No Porto, a Avenida dos Aliados foi um dos 40 palcos, por todos o país, que receberam as comemorações da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) para o Dia do Trabalhador. No entanto, contrariamente ao que aconteceu em anos anteriores, a afluência foi fraca.

Desde que o 1º de Maio é comemorado que a CGTP organiza o evento nos Aliados. O coordenador da União dos Sindicatos do Porto, Tiago Oliveira, lembra que “já houve tentativas de fazer desaparecer a comemoração, mas não conseguiram”. “Aquilo que queremos é ter um 1º de Maio em que a voz dos trabalhadores seja uma voz forte e que afirme aquilo que é a defesa dos seus interesses”, confessa.

Às três da tarde, já se preparavam os lugares para dar início ao comício da organização. Mais tarde, os ativistas ocupavam as ruas e nem um cenário esmorecido foi suficiente para fazer baixar os cartazes. Grupos de trabalhadores precários e movimentos feministas hasteavam as suas bandeiras e manifestos.

“Hastear” a precariedade

Vestiram preto, azul e vermelho. Assumiram-se como trabalhadores especializados precários e reivindicaram uma regularização nos seus contratos. Assim que tiveram conhecimento do evento a decorrer no Porto, decidiram sair à rua.

Maria Manuela Cunha é terapeuta da fala e está empregada com contratos a termo certo. “Muitos de nós, como o meu caso, já trabalham há dez anos e continuam a ser considerados necessidades temporárias, embora a nossa necessidade seja permanente”, conta.

O grupo organizado de técnicos já lançou uma petição que pede o ajuste dos contratos dos trabalhadores especializados, que vai ser ouvida na Assembleia da República.

Vozes feministas

Já não são as primeiras andanças de Patrícia Martins e Gabriela César, ambas membros da rede feminista “Parar machismo é construir igualdade”. No fim de semana, marcharam pelas mulheres trabalhadoras. A iniciativa surge à semelhança e no seguimento da marcha internacional que decorreu no dia 21 de janeiro no Porto, em Coimbra, Braga e Lisboa, e que contou com cerca de 1500 pessoas.

Patrícia Martins, uma das ativistas presentes, conta que “esta concentração existe no Dia do Trabalhador, porque há questões relacionadas com o papel da mulher e do seu trabalho que ainda não estão representadas nestas comemorações. Nomeadamente, a questão da desigualdade salarial, da desvalorização do trabalho doméstico e da prestação de cuidados”.

Ao lado, Gabriela César, estudante de Belas Artes no Porto, sublinhava a importância de as mulheres se unirem para combater as desigualdades no trabalho. Explica que “ocupar um lugar nas ruas é ocupar um espaço na cabeça das pessoas. Mesmo que elas não queiram, vão cruzar-se com os cartazes e pensar minimamente no assunto”. Tanto Patrícia como Gabriela esperavam que, a elas, se juntassem mais de 50 pessoas, durante a tarde, numa marcha feminista que também se fez de vozes masculinas.

O dia foi pouco concorrido, mas Tiago Oliveira explica que o momento foi importante para “continuar a afirmar este dia como um dia de festa, de reivindicação, de luta, no sentido de garantir a construção de uma sociedade mais justa, solidária, em que os trabalhadores sejam valorizados”.

Artigo editado por Filipa Silva