Serão o fado e o cante uma combinação difícil de imaginar? No Teatro Municipal de Matosinhos, este sábado, dia 4 de março, “Fado (en)Cante” tem estreia marcada. Um concerto que celebra dois traços fortes da identidade portuguesa que são Património Cultural e Imaterial da Humanidade.

Ao projeto musical Monda, que pratica uma abordagem contemporânea do cante alentejano, junta-se a composição tradicional pelas mãos do guitarrista e compositor António Chainho. O guitarrista e o grupo juntam-se para unirem o cante e a guitarra portuguesa. O resultado da fusão é uma forma de comemorar a cultura nacional.

Uma ligação profunda entre os dois estilos musicais

“O fado tem muito a ver com o Alentejo. É uma fusão muito natural porque a linha melódica do fado tem muito a ver com a linha melódica alentejana. Há uma ligação profunda”, afirma o mestre Chainho, em entrevista ao JPN.

António Chainho nasceu em Santiago do Cacém e é guitarrista e compositor. Em Lisboa estreou-se na casa de fados A Severa, passou pela Emissora Nacional e acabou por enveredar por uma carreira a solo. Gravou muitos discos em vários pontos do mundo e é considerado o embaixador da guitarra portuguesa.

“O mestre Chainho é do Alentejo e por isso há, também, esta ligação profunda com o cante”, afirma um dos membros dos Monda, Jorge Roque.

O músico, em entrevista ao JPN,  diz , também, que apesar de o fado e o cante serem dois géneros musicais diferentes um do outro, há partes que os unem como: o “sentimento e a alma” e o “amor, a tristeza, a alegria”. “É um espectáculo inédito e imperdível que junta dois mundos distintos”, acrescenta.

O músico aprecia particularmente as ligações entre os vários estilos musicais. “A música não é uma coisa estanque, não faz sentido criarem-se barreiras e, como tal, a música não deve ser compartimentada em gavetas”, afirma.

“Fado (en)Cante” une estilos musicais, zonas geográficas e duas gerações diferentes. Para Jorge Roque, a fusão das “duas gerações” — a geração dos Monda, a nova face do cante alentejano e a geração do mestre Chainho, que tem acompanhado o cante e o fado ao longo dos anos — “é o mais importante e vai ter muita força em palco”.

Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO

O fado e o cante estão cada vez mais próximos das pessoas, principalmente do público mais jovem. António Chainho afirma não ter dúvidas relativamente a essa proximidade, que se tem conseguido devido ao aparecimento de mais jovens a cantar fado e cante alentejano e a tocar guitarra portuguesa.

Com a elevação do fado, em 2011, à categoria de Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e com a elevação do cante alentejano três anos depois, os jovens têm-se identificado, rejeitando cada vez mais a ideia de que são músicas “para velhos”, segundo o compositor.

Através de Amália Rodrigues, o fado começou a ser reconhecido em todo o mundo, mas no cante o caminho tem sido mais lento — ainda assim, a evolução é positiva e até internacional. “O que está a acontecer é um fenómeno incrível”, afirma o mestre Chainho. E já há grupos que têm levado o cante para fora das fronteiras.

O projeto musical Monda vai atuar com António Chainho. Foto: Monda | Facebook

Simplicidade dos textos e das melodias

Jorge Roque explica que no projeto Monda, embora seja dada ao cante uma abordagem mais contemporânea, há elementos que não se podem perder: a pureza dos textos e dos poemas — que em geral são sempre de origem popular — e a própria simplicidade das melodias.

“Há coisas que não se podem transformar”, afirma Jorge Roque, acrescentando que é importante que se perceba que o cante não é “nem monótono, nem parado”. “Quem vem aos nossos concertos apercebe-se de que está enganado”, conclui.

Artigo editado por Rita Neves Costa