Em 2016, mais de 41 mil pessoas foram do Porto a Fátima a pé. Num dos itinerários possíveis, o JPN fez o levantamento dos locais onde os peregrinos podem encontrar abrigo e apoio.

Do Porto até Fátima são 225 quilómetros de distância. Em 2016, segundo os dados publicados pelo Santuário, mais de 41 mil peregrinos chegaram a Fátima saídos da Invicta, uma das cidades, juntamente com Lisboa e Braga, mais representadas.

Por estes 225 quilómetros, os peregrinos encontram apoio em postos de assistência, albergues, juntas de freguesia e bombeiros voluntários. É durante a passagem por estes lugares onde se partilham experiências, onde se organizam momentos de oração conjunta, onde se retemperam forças e a motivação.

“Foram muitos anos a dar apoio aos peregrinos”

Nos lugares de paragem são muitas as pessoas que se dedicam ao apoio dos peregrinos. Inês Carneiro tem 83 anos, é leiga consagrada e dedica a sua vida à “Mensagem de Fátima”. Pertence ao grupo de mensageiros do Coração Imaculado de Maria e atualmente trabalha no secretariado do Movimento da Mensagem de Fátima.

“Foram muitos anos a dar apoio aos peregrinos”, conta, mas sem nunca ter feito o caminho. Inês Carneiro recorda os momentos em que lhe ligavam de Lamego para avisar que tinha partido um grupo de peregrinos rumo a Castro de Aire, pois era lá que se encontrava para lhes dar apoio. “Depois, quando eu os via partir de novo ligava para Viseu e avisava os voluntários que iam receber o grupo que eu mesma tratara”, recorda. Inês guarda também na memória a altura em que o Papa João Paulo II veio a Fátima, em 1982. Não havia cobertores suficientes para todos, mas o facto não fez esmorecer a vontade de se continuar a caminhar.

Tratar das bolhas, lavar os pés, fazer massagens, tudo o que é necessário para que o peregrino possa continuar o caminho.  A voluntária admite que tem “muitas saudades desses tempos” e que sempre ofereceu com um propósito: “Trabalho por Nossa Senhora e por mais ninguém”, revela.

Como Inês Carneiro, há muitos outros voluntários que, apesar de não fazerem a peregrinação, acreditam que o seu trabalho é uma outra forma de se fazer caminho.

“Missão cumprida”

Lígia Pinheiro, apesar do cansaço, do esforço físico, das bolhas nos pés,  dos “inchaços nos tornozelos” e das “unhas que acabaram por saltar”, acabou “por descobrir a paixão por caminhar”. “A peregrinação é dura mas é , também, muito libertadora”, confessa.

Lígia tem 46 e fez a sua primeira peregrinação há 12 anos. “Com ou sem promessa enquanto puder, irei sempre”, conta Lígia Pinheiro, em entrevista ao JPN.

Fez a sua primeira peregrinação para cumprir com a promessa que fizera quando o seu pai estava doente. E assim foi. O pai melhorou e a promessa foi cumprida. Desde aí, que Lígia  já conta com quatro peregrinações do Porto até Fátima. O tempo que demorou variou em cada uma delas, mas na última peregrinação fez o caminho em apenas três dias.

Lígia Pinheiro já ia a Fátima antes de se começar a fazer ao caminho e admite que “quando via as pessoas de joelhos” pensava que “Deus não queria aquilo para as pessoas”. Ainda hoje acha isso, “mas quando as pessoas estão aflitas agarram-se a qualquer coisa”, observa.

É a fé, a força de vontade e a convicção que movem o caminho de Lígia até Fátima. Conta que as peregrinações a fazem sentir bem: “Os dias em que faço o caminho sabem-me melhor do que uma semana inteira de férias”. A chegada a Fátima é vivida com muita emoção, dada a sensação de “missão cumprida” e a tranquilidade de “todos terem chegado bem e de tanto se terem ajudado”.

Lígia recorda uma senhora de 80 anos, que conheceu durante um dos seus caminhos, que “era uma força da natureza” porque, apesar da idade, “nunca deu um ai” e porque “ajudava toda a gente”.

Se durante as suas peregrinações pensou em desistir alguma vez? Lígia confessa nunca ter achado que ia desistir. “A entreajuda e a força são tão grandes que as pessoas acabam por conseguir”, explica.

Caminhar até Fátima, mas onde ficar?

No caminho Porto-Fátima são várias as localidades onde se pode fazer a paragem. O caminho deve ser adequado a cada peregrino e é recomendada que haja preparação física prévia. O caminho que se apresenta é uma sugestão.

Artigo revisto por Filipa Silva