O “Eu Acredito” é um movimento de jovens que se uniram para receber em Portugal Bento XVI, em 2010, e que durante este ano foi relançado para a vinda do Papa Francisco a Fátima durante as celebrações do centenário das aparições, em maio.

O movimento vai levar 2 mil jovens da Diocese de Lisboa a Fátima e a Diocese do Porto, que recentemente se juntou ao projeto, já conta com 400 inscritos.

O programa propõe um caminho espiritual de preparação até maio que culminará com uma pequena caminhada de alguns quilómetros para todos os inscritos das diferentes dioceses. No Santuário de Fátima, os jovens vão acompanhar as cerimónias oficiais de 12 e 13 de maio.

O diretor da Pastoral Universitária do Porto e responsável pelo “Eu Acredito” na Diocese da cidade, padre José Pedro Azevedo, falou com o JPN sobre a importância de uma preparação dos jovens para a vinda do Papa Francisco e para a celebração do centenário das aparições em Fátima, enquanto “protagonistas da história da Igreja”.

O que é que motivou o relançamento do “Eu Acredito” em 2017?
O projecto do “Eu Acredito” começou em 2010, com a vinda do Papa Bento XVI a Portugal. Com a visita do Papa Francisco para 2017 pensou-se em fazer algo parecido. Em Lisboa começaram a mobilizar e, como já tinham o know how do que se tinha passado em 2010, decidiram agarrar a ideia. O projeto seria o mesmo, mas desta vez para acompanhar e receber o Papa Francisco em Fátima. E procurou-se, também, aproveitar este momento único para se trabalhar o centenário das aparições em todos os grupos e movimentos de jovens da Diocese de Lisboa. Dom Manuel Clemente pediu que fosse a diocese a levar para a frente o projeto para que não fosse apenas de um ou dois movimentos, e isto significava colocar todos os movimentos em comunhão. Lisboa avançou e começaram a fazer várias propostas de caminhada: terços, caminhadas de fé, temas concretos para cada mês.

E quando é que o Porto se juntou ao “Eu Acredito”?
Apanhamos a boleia a meio porque só começamos em janeiro mas demos o passo de em cada dia treze rezarmos o terço para fazermos, também, esta caminhada. Abraçamos o projeto, temos a mesma identidade, a mesma caminhada. E vamos estar todos juntos no Santuário de Fátima e tentar manifestar esta unidade entre as duas dioceses para algo muito importante: o centenário das aparições e a vinda do Papa Francisco.

Quantos jovens estão inscritos da Diocese do Porto?
Neste momento temos 400 inscritos. As inscrições estão abertas e, por isso, não temos muita noção de quantos é que ainda se vão inscrever. Aqui no porto é a primeira vez que temos um projeto parecido, mas o que sentimos é que há muitos jovens que já vão com as suas próprias comunidades paroquiais porque já estavam organizados quando o “Eu Acredito” apareceu no Porto.

Em Lisboa, as 2 mil vagas foram preenchidas em apenas quatro ou cinco horas. No Porto, em tão pouco tempo, já há 400 inscritos. O que é que motiva tantos jovens a inscreverem-se no “Eu Acredito”?
O facto de ser peregrinação é muito motivador. Hoje em dia as caminhadas, as peregrinações e este tipo de expressões são muito atuais e convidativas. Em termos de formato atrai. E depois o centenário das aparições, o envolvimento em relação a Fátima é muito grande por parte da população portuguesa mas, também, pelos jovens. E a vinda do Papa Francisco. Os jovens têm muita curiosidade e muita vontade de estar com o Papa para sentirem a sua força e a sua fé. Ele é que é o grande animador da fé católica.

Acha que os jovens veem o Papa Francisco como um Papa próximo e um Papa jovem?
Acho que é próximo pelo estilo, pela linguagem que utiliza e muito, muito próximo pela sensibilidade que tem para com as questões sensíveis da história da vida dos Homens. O Papa por si mesmo é desafiador porque lança questões muito desafiadoras que fazem com que as pessoas se desinstalem do seu comodismo e se questionem. Para um jovem isto é muito atrativo.

