Este domingo, a França vai a votos. As eleições presidenciais vão ser um teste à posição dos eleitores face sobretudo ao extremismo político.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, a saída do Reino Unido da União Europeia e o crescente populismo político que cresce na Europa pode definir o resultado das eleições presidenciais francesas, este domingo. O JPN apresenta os candidatos ao cargo de presidente da França e mostra o que poderá estar em causa no futuro do país. Marine Le Pen da Frente Nacional está no centro das atenções.

François Fillon: Republicanos
O percurso político do candidato dá os primeiros passos em 1970. Depois de assumir a responsabilidade enquanto conselheiro municipal e regional, mas também como deputado, senador, ministro e, por último, primeiro-ministro, François Fillon dá a cara pelos Republicanos da direita conservadora nas eleições presidenciais.

Quatro propostas
Passagem da reforma para os 65 anos;
Fim das 35 horas de trabalho semanal;
Reforma da lei laboral;
Reforma das bases da segurança social.

João Carvalho, professor no departamento de Ciência Política do ISCTE em Lisboa, diz que “a principal preocupação será adivinhar qual vai ser o panorama político em França depois das eleições”.

“Os dois candidatos favoritos são de partidos de extrema que não têm qualquer base de apoio parlamentar. A grande questão será como é que vai ser a governação da França depois deste trâmite eleitoral”, admite.

Apesar do panorama político mundial em que se tem observado a ascensão de discursos extremistas, o investigador do ISCTE acredita ser “bastante difícil Marine Le Pen vencer as eleições francesas”, embora resultados como a eleição de Donald Trump e o Brexit tenham mostrado a “fragilidade das previsões eleitorais”.

Uma eventual vitória da Frente Nacional, à presidência de França, representaria “uma vitória de extrema direita, uma vitória até mais importante do que a de Trump. Seria um marco bastante assinalável” admite João Carvalho.

Charlie Hebdo Porto

Os ataques terroristas, constantes em França, uniram o mundo e terão transformado o país. Foto: Nádia Teixeira e Raquel Bastos

Marine Le Pen: Frente Nacional
Depois de exercer advocacia em Paris, nos anos 90 inicia a participação política no partido que o pai, Jean Marie Le pen, fundou. Torna-se líder do partido em 2011 e assume-se como deputada europeia até 2014. Em 2012, a primeira volta das eleições francesas deram-lhe 17,9% dos votos. Nas atuais eleições, é a candidata mais bem posicionada nas sondagens.

Quatro propostas
Saída do euro;
Renegociação dos tratados europeus ou referendo sobre a permanência do país na UE;
Medidas de protecionismo das empresas francesas;
Fecho das fronteiras a imigração.

Mas o investigador acredita ainda que a candidata teria de se sujeitar a “constrangimentos do poder”, os mesmos que Donald Trump teve de enfrentar na implementação de algumas das suas políticas “como por exemplo o bloqueio da entrada de cidadãos estrangeiros de países muçulmanos nos EUA”.

O maior impacto externo de uma eventual vitória de Marine Le Pen seria na relação da França com a União Europeia. “Marine afirma que irá renegociar a saída de França do Acordo de Schengen e da moeda única e que em caso de fracasso dessas negociações com a Comissão Europeia irá anunciar um referendo no qual, se perder, demite-se, portanto hoje em dia é a única candidata que propõe sair da União Europeia”. Mas para tal suceder, Le Pen teria de ser “apoiada por uma maioria popular que aprovasse a saída da França da União Europeia”, o que constitui o principal obstáculo da candidata.

François Hollande, candidato do Partido Socialista francês e atual presidente de França, foi escolhido a 6 de maio de 2012. Foto: Wikipédia

Benoit Hammon: Partido Socialista
Desde jovem que marca posição na ala esquerda do Partido Socialista, mas foi nos seus atuais quase 50 anos que decide candidatar-se, numa estreia, para as primárias. Entre 2012 e 2014, torna-se ministro delegado para a Economia Solidária e Social. Ainda em 2014, passa a ministro da Educação. A sua candidatura gira em torno de um discurso dissidente do governo de François Hollande.

Quatro propostas
Criação do Rendimento Universal de Existência;
Investimento ecológico ao nível europeu;
Mutualização de parte das dívidas soberanas europeias;
Salário mínimo garantido ao nível europeu.

