unidas, é mais vigoroso do que qualquer outro feito durante os mandatos de Obama.

Também na economia são apontadas consequências. O nacionalismo poderá levar ao aumento da produção industrial e de serviços dentro do país “para o mercado doméstico”. Nuno Rogeiro fala também num “realinhamento maior das sedes multinacionais”, provocado por uma baixa generalizada dos impostos sobre as empresas lá estabelecidas.

Trump, “um bilionário, arauto de um povo revoltado”?

Esta é uma das questões a que livro procura responder: será Trump um servidor do povo revoltado? Nuno Rogeiro acredita que apenas no final do mandato surgirá a resposta. Mas, para já, “o presidente parece manter os 46% de votos que ganhou no todo da federação, às vezes ultrapassando esse número”.

“A retórica será sempre temperada pelos conselhos e opiniões da sua equipa, que tem muitos não-populistas. O problema é o de saber que estragos ou benefícios poderá causar à sua própria causa um Trump que não desista de afirmar uma reflexão pessoal constante via Twitter. Isto é novo”, reflete.

O livro chegou às livrarias dia 27 de fevereiro, cerca de um mês após a tomada de posse. Há 35 anos que Nuno Rogeiro se dedica à análise política internacional e, atualmente, colabora na SIC e na revista “Sábado”.

Artigo editado por Filipa Silva