Programa da visita papal

12 de Maio

16h20 – chegada do Papa à base aérea de Monte Real, onde decorre a cerimónia de boas-vindas e um encontro com o Presidente da República

17h35 – chegada do Papa ao Estádio de Fátima, seguindo daí, de papamóvel, para o Santuário

18h15 – Papa Francisco irá para a Capelinha das Aparições para um momento reservado de oração

21h30 –  o Papa irá presidir à bênção das velas e à recitação do terço

13 de Maio

9h10 – está previsto o encontro com o primeiro-ministro António Costa.

9h40 – o Papa visitará a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima

10h00 – Papa preside à missa solene no recinto do santuário

12h30 – almoço com os bispos portugueses na Casa Nossa Senhora do Carmo

14h45 – cerimónia de despedida na base aérea de Monte Real.

15h – partida para Roma

Por falar diretamente para os jovens.
Exatamente, porque fala diretamente. E um jovem por si mesmo e pela sua própria identidade tem vontade de ser um agente de mudança e se o Papa coloca questões que têm a ver com isso, os jovens aderem. Há uma sintonia muito grande entre o pensamento do Papa e o pensamento de um jovem. O Papa direciona o seu discurso muito para a juventude, para que a juventude seja protagonista do sonho de Deus para a humanidade de hoje. E isto é tremendamente atrativo.

O padre José Pedro referiu, anteriormente, que a oração do terço em comunidade faz parte do programa que o “Eu Acredito” propõe para esta caminhada espiritual. Há ainda muito a ideia de que rezar o terço é para as pessoas de idade. Com esta iniciativa querem incutir a oração do terço nos mais jovens?
Pela experiência, eu sinto que a oração do terço é muito querida pelos jovens e sempre que fazemos a proposta ela é bem aceite. Mas, a verdade, é que esta é uma oportunidade para se fazer a redescoberta do terço. Enquanto responsáveis de movimentos, paróquias, grupos e centros universitários temos de fazer uma proposta atrativa para os jovens na forma. O Papa João Paulo II falava dos novos métodos, das novas linguagens e das novas expressões para a nova evangelização. E isto passa por fazermos as mesmas coisas que sempre se fizeram – e o terço sempre se rezou – mas dando-lhes uma forma juvenil. Dar uma linguagem que tenha a ver com os jovens de hoje. No “Eu Acredito” há essa linguagem, há essa comunicação.

Para além do terço, como é que se preparam os jovens para o centenário e para a vinda do Santo Padre?
As várias comunidades estão a preparar-se. A diocese no seu plano pastoral tem em conta o centenário. O plano está sustentado na mensagem de Fátima e todas as comunidades eclesiais têm um suporte de base que tem ajudado nessa preparação que nos ajuda a perceber a figura de Maria no contexto do centenário das aparições, no contexto da vida da Igreja e na vida pessoal de cada um. Esta preparação é importante para que não seja só celebrar uma data histórica, mas a oportunidade de nos assumirmos como católicos e para que cresçamos na santidade.

Há tantas vezes a ideia de que, atualmente, temos uma juventude sem fé mas vemos projetos como o “Eu Acredito” que mobilizam milhares de jovens por todo o país.
Acho que o que pode haver é o desfasamento entre as propostas que são dadas e os jovens. Queremos que os jovens venham à Igreja mas as propostas que lhes são apresentadas não encaixam naquilo que os jovens querem, o que não significa que não sejam católicos e que não se identifiquem com a vida da Igreja. Nós temos de saber propor caminhos que lhes interessem. Por outro lado, queremos que o jovem seja protagonista da história da Igreja e estes movimentos, como o “Eu Acredito” e outros – e são vários -, têm em conta isto. Nestes projetos o próprio jovem é protagonista do processo de evangelização. É o próprio jovem que faz acontecer o próprio projeto. E isto muda tudo. Eu tenho a perceção de que os jovens estão a regressar à Igreja mas não sei se podemos dizer que os jovens alguma vez saíram… Que estão a regressar, estão, mas se esse regresso é depois de uma saída, acho que não podemos dizer isso dessa maneira. Mas precisamos de encontrar rumos para a Igreja deste tempo.

