Até esta sexta-feira, a Invicta recebeu uma ação de formação que reúne ativistas de toda Europa com o objetivo de encontrarem estratégias para o combate ao discurso de ódio.

“No Hate Speech” é o movimento promovido pelo Conselho Europeu, com representação em vários países, e que pretende combater e sensibilizar para o discurso de ódio e a discriminação no “mundo” online. Surge com o intuito de abordar temáticas como a discriminação racial, a xenofobia, a homofobia e outras formas de ódio baseadas na intolerância.

“É uma campanha de mobilização dos jovens no combate ao discurso odioso e através da educação dos direitos humanos e pela consciencialização do problema”, explica o coordenador do movimento europeu, Menno Ettema, que admite que “os jovens são parte da comunidade que precisa de agir”.

O "No Hate Speech Movement" pretende combater o discurso de ódio na internet.

O “No Hate Speech Movement” pretende combater o discurso de ódio na internet. foto: Inês de Castro

Enrico Elefante é ativista da APICE (Agencia de Promoção e Integração do Cidadão Europeu) e coordenador do movimento contra o discurso de ódio em Itália. É uma das vozes que contribui para o combate à discriminação online, mas diz que não é tarefa fácil. “Aqui fizemos algumas simulações de como podemos abordar estas situações, mas sem atacar diretamente as mensagens, porque dar-lhes resposta é ajuda-los a difundir a sua voz”, admite.

Numa era tecnológica o consumo de conteúdos online é inevitável e constante. As diversas possibilidades que a Internet oferece aos utilizadores faz dela um espaço aberto à troca de opiniões, mas Enrico Elefante lembra que “discurso de ódio não é uma opinião” e que “o mesmo espaço onde cresce este tipo de discurso pode também ser o mesmo espaço onde o combater”.

A ação de formação reune jovens de vários países da Europa.

A ação de formação reune jovens de vários países da Europa. Foto: Inês de Castro

“Há uma barreira que o Conselho Europeu promove e difunde que não pode ser ultrapassada: uma coisa é ter uma ideia, outra coisa é ofender, é discriminar, e algumas pessoas mascaram isso como liberdade de expressão e na verdade não o é. Há uma enorme diferença e isso é algo a difundir o mais possível”, explica o ativista.

O ciberespaço tornou-se assim um meio de partilha social e contacto permanente, dando diversas oportunidades de interação.  O avanço do mundo digital levantou também alguns problemas sociais como o discurso de ódio e ciberbullying. Menno Ettema explica que “a campanha é sobre ter um comportamento responsável no espaço online mas também sobre agir, aprender como denunciar discurso de ódio e difundir um discurso pelos direitos humanos”.

A inciativa tem o objetivo de desenvolver estratégias para o combate à discriminação online.

A inciativa tem o objetivo de desenvolver estratégias para o combate à discriminação online. Foto: Inês de Castro

Em Portugal, o movimento é coordenado  pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) que promove ações com o intuito de desenvolver estratégias para reconhecer e agir contra este tipo de violação dos Direitos Humanos.

A coordenadora da campanha a nível nacional, Margarida Saco, diz que iniciativas como esta pretendem “formar os jovens para que sejam ativos na produção de contra-narrativas ao discurso de ódio na Internet” e promoção de discursos de tolerância.

Apoiar os jovens na defesa dos direitos humanos, reduzir os níveis de tolerância ao discurso do ódio online, mostrar apoio e solidariedade para com pessoas e grupos (alvos desta discriminação) e desenvolver formas de participação da juventude e a cidadania digital, são alguns dos objetivos da campanha em Portugal.

Ódio: Um discurso em ascensão

Num panorama político europeu e mundial em que se observa a ascensão do populismo e de ideais extremistas e discriminatórios, de que forma o discurso político, em particular em contexto online — que facilita a difusão da mensagem — pode influenciar e até incitar a proliferação de discursos de ódio na comunidade?

“É o discurso que é muito perigoso neste momento. Há vários políticos que realmente usam discurso de ódio para ganho político e isto é claramente errado e deviam ser tomadas medidas”, defende Menno Ettema, do Conselho Europeu. “Um discurso muito forte, capaz de isolar um grupo ou de caráter nacionalista e populista não é necessariamente discurso de ódio, mas precisa de ser muito claro que pode levar ao mesmo e a crimes”, alerta.

“É parte de uma pirâmide de ódio, uma pirâmide de discriminação, que se não for parada ou prevenida pode ter muito maus resultados”, acredita o ativista da APICE, Enrico Elefante.”O discurso de ódio é a base de um processo que pode levar à discriminação — primeiro a estereótipos, e principalmente a preconceito — e depois da discriminação, há a violência e depois da violência contra um determinado grupo de pessoas há o genocídio. Já aconteceu na História e a verdade é que se não travarmos esta escalada pode acontecer outra vez”, alerta o coordenador do “No Hate Speech Movement” em Itália.

A ação de formação reune jovens de vários países da Europa.

A ação de formação reune jovens de vários países da Europa. Foto: Inês de Castro

Margarida Saco, que promove o movimento “Ódio Não” em território nacional também acredita que o discurso político pode influenciar o discurso popular e que é necessário alertar as pessoas para esse perigo. “Todo o discurso de ódio pretende também convencer outras pessoas a aderir a esse tipo de ideias e é muito importante alertar as pessoas que isto existe. Não é fechando os olhos e os ouvidos que as coisas vão passar. É importante que todos estejamos atentos”, explica.

Mas as mesmas vozes que têm o poder de incitar o discurso de ódio, podem também promover a tolerância e a inclusão. “Eu chamo a liderança política a realmente encarar a realidade e a ser mais corajosa ao falar pelos direitos humanos e pela democracia na Europa”, defende Menno Ettema.  E deixa a mensagem: “Eu acho que é muito importante que os direitos humanos sejam reconhecidos como um valor fundamental que todos precisamos de partilhar e defender e assegurar uns para os outros”.

Artigo editado por Rita Neves Costa