O empate a zero, no jogo de abertura da 24ª jornada, foi o espelho fiel de um jogo cinzento. Contas feitas, a permanência do Boavista no campeonato está praticamente assegurada.

Manutenção assegurada para o Boavista. No encontro que se seguiu ao dérbi da Invicta, a estratégia dos axadrezados em Moreira de Cónegos não saiu completamente furada. Apesar dos três pontos terem ficado a meio do caminho, o objetivo dos 30 pontos foi alcançado. Matematicamente, a manutenção não é uma certeza mas está praticamente garantida.

No historial do Boavista está escrito que, em jogos para o campeonato, nunca ganharam em Moreira de Cónegos. Esta sexta-feira, não havia de ser diferente. A postura cautelosa assumida desde cedo denunciou ao que iam.

Meia dúzia de jogos sem vencer para o Moreirense. A quatro pontos – à condição – da zona de despromoção, a equipa de Augusto Inácio procurou assumir uma postura ofensiva no meio-campo dos visitantes. No entanto, a solidez na mobilidade do bloco defensivo axadrezado e a ausência de eficácia nos momentos de finalização ditaram um jogo sem cor.

Jogo de reação

As investidas tímidas da formação de Miguel Leal encontraram expressão através de lances de bola parada. Em cima do primeiro quarto de hora, uma intervenção providencial de Makaridze impediu que Iuri Medeiros inaugurasse o marcador.

Cinco minutos depois, por intermédio de Nildo, um remate em arco enquadrado com o canto superior esquerdo obrigou Vagner a aplicar-se. No entanto, foi nas alas que o Moreirense encontrou a identidade neste jogo. As sucessivas subidas de Cauê pelas laterais denunciavam a determinação da equipa da casa em afastar-se do fundo da tabela classificativa.

À passagem do minuto 37, o espevitado Moreirense foi contrariado pelas garras da pantera. Um muro axadrezado e o pé de Lucas impediram dois contra-ataques perigosos mediados pelo camisola 9 dos Cónegos.

O Boavista era um só. O clube portuense não estacionou a camioneta em frente à baliza, mas a coesão nas movimentações impediu o Moreirense de encontrar linhas de passe e opções de golo, num jogo em que as oportunidades desperdiçadas foram características.

Moreirense tenta, Boavista contraria

O intervalo foi bom conselheiro. No regresso ao relvado, as equipas apostaram em transições rápidas, dadas as dificuldades em segurar a bola no último terço do campo. A crescente vontade de concretização nos momentos de recuperação tornou-se evidente.

Face ao comportamento tático e agarrado às marcações das equipas nortenhas na primeira parte, o perfil conservador deu lugar à maior projeção ofensiva. Iuri Medeiros foi protagonista logo aos 46 minutos. Na conversão de um livre, sai do pé direito do ex-moreirense um remate certeiro à baliza. Makaridze estava atento.

O Moreirense não foi de baixar os braços. O ajuste na estratégia da formação da casa refletiu-se em Cauê – cuja persistência ganhava projeção – e em Nildo – a jogar nas costas de Roberto, encheu o pé direito de coragem e rematou rasteiro para a defesa apertada de Vagner.

Do lado dos boavisteiros, o pé desajeitado de Renato Santos apontou o último lance do número 7 antes da substituição. Com intenções de segurar o nulo, Miguel Leal fez entrar Rochinha. De um médio para um avançado, Augusto Inácio apostou em Boateng. Com sete golos acumulados esta época, o avançado substituiu o amarelado Alex.

Em contagem decrescente para o final da partida, assistiu-se aqui e ali a gestos técnicos de prender o olhar. Pontapés de calcanhares e boas combinações ajudaram a quebrar a monotonia. A romper a corrente do jogo esteve, de igual modo, a rotina das faltas e a assiduidade dos cartões amarelos: a dobrar os 60 minutos, a cartolina advertiu a simulação de Alex na grande área dos axadrezados.

O relógio marcava 10 minutos para o fim do encontro. Tempo de sobra para o treinador da formação da casa lançar Ary Papel para o lugar de Saré. O angolano estreou-se na liga portuguesa com a camisola de Moreira de Cónegos.

Já nos descontos, e por consequência da pressão alta dos homens do Moreirense, o Boavista suou para manter o nulo. Embalados pelo ritmo de jogo, as equipas nortenhas construíram uma sequência de dois lances perigosos. Primeiro por intermédio de Boateng. Em cima da linha de golo, o camisola 29 desperdiçou a melhor oportunidade do encontro para o Moreirense. Depois por Carraça. Na sequência de um livre descaído para o lado esquerdo do ataque axadrezado, o jovem português falhou a mira e a bola acertou no poste esquerdo.

Numa noite em que as equipas queriam somar pontos, sem correr riscos, a matemática confirmou a permanência boavisteira na I Liga e o afastamento provisório do Moreirense da zona de descida.

“É hora de festejar este feito”

Na zona de entrevistas rápidas, Miguel Leal não poupou nas críticas: “Foi um jogo mal conseguido da minha equipa. Saímos mal no contra-ataque.” Contudo, no quadro geral do campeonato, os “passos pequeninos, mas seguros” do Boavista são o início de uma caminhada que “está a ultrapassar todas as expectativas.” Aos olhos do técnico, o Boavista “ainda precisa de muita confiança” em aspetos que não estão de “perto nem de longe definidos.” Questionado sobre a meta dos 30 pontos, Miguel Leal garante que “é hora de festejar este feito.”

“Há que ter estofo”

Em campo esteve “uma equipa confortável na classificação contra uma equipa a precisar de pontos”, é desta forma que Augusto Inácio resume o encontro. “Pouca criatividade de parte a parte” marcou a primeira metade da partida.

Contudo, “os últimos 20 minutos da partida foram um bom sinal em termos de organização.” Para os próximos jogos afirma que o trabalho passa por limar arestas ofensivas: “A equipa está bem defensivamente, precisa de se libertar mais ofensivamente”. No primeiro posto acima da linha de despromoção, o treinador assume as dificuldades: “Há que ter estofo para aguentar a situação em que estamos.”