Trump sonha com a “wall”. Né Barros consegue o desmoronamento. Cada um cria os muros e derruba-os, se o quiser. Né, no novo espetáculo “Muros”, que estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional São João (TNSJ), evidencia o “outro” num mundo que gira em torno do “eu”.

Né Barros ilustra os conflitos da atualidade e a crise interior que cada um atravessa. A dança sacode as barreiras impostas. “Muros”, uma coprodução do Balleteatro e do TNSJ, conta com o texto da escritora Eugénia Vilela e excertos do poema do romeno Paul Celan e do francês Robert Desnos, ambos ex-presos em campos de concentração durante a II Guerra Mundial.

As fronteiras derrubam-se e erguem-se em “Muros”, espetáculo com cinco bailarinos – Bruno Senume, Elisabete Magalhães, Flávio Rodrigues, Gonçalo Cabral e Joana Castro – e o cenário, criado por João Mendes Ribeiro, resulta numa estrutura que não permite que os elementos em palco se toquem.

Os corpos contorcem-se e a respiração dos bailarinos sobressai. A dança é acompanhada com música de Alexandre Soares e tem no elenco Ana Deus, ex-Ban e Três Tristes Tigres, agora vocalista de Osso Vaidoso.

Os bailarinos do espetáculo de Né Barros sobre a deslocação, o conflito e a fronteira.

Os bailarinos do espetáculo de Né Barros sobre a deslocação, o conflito e a fronteira. Foto: Susana Neves

Duas atividades para explorar o espetáculo

Esta quinta-feira, após o espetáculo, está marcada um conversa com a coreógrafa, com Ana Deus e Alexandre Soares. Espaço propício a questões sobre a inspiração para a construção  de “Muros”.

No dia 29 de maio, às 11h00, no Teatro Nacional São João, a coreógrafa conduz uma “oficina de movimento” para descobrir a linguagem corporal de “Muros”. Uma oficina, para maiores de dez anos e com inscrição no valor de dez euros, na qual se refletirá sobre as questões migratórias da atualidade e os muros que se pensam erguer.

"Muros" é o espetáculo de abertura do Festival DDD, coreografado por Né Barros, uma referência da dança portuguesa.

“Muros” é o espetáculo de abertura do Festival DDD, coreografado por Né Barros, uma referência da dança portuguesa.

Espetáculo inserido no DDD: Dias da Dança

Festival DDD – Dias da Dança regressa entre esta quinta-feira e o dia 13 de maio nas três cidades da “Frente Atlântica”: Porto, Gaia e Matosinhos.

O festival dedicado à dança contemporânea, que rapidamente se tornou o maior do país, ​é organizado pelo Teatro Municipal do Porto/Câmara Municipal do Porto em parceria com a Câmara Municipal de Gaia e com a Câmara Municipal de Matosinhos num investimento superior a 400 mil euros.

Este ano a dança celebra-se ao longo de 17 dias, juntando companhias e coreógrafos internacionais e nacionais em 35 espetáculos, oito deles em estreia nacional e nove estreias absolutas.

Artigo editado por Filipa Silva