Eram 17h30 quando começaram a chegar as primeiras pessoas. O local marcado — em frente à Câmara Municipal do Porto — ficou com o avançar dos minutos pintado com as cores do Brasil. A manifestação “Diretas Já!” reuniu cerca de 40 participantes, maioritariamente brasileiros, mas também portugueses e outras nacionalidades, na Avenida dos Aliados.

A tarefa parecia simples: a união de vozes para pedir a realização de eleições diretas no Brasil e a demissão do presidente Michel Temer, juntando-se a outras manifestações que se têm realizado em vários locais do Brasil e também em Lisboa.

Michel Temer está “debaixo de fogo” depois de terem sido divulgadas escutas telefónicas, onde apoia o pagamento de subornos a dois homens condenados por corrupção no caso Lava Jato. Muitos cidadãos brasileiros têm pedido a demissão do presidente, mas a possibilidade do substituto ser eleito indiretamente pelo Congresso não lhes agrada. Temem que o ato prolongue o ciclo de corrupção no país. A solução, dizem os manifestantes, passa pela realização de eleições diretas — o que implicaria uma alteração na Constituição –, pois a decisão passaria para a mão do povo.

Vivian Andrade tem 26 anos e é uma das organizadoras do protesto no Porto. Está na cidade para fazer um doutoramento em Física, mas está a pensar regressar ao Brasil quando terminar os estudos. Diz que o país é governado por gangsters e que o primeiro passo deve ser o afastamento do presidente, que pode ser concretizado de duas formas: se Temer pedir a demissão ou “através do impeachment, como foi a Dilma ou através da cassação do mandato”.  Contudo, a estudante acredita que “a pressão popular é que vai fazer com que ele caia o mais rápido possível”.

André Baldo é também organizador do evento. Tem 26 anos e está na Invicta de passagem: o jovem está a fazer uma viagem pelo mundo. “Vendi uma empresa no Brasil para fazer uma viagem de volta ao mundo”, contou. Defende que as eleições diretas não são uma solução, porque “o problema vai mais além. Há um caminho que tem de ser seguido”. Confrontado com a possibilidade de as eleições diretas levarem um candidato que está a ser investigado ao poder, André diz que “é um risco, mas que ainda assim é preferível, pois a decisão passa para a mão do povo”.

Graziele tem 34 anos e mora em Portugal há 13. Está a fazer um mestrado na Universidade do Porto. Recusa qualquer conotação a partidos políticos, e diz que está nesta luta para garantir os direitos dos brasileiros. “Nós, enquanto cidadãos, podemos estar a perder algo que supostamente temos, uma democracia”, defende Graziele. E acrescenta: “Temos que fazer valer todos os dias esse direito de mudar alguma coisa, se vai ser significativo ou não, só o tempo vai dizer. Neste momento, isto é a minha contribuição, é aquilo que posso fazer”.

Marco Túlio tem 21 anos e veio para o Porto através de um programa de intercâmbio. Está a estudar jornalismo e vai voltar ao Brasil no final do semestre. Não esconde a tristeza com a atual situação política no seu país-natal, dizendo mesmo que foi “infantilizada”. “Acho que esta manifestação é muito mais simbólica do que numerosa e efetiva. Tem que haver apoio”, conclui Marco.

Artigo editado por Rita Neves Costa