O Benfica visitou o Norte e o Boavista disse presente. Um empate a dois golos foi a contagem final do jogo de ontem, no Estádio do Bessa, a contar para a 34ª e última jornada do campeonato.

Rui Vitória prometeu um onze nada habitual e cumpriu. Com o tetracampeonato assegurado, o técnico deu oportunidade aos estreantes Pedro Pereira, Marcelo Hermes e Kalaica de serem campeões. A opção pelo guardião Júlio César manteve-se e Paulo Lopes começou no banco.

Erros defensivos e ofensivos dos encarnados figuraram nas quatro linhas. A faceta de um Benfica pressionante e veloz demorou 70 minutos a subir ao relvado, num encontro com carimbo de qualidade boavisteiro. Miguel Leal apostou na consistência de um onze padrão. Não foi um Boavista “como pôde ser”, mas antes como ao longo da época “mostrou ser”.

Boavista acorda 45 minutos adormecidos

Controlar a bola a meio-campo deixava adivinhar a intenção das equipas para o jogo: gerir as investidas adversárias e aproveitar os erros para marcar. Longe de ser uma equipa consistente, o Benfica foi pressionando. Logo aos sete minutos, um livre no lado esquerdo batido por Zivkovic terminou sem sobressaltos para Vagner.

De movimentações axadrezadas inteligentes se fez o golo. Aos 16 minutos de jogo, um desmarque monumental de Fábio Espinho, após um passe com “conta, peso e medida” de Iuri Medeiros, assiste Renato Santos que inaugura o marcador. O camisola 7 somou o quarto golo ao serviço dos axadrezados.

A rotatividade de um onze benfiquista, que de medalhas ao peito, agoirava uma sombra distante e confusa face ao habitual. A atitude competitiva de um Boavista, com marcações fortes a meio-campo e intensidade nos duelos individuais — uma primeira parte que terminou sem remates de perigo para os guarda-redes.

Um campeão eficaz

O Boavista entrou a fechar as linhas de passe e o Benfica aproveitava os lances de bola parada para mostrar serviço. No entanto, foram as panteras que, aos 55 minutos, aumentaram a vantagem. Iuri Medeiros faz o passe. No sítio certo estava Schembri, que não hesitou na marcação do segundo golo da equipa da casa.

Os conselhos de Rui Vitória ao intervalo fizeram-se ouvir. Mas demoraram. A construção das movimentações começava a ter um fio condutor. Lisandro ilustrou-o com um cabeceamento bem perto do poste esquerdo da baliza de Vagner.

Ao som dos cânticos dos adeptos encarnados, entraram dois avançados para dar o cunho pessoal às jogadas de ataque e correr atrás do prejuízo. Rafa e Jiménez no relvado, numa noite em que Idris esteve um senhor em campo.

“Nós somos campeões” entoava o estádio. Ao minuto 71, a velocidade de Rafa desmarcou Mitroglou entre os centrais e o grego não foi de cerimónias. O avançado descobriu o caminho do golo e a vantagem de dois golos viu-se reduzida.

Os aplausos do golo prolongaram-se, visto que a substituição pela qual todos esperavam, aconteceu. O guardião Paulo Lopes foi recebido com uma ovação à campeão.

Jiménez desenhou o empate. Apesar da receção incompleta de Zivkovic ao passe do mexicano, o camisola 17 não desistiu da jogada e conquistou um pontapé de canto. Kalaica cabeceou para o empate no Bessa, numa jogada de difícil análise para o árbitro. Golo validado na estreia do médio sérvio de 18 anos. Um empate que se ajustou à realidade.

Depois do apito final, os jogadores entregaram as suas camisolas aos adeptos, em agradecimento especial pela presença assídua em cada jornada.

82 pontos somados para o Benfica, 43 para o Boavista. O quarto título consecutivo para os encarnados, o melhor nono lugar da década no campeonato para um Boavista que até chegou a sonhar com a Europa.

Avizinha-se a final da Taça de Portugal para a formação de Rui Vitória. O Jamor opõe o Benfica ao Vitória de Guimarães, a 28 maio, pelas 17h.

“Boavista vai crescer”

Miguel Leal, no pós-jogo, considerou justo o empate entre o Boavista e o Benfica. O técnico axadrezado afirmou que o jogo positivo que a sua equipa fez nesta partida, sobretudo “na primeira parte” se compara com a boa temporada que diz terem realizado.

“Gostava de dar os parabéns ao Benfica. Bem orientados e uma equipa muito forte. Independentemente de quem jogou, nós fizemos um bom jogo. Mostrou que sabemos jogar bonito, organizado e ao ataque. O resultado aceita-se”, disse.

O treinador falou também do futuro do clube. Lembrou que o Boavista passou e passa por dificuldades, mas acredita que tem o que é preciso para ser um clube vendedor que potencia os jogadores.

Apesar das “dificuldades ao longo da época, tivemos sempre espírito de campeão e de luta. Isso torna os jogadores mais fortes. Um nono lugar na próxima época seria uma boa classificação. Queremos mais, claro. Queremos dar mais um passo em frente. Com cabeça, tronco e membros, acho que num espaço de quatro anos isso pode ser conseguido”.

O técnico assumiu que o Boavista ainda não está numa situação financeira estável. “Temos de ser serenos nos anseios e nos desejos. Crescer gradualmente e gerir bem as expectativas.”

“Apareceu o orgulho de um campeão”

Rui Vitória deu a oportunidade a alguns jogadores menos utilizados durante a temporada, um dos objetivos para o jogo no Bessa: “defrontámos uma boa equipa, que fez um bom campeonato. Tínhamos vários objetivos para este jogo. Não conseguimos ganhar, mas tínhamos de cumprir os outros: possibilitar a todos os jogadores serem campeões e dar mais minutos a jogadores que jogaram menos”.

“No segundo tempo, a equipa foi mais agressiva e num determinado momento apareceu o orgulho de campeão. Sentimos a necessidade de mostrar o nosso valor e a nossa qualidade. O sorriso na cara dos benfiquistas significou tudo aquilo que foi o campeonato”, sustentou.

Artigo editado por Rita Neves Costa