“O que sucede é que a maioria dos franceses apoia a permanência da França na UE e então é um handicap muito grande que Le Pen tem quando pretende alargar o seu eleitorado para franjas mais moderadas”, explica o professor.

Apesar de contar com “a vantagem de ter um eleitorado altamente fiel em comparação aos outros candidatos”, para o investigador, mesmo que a candidata da Frente Nacional passe à segunda volta tem à sua frente o desafio de conseguir o apoio eleitoral mais moderado, essencial à vitória.

A tentativa de “desdiabolização” do partido com medidas como a expulsão de Jean-Marie Le Pen, em 2015, contribuído para o distanciamento do rótulo xenófobo que o partido tradicionalmente detém, mas “apesar dessa estratégia a Frente Nacional continua a ser vista como ameaça à democracia pela maioria dos franceses”, lembra João Carvalho.

Marine Le Pen com o pai Jean-Marie Le Pen, líder da Frente Nacional durante 40 anos. Foto: Wikipédia

João Carvalho dedicou a sua tese de doutoramento ao estudo da influência dos partidos de extrema direita nas políticas de imigração em países como a França e o Reino Unido e acredita que uma vitória da Frente Nacional pode ter fortes implicações para as comunidades de imigrantes em França.

Emmanuel Macron: Movimento “En Marche”
Está nos favoritos das eleições presidenciais de 2017. O percurso profissional começa como inspetor adjunto das finanças, passando por relator da comissão Jacques Attali e pelo cargo de sócio-gerente do banco Rothschild. Com apenas 39 anos, a posição política continua incerta – diz não ser “nem de esquerda, nem de direita”.

Quatro propostas
Supressão de 120 mil empregos na função pública;
Baixar os impostos para as empresas;
Reforma constitucional, com regras de moralização da vida pública e fim do conflito de interesses;
Tornar a igualdade de géneros como causa nacional.

“Nós assistimos de tempos a tempos a algumas manifestações xenófobas contra a presença de imigrantes portugueses em França”

Uma vitória da Frente Nacional iria legitimar este tipo de atitudes, portanto seria de esperar um aumento de conflitos dentro da sociedade francesa com as comunidades imigrantes, porque as franjas mais extremistas da sociedade francesa se sentiriam legitimadas com a eleição a presidente de Marine Le Pen e com certeza iriam aumentar e intensificar as suas atividades contra a presença de imigrantes”, explica o investigador.

Entre segunda e quarta-feira vão chegar 38 refugiados a Portugal.

Também a crise de refugiados agravou a tensão em França. Tracy Hunter/Flickr

Apesar de serem frequentemente apenas mencionados cinco candidatos, existem outros seis: Nicolas Dupont-Aignan, do partido “Levantar a França”, Nathalie Arthaud do partido da extrema esquerda “Luta Operária”, Philippe Poutou do “Novo Partido Anticapitalista” (também de extrema esquerda), Jacques Cheminade do “Solidariedade e Progresso”, Jean Lassalle como candidato independente e François Asselineau da “União Popular Republicana” (partido eurocético).

Jean-Luc Mélenchon: A França Insubmissa
Divergindo da ala socialista e acérrimo crítico de François Hollande, o candidato tornou-se o rosto de uma nova política de esquerda nas eleições. É conhecido pelas suas capacidades oratórias e está na corrida às presidenciais pela segunda vez. Foi conselheiro geral, senador e ministro delegado para o Ensino Profissional no governo de Lionel Jospin.

Quatro propostas
Nova Constituição;
Reforma aos 60 anos;
Direito de votos aos residentes estrangeiros;
Saída da NATO.

Alguns debates televisivos tiveram apenas a participação dos candidatos que tivessem mais de 10% das intenções de voto, um facto que originou alguma polémica. Ainda assim, houve possibilidade de realizar debates com todos os candidatos.

A primeira volta das eleições presidenciais acontece este domingo e caso seja necessário, haverá uma segunda volta a 7 de maio. O novo presidente de França tomará posse a 11 de maio e será sucessor de François Hollande. O mandato é de cinco anos e caberá ao novo presidente enfrentar os desafios do país, entre eles, a onda de terrorismo na Europa — da qual, França tem sido particularmente vítima — e a baixa popularidade da figura de chefe de Estado.

Artigo editado por Rita Neves Costa