Um em cada dois portugueses não consome a quantidade de fruta e produtos hortícolas recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e 34% da população está a consumir uma quantidade de carne acima da associada ao risco de cancro do cólon. Estas são algumas das conclusões do Inquérito Alimentar Nacional e Atividade Física, que não era realizado desde 1980.

Um consórcio de investigadores, que inclui a Universidade do Porto e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, avaliou 6 553 indivíduos de todo o país para avaliar os hábitos da população com idades compreendidas entre os três meses e os 84 anos.

Os resultados do estudo foram apresentados esta quinta-feira na Reitoria da Universidade do Porto, com a apresentação de Carla Lopes, da Faculdade de Medicina e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. O objetivo é conhecer o consumo alimentar da população portuguesa e desenvolver políticas nutricionais para a melhoria da saúde.

Este novo estudo nota que os portugueses estão a consumir mais do grupo “carnes, pescado e ovos” e laticínios e menos produtos horto-frutícolas, cereais e leguminosas, comparando com o consumo recomendado pela roda dos alimentos. Esta é uma das preocupações levantadas por este inquérito alimentar, que coloca a dieta mediterrânea não tão próxima (afinal) da realidade portuguesa.

Carla Lopes foi a investigadora que coordenou o inquérito. Foto: Inês Viana

Durante a apresentação desta quinta-feira, dia 16, Carla Lopes, a investigadora principal deste inquérito, realçou a percentagem preocupante relativamente ao risco de cancro no cólon, o consumo de bebidas alcoólicas nos idosos — 5% bebe todos os dias mais de um litro — e as dificuldades económicas, uma das causas da má alimentação de alguns portugueses.

Segundo o estudo, 10% das famílias em Portugal experimentaram “insegurança alimentar”, ou seja, tiveram dificuldade em alimentar toda a família devido à falta de recursos financeiros.

Em Portugal, 17% da população — cerca de 1,5 milhões de portugueses — consome pelo menos um refrigerante ou néctar por dia, com um consumo particularmente elevado nos adolescentes. Os Açores, um dos arquipélagos excluídos no último inquérito, destaca-se também pelo maior consumo destes refrigerantes.

Outro dado que revela excessos é relativo ao sal, com 7,3 gramas consumidos, por dia, pelos portugueses. Para além do sal, o açúcar também é uma preocupação, com 15% dos portugueses com um consumo acima do valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Pedro Moreira, diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, mostrou-se preocupado com as futuras gerações, muitas vezes influenciadas por casos de obesidade no agregado familiar. A preocupação pelas camadas mais jovens é partilhada por Joana Carvalho, diretora adjunta do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física da Direcção-Geral de Saúde.

A diretora relembra a baixa percentagem de raparigas ativas e a importância do incentivo à atividade física e à escolha de modalidades desportivas variadas, principalmente nas escolas e nas universidades. Joana Carvalho aponta as autarquias e as associações locais como entidades importantes no incentivo à atividade física e criação de iniciativas desportivas.

A baixa percentagem de adultos ativos também preocupa a responsável. “Temos uma grande pressão para sermos inativos”, afirma. O número de horas que os portugueses passam sentados e à frente de ecrãs é um dos motivos para a falta de atividade física.

Mas nem tudo são más notícias. O azeite continua a ser a gordura mais consumida, comparando com o consumo de óleos vegetais. Pedro Moreira, durante a apresentação desta quinta-feira, realçou também o consumo de pescado, que com os 60 gramas consumidos por dia coloca os portugueses dentro do recomendado.

Artigo editado por Rita Neves Costa