O aniversário da morte de Cervantes e de Shakespeare também é o Dia Mundial do Livro. O JPN falou com vários escritores portugueses acerca dos autores que os influenciaram em jovens, e perguntou-lhes o que é que a leitura ainda tem para oferecer.

António Mota

Com catorze anos, António Mota lê “Por quem os sinos dobram”, de Ernest Hemingway. O tema da guerra civil espanhola não lhe era familiar e marca-o, assim como a própria forma como a obra está escrita.

Sobre os livros, diz que ainda podem dar a pele, os poros, a alma. E são pacientes, esperam pela leitura.

 

José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa fala de “Os Maias”, de Eça de Queirós, que leu aos dezassete anos. Porquê? A “ironia”. Os livros continuam a ser a forma mais prática e simples de passar uma história, diz, de o autor a contar a quem a lê.

 

Ana Maria Magalhães

Ana Maria Magalhães era “uma leitora antes de saber ler”. A mãe lia-lhe histórias ainda antes de entrar na escola, e queria aprender para poder descobri-las sozinha. Mais tarde, “devorava todos os livros que lhe apareciam à frente”. É em “As férias, da Condessa de Ségur, lido aos oito anos, que escolhe o nome do primeiro filho.

Uma série, um filme, nunca “vão tão fundo, tão profundamente à alma das pessoas” como um livro consegue. Não há limites na escrita. Pôr-se um “cão a cantar” é de uma simplicidade impossível noutros meios de comunicação, diz.

Maria João Lopo de Carvalho

É “impossível” para um escritor escolher apenas um dos livros que o marcou. Mas “Os Capitães da Areia”, de Jorge Amado, foi dos primeiros a fazê-lo. Fausto Lopo Caroça de Carvalho, também escritor e pai da autora, era amigo de Amado. A filha tinha doze anos quando o escritor brasileiro lhe deu o livro, num jantar em casa da família. Leu-o de rajada, perturbada com a história.

Para a autora, os livros trazem a possibilidade de “imaginar, de ter uma vida mais rica e mais saborosa”.

Pedro Mexia

Os livros oferecerem “uma certa intimidade”, defende Pedro Mexia. São transportáveis e manuseáveis e o ritmo de consumo é o leitor que o escolhe. Não é suposto pararmos ou avançarmos um filme, diz, mas o ritmo de um livro depende “da nossa forma de ler”.

Quando começou a escrever, era a prosa de Ernest Hemingway que o impressionava. “Seca, sem palavras a mais” com uma simplicidade trabalhada que parecia natural. Foi um dos primeiros autores que leu “pelo estilo” e não exatamente pelo conteúdo.

Artigo editado por Rita Neves Costa