O Moreirense garantiu a permanência na primeira divisão, ao vencer este domingo o FC Porto por 3-1. E bem pode agradecer à inspiração de Boateng. O avançado ganês inaugurou o marcador ao quarto de hora, antes de assistir Frédéric Maciel (37’) e Alex (83’) para os restantes tentos da equipa minhota. Pelo caminho, Maxi Pereira fez aos 66’ o golo portista.

Sem depender de terceiros, o emblema de Moreira de Cónegos cumpriu a sua parte e assegurou a segunda manutenção consecutiva no escalão máximo do futebol português. Já os dragões acabam 2016/17 sem honra nem glória, retomando a vereda das derrotas na liga.

Cabeça de férias, olhos no céu e pés na lua

Já se previa uma tarde de sentimentos opostos. Um FC Porto de campeonato perdido e semblante carregado, a pedir com urgência o final de temporada. Face à equipa que goleou o Paços de Ferreira, Nuno Espírito Santo apresentou quatro mexidas: sentou Casillas, recuperou Felipe e Danilo Pereira e deslocou Otávio para a direita.

Na equipa da casa, ordem para atacar. Petit voltou ao 4-4-2, valorizando um meio-campo de pouco músculo e quatro homens virados para o ataque à profundidade. A precisar de conquistar os três pontos, para se livrarem de quaisquer contas, os cónegos não quiseram fugir às responsabilidades. Aos 5’, José Sá já era testado por um cabeceamento de Ramírez nas costas de Felipe. Foi o tónico para uma exibição fugaz do Moreirense no último terço.

Doravante, a defensiva portista sentiu muitas dificuldades para travar a atrevida dupla Ramírez-Boateng. O ganês marcou de cabeça aos 16’ e poucos ficaram realmente surpreendidos. Cruzamento de Rebocho tirado com conta, peso e medida, a encontrar uma das impulsões mais notáveis do campeonato. Décimo golo de Boateng na época, motivo para continuar de interruptor aceso.

Na outra ponta do relvado, Makaridze parecia um ser intocável. Sinal da inoperância ofensiva dos portistas, a caminhar em velocidade de cruzeiro para as férias. Da mediocridade salvou-se Brahimi, arrancando bailados mais esforçados que espontâneos. Otávio esfumou-se junto à linha, ficando os dragões órfãos de criatividade no miolo.

Aos 36’, uma gota de provocação acentuou o descalabro. Sobrevoava pelo estádio uma bandeira vermelha com a inscrição número 36, em alusão ao título do Benfica. Todos ficaram especados a olhar para o céu. Aproveitaram as setas do Moreirense para fundar contra-ataque venenoso.

Boateng ganhou a Felipe em velocidade e isolou Maciel. Na cara de José Sá, o médio atirou cruzado e frustrou a antiga equipa. Passo importante dos cónegos pela permanência, mesmo sabendo que por aquela altura o Tondela já batia o Sporting de Braga.

Sofrimento de pouca dura

Dos balneários para a relva, a voz de revolta no balneário portista teve efeitos práticas. Nuno trocou Otávio e Herrera por Corona e André Silva e a equipa melhorou superficialmente em 4-4-2. Teve bola, circundou a área adversária e insistiu em más definições de lances prometedores.

O melhor período dos dragões coincidiu com um ritmo desacelerado dos comandados de Petit. Fase que viria a provocar arritmias nas hostes verdes. Aos 67’, Maxi Pereira relançou o encontro recorrendo à acrobacia. André André recebeu um passe de Corona e cruzou para o uruguaio rematar de improviso com o calcanhar.

Alarmes soados em Moreira para os últimos vinte minutos. A tranquilidade abriu lugar ao nervosismo. Numa luta a três disputada ao golo e com a conjugação de resultados de Arouca e Tondela, novo golo portista seria sinistro para os cónegos. Nuno refrescou o ataque, Petit trancou portas com Bouba Saré.

Ninguém contava era com novo fracasso do último reduto visitante – em abono da verdade, o setor menos frágil nos últimos meses. Boateng voltou a fazer o que quis de Felipe e serviu Alex, lançado pouco antes por Petit, para o golo da tranquilidade.

Contas seladas para os homens de Petit, que juntam a salvação à Taça da Liga conquista em pleno inverno. No Estoril, o quarto golo dos canarinhos colocava Tondela a rebentar de euforia. O Arouca consumou o regresso à Ledman LigaPro, após quatro temporadas na elite e uma qualificação europeia.

Quanto ao FC Porto, uma sina que já se tornou banal. 13 pontos perdidos nas derradeiras nove jornadas. Quarta época seguida a ver navios, simbolizada em outras tantas agravantes procriadas no Minho: perda do estatuto de melhor defesa da liga; falhanço na ultrapassagem ao Benfica em golos marcados; quebra da invencibilidade que durava desde a terceira ronda; e primeira derrota frente ao Moreirense para o campeonato.

Nuno Espírito Santo aparece fragilizado aos olhos da SAD portista, face ao redondo fiasco que constituiu 2016/17. A pálida imagem deixada no descerrar dos panos pode ter soado a despedida.

“A nossa imagem sai beliscada”

Nuno Espírito Santo mostrou-se desiludido com o “mau jogo” dos dragões. Em conferência de imprensa, o treinador do FC Porto considerou que a equipa não mostrou em campo o que valia. “Sabíamos que neste jogo era difícil manter a intensidade, depois de estar tudo resolvido. Falhou muita coisa. Produzimos pouco. Foi um mau jogo. Não é o reflexo da equipa que somos. A nossa imagem sai beliscada”, disse.

Sobre a temporada, o técnico defende que os portistas poderiam ter ido mais além. “Começámos a época com um objetivo de entrar na Champions e conseguimos, fomos competitivos durante grande parte do campeonato, poderíamos ter feito mais em jogos em que empatámos, poderíamos ter chegado à liderança e não conseguimos. A equipa cresceu, evoluiu, mas não conseguimos chegar ao objetivo”, vincou.

Instado a comentar a continuidade no banco dos azuis e brancos, Nuno Espírito Santo remete decisões para os próximos dias. “Agora é o momento de nos sentarmos, de olharmo-nos nos olhos e ver o projeto. Foi-me encarregue uma missão. O FC Porto merece estar no expoente máximo do futebol português. Não me sinto mais que um contrato. Vamos analisar e procurar o melhor futuro para todos”, rematou.

“Queremos sempre algo diferente para o futuro”

Do lado caseiro, sorrisos e satisfação pela meta alcançada. Petit fez questão de endereçar os parabéns ao plantel dos cónegos. “Dependíamos da nossa crença. É o culminar de uma época fantástica, em que a equipa venceu a Taça da Liga e em que conseguimos a manutenção”, lembrou o técnico do Moreirense em conferência de imprensa.

Questionado sobre o futuro, Petit ambiciona lutar por objetivos mais elevados. “Queremos sempre algo diferente para o futuro. Há trabalho nestes três anos. Pegar no Boavista no Campeonato de Portugal, trazê-lo para a primeira liga e conseguir os objetivos. No Tondela também e no Moreirense, com um calendário difícil, isso também foi demonstrado”, destacou, indicando que irá falar com o presidente do clube de Moreira de Cónegos sobre as metas para 2017/18.