Já se têm vindo a dar passos nesse sentido?
Sem dúvida. O “Eu Acredito” é um exemplo e eu tenho imensa esperança. Tenho encontrado jovens muito bons e muito capazes e com vontade de dar a vida pela Igreja. E isto não é uma ilusão. Nosso Senhor Jesus Cristo começou com doze e fez uma explosão de vida de Deus no meio do mundo. Aqui no Porto somos muitos mais que doze.

É difícil fazer chegar a mensagem de Fátima aos jovens? É preciso adequá-la?
Adequar na linguagem sim. Mas não é difícil. A mensagem da oferta da vida a Deus é uma mensagem universal que a mensagem de Fátima veicula na sua espiritualidade. É uma dimensão da vida espiritual dos crentes que podemos explorar no campo da juventude, porque é um tempo de decisões, de escolhas, de formação da consciência e dos valores. Os pontos da mensagem de Fátima são atualíssimos, não vão acabar nunca e são as pedras-chave da vida da igreja de há cem anos, de hoje e de sempre.

Qual é a missão que Fátima entrega ao jovens?
Para a mim a grande missão que Fátima entrega aos jovens é que, passados cem anos, podemos ser protagonistas da história de Deus connosco, assim como os pastorinhos foram. Fátima faz esse desafio aos jovens e diz-nos que Deus tem alguma coisa a dizer à humanidade de hoje concretamente. É preciso não esquecer que a primeira coisa que Nossa Senhora diz quando perguntam “E que é que Vossemecê me quer?” é “Vim para vos pedir que venhais aqui, seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois direi quem sou e o que quero”. O que Nossa Senhora nos está a dizer é que em primeiro lugar é preciso o encontro. Fátima desafia-nos ao encontro com Deus.

Numa entrevista à Rádio Renascença, a responsável pela Juventude do Patriarcado de Lisboa, Cláudia Lourenço, disse que “ser cristão é ser cristão no mundo, onde estamos, no trabalho, na faculdade, no liceu, na família”, ou seja em todo o lado. O que é ser cristão em todo o lado?
Ser cristão é seguir Jesus e seguir Jesus é seguir alguém que é muito concreto. Sabemos quem é, o que fez, como atuou, quais foram os espaços que percorreu, qual foi a sua mensagem. Portanto, nesta figura de Jesus temos a nosso próprio caminho de vida. Ser cristão é repetir o que Jesus fez. Se Jesus estivesse aqui connosco onde é que ele ia? Ele ia onde estão as pessoas, ia à faculdade, aos cafés, ao estádio, andava nas ruas, mas sempre a anunciar a mensagem de Deus. E sermos jovens cristãos é sermos anunciadores de Deus por onde andamos. E eu tenho a certeza que se nos fosse pedido que fossemos cristãos só durante os 45 minutos da missa por semana que qualquer pessoa, mas concretamente um jovem, dizia “isto não é para mim”. Para um jovem isso é pouquíssimo. Um jovem quer tudo. E Deus também lhe pede tudo. Somos cristãos 24 horas por dia. Atrevo-me a dizer até que o somos enquanto dormimos. Não é alguma coisa que eu visto e depois dispo. É uma coisa que faz parte de mim e da minha felicidade. Sou feliz cristão e, por isso, sou feliz na faculdade, com os amigos, quando pratico desporto e quando vou beber um copo com os meus amigos. Sou cristão aí. Sou cristão em todos os momentos. Agora, a questão é: será que faço tudo bem feito? Não faço. Sou pecador? Sou. Mas posso recomeçar sempre a vida.

E para isso é preciso um maior sentido de comunidade? É necessário viver a fé com os outros, tal como vai acontecer com o “Eu Acredito”?
Por isso é que a vida comunitária é tão importante porque ajuda a perceber que há outros ao meu lado que fazem o mesmo caminho que eu, que têm dificuldades como eu. A partilha da fé é uma coisa extraordinária e dá imenso sentido à vida. O evangelho faz sempre a proposta de vida para duas pessoas, três, muitas pessoas. Mas nunca faz para um só porque não podemos ser cristãos sozinhos.

Artigo editado por Filipa Silva