“Ter ou não ter fé” colocou esta segunda-feira, no Pólo Zero, um cristão e um ateu lado a lado para um debate que se insere no “Deus? Só visto!!”, um conjunto de atividades organizadas pelo Grupo Bíblico Universitário (GBU). O GBU promove o diálogo da fé e reflete a mensagem cristã e a sua relevância na atualidade.

Manuel Rainho, autor e licenciado em Filosofia representou o lado cristão e Tomás Magalhães Carneiro, professor de Filosofia e responsável pelo Clube Filosófico do Porto representou o lado do ateísmo no debate. Apesar de um ser ateu e outro cristão, os dois convidados partilham da mesma vontade de debater e de dialogar. Tanto para Manuel Rainho como para Tomás Magalhães Carneiro, é o debate que permite que o cristianismo e o ateísmo se aceitem e respeitem.

O evento contou com a presença de muitos jovens de várias faculdades que participaram ativamente através de perguntas — para isso, enviavam para um número de telemóvel que a organização disponibilizou no início do debate.

“A fé ensinou-me a caminhar na dúvida”

Manuel Rainho começou por referir que “o ser humano é um ser de fé” e que “todos somos crentes de alguma coisa”. Manuel afirmou que a dúvida tem um papel importante no crescimento da fé e afirmou, também, que o cristão não deve “fechar os olhos” às dúvidas que aparecem. “A fé cristã ensinou-me a aprender a caminhar na dúvida” disse. E acrescentou: “Como é que eu tenho provas de que a minha mulher me ama? Eu não sei. Mas eu confio. E com isto percebi que para agir no mundo não preciso de ter certezas de tudo, porque para aquilo que realmente vale a pena na vida, não precisamos de certezas”.

Sobre a questão de haver maus representantes de Deus, Manuel Rainho referiu que todos são maus representantes de Deus: “Isso é o desafio de todos os dias, tentarmos ser representantes de Deus”. Sobre as questões da criação, o convidado admitiu que enquanto cristão não aceita que o processo de evolução da vida aconteça “por processos de acaso e de necessidade”.

A  fé “não permite grande diálogo”

“Pensar, compreender e dialogar” são os interesses referidos por Tomás Magalhães Carneiro no começo do debate. Para o professor de Filosofia, a fé religiosa “não permite grande diálogo, não permite um diálogo racional” e como organizador de vários debates, Tomás admite que o diálogo permite que haja evolução e pensamento crítico.

“Mesmo para quem tenha fé é importante a dúvida para não ficar fechado e para fazer com que a fé possa crescer”, afirmou. No entanto, apresentou uma versão menos otimista da fé: não considera haver preocupação por parte dos crentes em encontrar a verdade, porque “o que tirou a dúvida aos crentes foi uma verdade que lhes foi imposta”.

Também sobre a criação, Tomás afirmou que escolhe “aceitar a ciência” e quando colocada a questão sobre o contributo da Bíblia na vida de um ateu, Tomás referiu que “as mensagens são abertas e que fazem pensar”.

Qual a importância do debate?

Não há discordância no que diz respeito à importância e à necessidade de dialogar. Numa sociedade onde, cada vez mais, as opiniões estão polarizadas os dois convidados referem que o diálogo é o caminho para combater o fundamentalismo e o fanatismo.

Em entrevista ao JPN, Tomás Magalhães Carneiro, enquanto organizador do Clube Filosófico do Porto, destaca o papel fundamental de se ouvir os “dois lados do debate” de uma “forma aberta”.

“Voltaire dizia que a Bíblia seria um livro de museu passados 100 anos. Mas isso não se concretizou, bem pelo contrário”, afirmou Manuel Rainho, em entrevista ao JPN, sobre o espaço que a fé ocupa ou não na juventude atual. O também licenciado em Filosofia acrescentou que a fé cristã necessita de um confronto com uma perspetiva oposta.

Já para Tomás, a disponibilidade dos jovens para tudo o que não é do campo material é cada vez menor: “Há menos tempo para a filosofia, para a fé, para a arte e para a cultura”.

O “Deus? Só visto!!” continua no Porto. No Pólo Zero, esta terça-feira às 19h, vai haver uma palestra com Manuel Rainho com o tema “o Jesus da fé e o Jesus da história” e na quarta-feira, no mesmo local, às 21h, “A fé na música” com Jónatas Pires, vocalista d’Os Pontos Negros. Este plano de atividades vai passar, também, por Coimbra e Lisboa.

Artigo editado por Rita Neves Costa