Estava marcada para esta sexta-feira a reunião em que a Direção Geral da Sáude (DGS) discutiu a estratégia para o combate ao novo surto de Hepatite A. A vacinação foi concentrada na Unidade de Saúde Familiar (USF) da Baixa de Lisboa. Os expostos ao contágio têm de ser referenciados por um médico e podem receber a vacina gratuitamente, das 14h00 às 19h00.

Em declarações aos jornalistas, Francisco George, da DGS, voltou a reiterar que havia vacinas suficientes para “quem precisa”. O Diretor Geral da Saúde confirmou que seria necessário os pacientes de todo o país deslocarem-se à unidade de saúde em Lisboa para receberem a vacinação gratuita. Diz que os casos fora da zona de Lisboa e Vale do Tejo são “muito esporádicos” e que o modelo será reproduzido em outras áreas do país em caso de necessidade.

O encontro contou com a presença do Infarmed e da Administração de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Também a Associação de Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (ILGA) e o Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT) participaram na discussão.

Portugal está entre os 13 países europeus que reportaram um aumento dos casos de hepatite A. Hoje, o número subiu para 123, em contraste com os apenas seis registados no ano passado.

Passar de “grupos de risco” a “comportamentos de risco”

A nota de quarta-feira da DGS informa de que “a quase totalidade” dos casos registados na Europa tem ocorrido em homens que fazem sexo com homens. Cerca de 97% dos infetados em Portugal são homens jovens.

Estão em risco os que:

  1. Se desloquem para áreas endémicas;
  2. Ingiram alimentos/água contaminados;
  3. Sejam homens que fazem sexo com homens com um ou mais dos seguintes comportamentos:
  • Sexo anal (com ou sem preservativo);
  • Sexo oro-anal;
  • Sexo anónimo com múltiplos parceiros;
  • Sexo praticado em saunas e clubes;
  • Encontros sexuais combinados através de aplicações;

Mas Ricardo Fernandes, diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamento, alerta para a necessidade de se ultrapassar a ideia dos grupos de risco, e pensar antes em “comportamentos de risco”. Segundo o GAT, é preciso entender que há comportamentos transversais a várias pessoas e grupos que podem levar à contaminação.

Ao JPN, Fernandes destaca quem tem práticas oro-anais como principalmente suscetível a contágio, assim como quem visita países onde a incidência da doença é alta. “Beber água” ou “comer comida pouco cozinhada” nalgumas regiões também constitui um comportamento de risco, defende.

“No limite, todas as pessoas que não se vacinaram contra a hepatite A e não verificaram se a tinham estão em risco”, diz.

Febre e diarreia surgem até seis semanas após contágio

Não há tratamento para a Hepatite A e apenas 70% dos infetados adultos são sintomáticos. Embora muito raramente seja fatal, pode ser perigosa para quem tem problemas do sistema imunitário ou outras doenças hepáticas.

Os sintomas manifestam-se até seis semanas após a contaminação. Febre, diarreia, dor de estômago, comichão, fatiga, mal-estar e dor abdominal são das consequências mais comuns da hepatite A. A vacina deve ser tomada por todos aqueles que tenham sido expostos ao contágio, no máximo duas semanas depois do contacto com o vírus.

Os medicamentos não servem para tratar a doença, mas sim para diminuir a agressividade dos sintomas. A recuperação demora duas a três semanas, nas quais que se recomenda repouso e abstenção de álcool.

Artigo editado por Filipa Silva