São jovens de diferentes áreas e preocupam-se com o mundo que os rodeia. Após 25 anos da Missão Paz em Timor, que levou mais de uma centena de jovens no navio Lusitânia Expresso com destino a Timor, a questão que se levanta é: “Quais as novas causas do século XXI?”. Estes seis jovens falaram com o JPN e contaram o que os move ou faria mover, da mesma forma que a causa de Timor fez mover vários jovens há 25 anos.

  João Perre

Melhor aluno de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP, colaborou com o Consultório FEUP, participa em vários projetos de empreendedorismo internacional, passou por experiências profissionais em diversas empresas, como o banco BPI, por exemplo, e integrou uma investigação pioneira sobre mecânica de fratura.

O que o moveria? Os ataques de oficiais indianos contra manifestantes Kashmiri, “com armas que na maior parte das vezes os deixam cegos”, explica João ao JPN.

“Nenhum oficial foi condenado. Penso que não é justo, uma vez que todos têm o direito de se manifestar livremente sem sofrer consequências”, desenvolveu. A maior parte dos manifestantes são jovens, que assim “ficam com o seu futuro completamente arruinado”. O que o estudante de Engenharia e Gestão Industrial faria era dar a conhecer ao mundo este tipo de eventos repetidos, com o objetivo de “desencadear medidas por parte do governo para eliminar este tipo de armas e comportamento”, disse ao JPN.

Ana Cardoso

É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e bolseira de investigação no Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar (CHAM), da Universidade Nova de Lisboa.

A investigadora fica particularmente sensibilizada com o trabalho desenvolvido pelos bombeiros e tenta ajudar sempre que pode: “Durante aquele período dos incêndios e até eles dizerem «não tragam mais porque já não temos onde pôr os donativos que nos fazem chegar», eu todas as semanas ia lá entregar comida e água”, disse ao JPN. A ação voluntária é o que mais a surpreende: “Na corporação da Aguda, por exemplo, são pessoas com quem eu estudei na escola, pais de amigos meus, miúdos da idade do meu irmão que podiam estar a fazer outra coisa qualquer, a jogar à bola ou no Facebook e estão ali, voluntariamente”. Ana considera que aquilo que faz para ajudar “nunca é suficiente para pagar a generosidade e as dificuldades que passam”.

Outro dos “objetivos” da Ana é oferecer umas botas a algum bombeiro. Esta ideia surgiu após tomar conhecimento de um caso específico, de uma bombeira que ficou com graves queimaduras nos pés depois das suas botas se derreterem enquanto apagava um incêndio: “Os bombeiros têm de comprar o próprio equipamento e ela devia ter umas botas que não eram assim tão boas”. “Eu quero dar umas botas a alguém”, concluiu.

Mariana Moura Santos

A Mariana é licenciada em Design de Comunicação, já trabalhou na equipa interativa do jornal The Guardian e é CEO dos projetos “Chicas Poderosas” e “Unicorn Interactive”.

A opinião da designer é clara: o tema dos refugiados é o que merece maior atenção e destaque. E porquê? Porque Mariana “podia ser uma delas, que não têm lar ou não estão capazes de o manter, seja por questões políticas, económicas, de guerra, ou religiosas, e não têm paradeiro”, disse ao JPN.

O facto dessas pessoas encontrarem um mundo “que muitas vezes não está recetivo, não está preparado para as receber, em que muitas vezes as diferenças de religião, de etnia, entre outros, são fatores que levam ao medo” é o que uma causa que a preocupa e a faria mover neste momento.

Tal como já a mobilizou noutra situação: “Fiz um evento em novembro de 2015 em Roma, onde juntámos 150 jornalistas, designers, programadores e ativistas para tentar pensar como podemos ajudar os refugiados através dos média”, explicou ao JPN. Até porque, segundo a designer de comunicação, os media têm um “papel fundamental na discussão dos temas, e podem mudar a perceção em relação aos refugiados fazendo um melhor serviço nesse sentido”, explicou.

Frederico Draw

Artista de rua e mestre em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, usa as latas de spray como se fossem lápis de carvão.

Tem consciência de que o “mundo está repleto de problemas sociais” e dá destaque à questão dos refugiados. Para Frederico, “tudo o que aconteceu em Timor há 25 anos continua a acontecer noutros sítios e é preciso ter atenção, ter alguma consciência que as coisas estão a acontecer e ajudar de alguma forma”, disse ao JPN.

Esse tipo de causas não são refletidas no seu trabalho, uma vez que “não trata questões sociais nem políticas”. No entanto, ajuda sempre que pode: “Já ajudei para leilões de angariação de fundos, para que escolas pudessem ser construídas em África, sempre com leilões das minhas obras, (…), sempre que me apresentam causas que defendo, faço por ajudar”, explicou.

Inês Almeida

É investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e já venceu uma Medalha de Honra L’Oréal para as Mulheres na Ciência.

Segundo a investigadora, o seu dia-a-dia no laboratório é uma luta na busca pela verdade. Deseja saber “como funciona o universo, a natureza e o corpo humano” e considera que quando se tem objetivos deve-se lutar por eles, de forma a construir um mundo melhor. “A busca pela paz e pela igualdade, assim como a luta contra a pobreza e a injustiça” são causas pelas quais se move diariamente.  “O saber está em pormos isso em prática no quotidiano, na forma como lidamos com os nossos colegas de trabalho, com os nossos amigos ou vizinhos e na nossa família”, disse ao JPN.

Luísa Correia

Diretora do Departamento de Marketing da Sociedade de Debates da Universidade do Porto, frequenta o último ano da licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, e já participou em várias ações de voluntariado, como na Plataforma de Apoio aos Refugiados.

Apesar de não conseguir definir concretamente o que a move, uma simples ação de voluntariado como “ir ajudar a limpar uma praia ou ir para o outro do mundo dar aulas a mulheres que nunca aprenderam a somar, apesar de terem de fazer compras e as lides de casa todos os dias” é algo que está na sua mente, contou ao JPN. Esta indefinição surge porque hoje em dia “as coisas mudam muito rapidamente…temos a influência da Internet, e esta rapidez das coisas faz com que novas opções surjam a cada momento”, explicou. Além disso, considera que os jovens “se movem muito para a comunidade, para a comunidade na Internet, para um bem maior, daí que muitas vezes o voluntariado surja cada vez mais na mente e nos objetivos dos jovens”.

Artigo editado por Rita Neves Costa