Cumpriu-se três vezes Portugal. Com o Mundial 2018 no horizonte, a seleção das quinas marcou por três vezes, não sofreu golos e assinou uma boa exibição, este sábado, frente à Hungria, no Estádio da Luz. 

O plantel às ordens de Fernando Santos convenceu, com nota artística, num futebol à antiga. Com mais certezas do que dúvidas, a formação lusa não desarma na luta pelo acesso direto ao Campeonato do Mundo. Já a Hungria não foi capaz de encontrar o Norte e esteve em campo um tanto perdida. O capitão dos magiares, Dzsudzsák ainda tentou encontrar o caminho para a baliza de Rui Patrício, mas sem sucesso. 

45 minutos deram para tudo

Num 4x4x2 que encheu as medidas, Portugal não foi de contar as oportunidades pelos dedos. Sem margem de erro face à curta vitória (1-0) que a Suíça conseguira horas antes sobre a Letónia, a formação lusa acabou por se sobrepor tranquilamente ao adversário.

Ao relvado subiu um Cristiano Ronaldo que foi tudo e todos. Impôs ritmo, assumiu o papel de distribuidor de jogo – com maior preponderância no flanco esquerdo – e fletiu para o corredor central em diversas ocasiões.

O camisola 7 começou por aquecer o pé na conversão de um livre que passou centímetros ao lado do poste esquerdo de Gulácsi – consequência da falta de Vinícius sobre André Silva à entrada da grande área. Pouco depois, o capitão das quinas errou o alvo de forma clamorosa, ao desviar ao lado um cruzamento de Quaresma com a parte de fora do pé.

A Hungria dava poucos sinais de vida à frente. No único lance digno de registo, Szalai apareceu nas costas de Fonte, mas chutou por cima. Mais eficaz, a seleção portuguesa chegou à vantagem.

Consequência da pressão de Vinícius, Ronaldo serviu na esquerda Raphael Guerreiro. O cruzamento rasteiro do jogador do Borussia Dortmund encontrou André Silva ao segundo poste, que só precisou de encostar para o fundo da baliza (32’). Uma mão cheia de golos para o avançado portista com a camisola nacional. Começava o calvário de Gulácsi, guarda-redes que se tem destacado na Bundesliga ao serviço do Leipzig.

Quatro minutos mais tarde, a construção do segundo golo português começa da defesa para o ataque. André Silva toca de calcanhar para Ronaldo, que conclui a jogada com um remate de pé esquerdo rasteiro ao primeiro poste. Portugal levou a sério o aviso da obrigatoriedade de vencer e o avançado não deixou escapar a possibilidade de aumentar a vantagem no marcador. Ainda as gentes do futebol festejavam, já João Mário picava a bola para o capitão que, num artístico pontapé de bicicleta, rematou à figura do húngaro.

Em cima do minuto 40, um corte incompleto de Cédric quase comprometia o trabalho do guardião das redes nacionais face a uma tentativa de Nagy pelo lado esquerdo do ataque. O susto passou e a pontualidade britânica fechou a primeira parte. Portugal em loop controlou sem sobressaltos a bola, o jogo e o adversário.

Confirmar para descansar

Sufocado pela superioridade portuguesa, Bernd Storck foi ao banco buscar algum ar para respirar. Fez entrar Lovrencsics para o lugar de Lang e o número 14 não quis deixar o nome em branco. Entre vários passes certeiros, comandou uma das raras subidas magiares à baliza de Rui Patrício.

Face à divisão de oportunidades, a expressão do domínio português esbateu-se nos instantes iniciais da segunda parte. Contudo, foi Portugal quem acabou por somar o terceiro golo. Na conversão de um livre, a inspiração do pé direito de Cristiano Ronaldo deu asas a uma bola que pica no relvado e entra sem hipótese de defesa para Gulácsi. 70 golos marcados ao serviço da seleção nacional, o retrato fiel de um corajoso camisola 7. Ronaldo desembaraçou o nó húngaro e fechou a contagem no marcador em dose dupla.

Portugal não quis deixar de reafirmar ao que ia e tratou de o explicar não só através de um bloco ofensivo atrevido e insistente, como também de uma defesa coesa e organizada. Houve até tempo para deliciosos toques de calcanhar e irreverentes gestos técnicos.

As entradas de João Moutinho, Pizzi e Bernardo Silva moldaram a estratégia para um 4x3x3. De identidade própria, Portugal fez em campo o que a estatística comprovou em números. Sem alternativas, a Hungria tratou de acumular cartões amarelos. Dzsudzsák foi o primeiro por falta sobre José Fonte. Gera e Kádár seguiram o exemplo.

Em noite de lotação cheia nas bancadas, a seleção das quinas preencheu sorrisos que falam por si só. A correria tabela acima continua. A 9 de junho, Portugal dá em Riga o sexto passo rumo ao Mundial da Rússia. Para já, os campeões europeus têm encontro marcado com a Suécia na Madeira. O jogo de caráter particular vai realizar-se na próxima terça-feira.

“Portugal foi melhor”

Fernando Santos considera que a seleção portuguesa não entrou “tão bem na fase inicial” do encontro. “Não estivemos tão bem a circular a bola com rapidez, nem conseguimos explorar a zona central do campo, o que fez com que a Hungria acabasse por ganhar a bola”, referiu em conferência de imprensa.

Para o selecionador português, na base do sucesso esteve uma maior exploração dos flancos. “A partir do momento em que encontrámos o caminho ficou tudo mais fácil”, disse. Santos defende que “Portugal foi melhor” e até poderia ter marcado pelo menos mais um golo.

Apesar de ter alargado a vantagem para o terceiro posto, o treinador nacional não exclui a Hungria da luta. “É mais a dois agora, mas a Hungria não está fora de maneira nenhuma. Se ganhar todos os jogos terá uma palavra a dizer”, comentou. Mesmo assim, Fernando Santos destaca que a seleção nacional continua a depender apenas de si própria para estar na Rússia em 2018. “Queremos vencer todos os jogos para estar no Campeonato do Mundo”, rematou.

“Houve muitos pontos fracos”

No final do jogo, Bernd Storck estava resignado com o fosso de qualidade entre as duas seleções. “Portugal está noutro nível, muito mais alto. Temos de aprender muito com este jogo e temos de evoluir com estas experiências. É importante lembrar que não temos a mesma experiência dos jogadores portugueses”, afirmou em conferência de imprensa.

Mais do que os três golos consentidos, o selecionador húngaro revelou tristeza pela inoperância atacante. “Estamos desapontados, o jogo não correu da forma como o planeámos. Não conseguimos ter um bom desempenho no último terço do campo. A finalização não nos correu tão bem”, apontou.

Artigo editado por Filipa Silva