O portefólio do antigo médico não deixa dúvidas. António Veloso é considerado um dos pais da Medicina Interna. Esta quinta-feira, foi distinguido com o Prémio Nacional de Medicina Interna no Porto. O JPN falou com o premiado.

Nascido em 1930, Barros Veloso licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra. Exerceu toda a carreira como internista nos Hospitais Civis de Lisboa. Em 1978, foi membro da comissão nomeada pela Ordem dos Médicos para a criação da especialidade.

Mais tarde, entre 1992 e 1994, esteve na presidência da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Durante o percurso, marcou presença em vários congressos europeus sobre a especialidade. Foi também um dos membros fundadores da Federação Europeia de Medicina Interna, em 1996, e diretor da Revista Medicina Interna.

Enquanto médico, publicou um sem fim de artigos científicos e de opinião. A carreira profissional ficou também marcada pela presidência na Comissão de Ética para a Investigação Clínica, entre 2005 e 2011.

Barros Veloso agradeceu pela distinção e dedicou o prémio a todos os internistas. Foto: João Pedro Sousa

Medicina Interna, a paixão maior

Aos olhos de Barros Veloso, a Medicina Interna é “a arte do diagnóstico e da abordagem global do doente”. “É uma paixão que permanece”, desabafa. Para o especialista, a Medicina Interna é cada vez mais necessária. “É preciso alguém que tome conta do doente. E o internista está atento a todos os problemas do doente”, explicou ao JPN.

Barros Veloso vê com algum desagrado a fragmentação da Medicina em várias especialidades. Diz ser importante ter uma visão global da Medicina, por “haver doenças que escapam por completo”. “Muitos doentes estão entregues a um especialista que não se apercebe de outras coisas”.

Pelo contrário, refere o internista (agora reformado), com a Medicina Interna, o diagnóstico de uma doença pode ficar à distância de uma conversa. “Faz-se com poucos meios. Às vezes basta uma pergunta bem feita. Ou um exame objetivo”, remata. Mas ainda há muito para fazer. Barros Veloso apela a todos internistas para “discutirem o papel da Medicina Interna e onde se encaixa”. “É um debate que ainda não está terminado”.

Medicina Interna, para que te quero? 

A Medicina Interna integra a avaliação do doente como um todo. No fundo, os internistas estudam as interações entre os vários órgãos e sistemas para compreender a complexidade de várias patologias.

A atividade de Medicina Interna é exercida em qualquer área do Hospital, desde o serviço de urgência às consultas externas. É tida por vários especialistas como o pilar de qualquer unidade hospitalar.

Um pianista de coração

Barros Veloso fica marcado como figura-chave da Medicina portuguesa, mas também soma pontos na música. Vê no piano um instrumento apaixonante e está ligado à história do jazz português há mais de cinco décadas. O pianista já lançou um livro sobre o género musical e tem um disco editado, o “DocTetos”. No Hot Club Portugal, em Lisboa, participou em várias jam sessions e ficou conhecido como “Dr. Jazz”.

Artigo editado por Rita Neves Costa