No número 120 da Rua D. Manuel II no Porto está a “Florista Maria Antónia”. Maria das Dores Pereira trabalha no estabelecimento há 26 anos e não tem dúvidas que o comércio de flores tem vindo a enfraquecer. Dos “dias especiais” aos menos felizes como os funerais, as floristas contactadas pelo JPN reconhecem, de modo unânime: a delicadeza e o apreço pelas flores não se reflete no volume de negócios.

“O negócio, destes últimos anos para cá, é mais precário, sem dúvida. Lá tem uns dias que são melhores, mas, na generalidade, não é como era antigamente”, conta Maria Pereira. A florista de 64 anos indica as datas em que as flores voam mais facilmente da loja, mas reconhece que algumas delas já não têm um grande efeito nas floristas dos grandes centros.

“O Dia dos Namorados e o Dia da Mãe são os melhores dias. O Domingo de Ramos e o Dia dos Fiéis Defuntos, que eram muito bons, agora são melhores para as aldeias, para as periferias”, explica.

A vender flores na Rua das Oliveiras há 11 anos está Fátima Fraga. A comerciante de 54 anos conta que o negócio melhorou desde que o espaço Galerias Lumière, onde tem a sua loja, começou a funcionar melhor e a ter mais lojas.

“Há dias maus e dias bons”, concorda a florista, reconhecendo, porém, que há menos gente a comprar, mesmo nos dias festivos. “A Páscoa e o Dia da Mãe é mais ou menos o normal. O Dia dos Namorados acho que é o dia em que se vende melhor, quase o dobro”, refere. No Dia dos Namorados, “até há mais gente a comprar do que há uns anos atrás”, acrescenta a florista e proprietária da “Flores e Arte”.

As restantes floristas com quem o JPN falou, afirmaram que a rosa é a flor mais vendida. Fátima, por outro lado, diz que na sua loja as flores do campo são mais procuradas. “Vendo muito mais depressa do que as rosas e outras flores mais caras”.

Para além das datas especiais marcadas no calendário, as quatro floristas referem que a faturação apenas consegue ter um aumento com os eventos esporádicos como, por exemplo, os funerais.

O mercado do Bolhão já foi lugar de muitas bancas de floristas. Hoje, apenas quatro continuam a lá “morar”. Rosa Silva é uma delas e já lá tem o seu pequeno jardim há 40 anos.

“Cada vez está é pior, há cada vez menos floristas aqui”, diz Rosa Silva. A florista portuense conta que “há uns anos”, a maior parte dos negócios no mercado do Bolhão eram floristas e carnes toucinheiras (carne de porco). “Somos só quatro agora”, lamenta Rosa Silva.

A comerciante reforça a ideia de que as épocas de festa estão em declínio. “Olhe os ramos nem se fala. Madrinhas há, não há é pessoas para comprar ramos às madrinhas agora. Não há dinheiro, a Páscoa foi ‘assim assim'”, mas em relação a outros anos, não é nada que se compare”, sublinha a florista de 59 anos.

Rosa Silva ainda considera o Dia dos Fiéis Defuntos um bom dia para o negócio das flores, bem como o já referido Dia dos Namorados e o Dia da Mãe, “se for em maio, porque se for em dezembro não”, alerta. “Vai-se indo e vai-se vendo”, comenta Rosa Silva.

A “Que seja flor” foi um dos casos de negócios de flores que saíram do mercado do bolhão. A loja mudou-se há sete anos para a Rua do Bonjardim.

Aida Cardoso tem 48 anos, não é proprietária da loja, mas já conhece o comércio das flores há 15. “Já não há aquela tradição como antigamente, não tem nada a ver. Um Domingo de Ramos não parece um Domingo de Ramos, é um dia normal e no Dia da Mãe há meia dúzia deles a cumprir a tradição”, conta Aida.

A florista considera que o panorama já se vem a agravar há cerca de seis ou sete anos. De canteiro em canteiro da Invicta, as flores já não têm o peso suficiente para se traduzirem num negócio lucrativo.

Artigo editado por Rita Neves Costa