Até quarta-feira, está aberta ao público a Mostra Nacional de Jovens Empreendedores. O evento decorreu durante três dias no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, com a presença de 136 estudantes do ensino secundário e superior de escolas de todo o país. As 55 melhores ideias de negócio, selecionadas entre cerca de 80 projetos, disputam a primeira edição do “Concurso Nacional Jovens Empreendedores” e o “Concurso de Ideias Jovem Empreende @ Porto “.

A média de idades dos participantes é de 18 anos, mas os prémios a atribuir podiam aliciar qualquer empreendedor experimentado. Há 3.500 euros para premiar as melhores ideias apresentadas por estudantes do ensino secundário e 5.000 euros para projetos de alunos do ensino superior.

Podem ser atribuídos até três vales de incubação, no valor de 2.100 euros cada, para a instalação em Ninhos de Empresas de Porto ou Lisboa. Estão também em jogo até três inscrições no Programa “European Innovation Academy”, de 16 de julho a 4 de agosto, que custam 1.500 euros cada. Numa vertente mais tecnológica, há ainda o Prémio Especial AppsFactory, uma oportunidade que pode ser agarrada por três equipas do ensino secundário e três do superior, que consiste no apoio à criação de uma aplicação que, mediante a qualidade final, poderá ser disponibilizada nas lojas virtuais iTunes e Google Play.

Os professores do ensino secundário que coordenam projetos não são esquecidos na hora de atribuição dos prémios. Os docentes que acompanham os projetos vencedores do “@ Porto” e do concurso nacional recebem 250 euros, destinados a “gratificar o empenho e a dedicação”, conforme sublinha a Fundação da Juventude, principal dinamizadora da iniciativa.

“Há projetos para todos os gostos”

Os projetos estão enquadrados em duas áreas, Empreendedorismo Criativo e Empreendedorismo Social. Para Ricardo Carvalho, presidente executivo da Fundação da Juventude, a opção prende-se com as necessidades identificadas em Portugal.

“Achámos que, ao nível nacional, deve ser feita uma aposta muito forte no empreendedorismo social e no terceiro setor, que já está mais desenvolvido em outros países da Europa e menos em Portugal”, explica o presidente executivo. “Nestas duas variantes, criativa e social, há projetos para todos os gostos” acrescenta Ricardo Carvalho, não escondendo a “satisfação” perante a elevada participação.

“Entendemos que era importante apostar na educação para o empreendedorismo. Achamos que vamos ter margem para uma segunda edição tanto do concurso como da mostra”, assinala o diretor da Fundação da Juventude, de olhos postos no futuro. “Queremos assumir que seja um projeto-âncora ao nível nacional”, sublinha.

Um banco de eletrodomésticos usados ou um sabonete em “em folha”

Rafael Almeida, estudante do 11º ano do curso técnico de Mecatrónica, apresenta ao JPN o “B3E – Banco de Equipamentos Elétricos e Electrónicos”. Com dois colegas e um professor, pretendem desenvolver na Escola Profissional de Tondela aquilo que já fazem informalmente: consertam eletrodomésticos e outros utensílios eletrónicos usados, que pretendem passar a doar a famílias carenciadas.

“É bom para todos. Para nós [estudantes] treinarmos as nossas competências, para as famílias mais carenciadas, e para o ambiente também – porque os eletrodomésticos passam a ter uma segunda utilidade”, explica o aluno. Os equipamentos que não tiverem arranjo possível serão encaminhados para reciclagem.

Para avançar, só precisam, além das doações de professores e alunos da escola, de aparelhos usados entregues pela comunidade envolvente, além de algum dinheiro para comprar as ferramentas necessárias às reparações.

“Necessitamos de cerca de 600 euros para comprar as nossas ferramentas, porque isto não tens fins lucrativos mas necessitamos de começar com algum equipamento. Depois, teríamos parcerias com uma empresa de reciclagem, e também com entidades como a câmara e associações que apoiam famílias carenciadas, que iriam entregar os equipamentos às famílias que deles mais necessitassem”, concretiza Rafael Almeida, revelando um “plano de negócios” já estruturado.

Outro projeto da área de empreendedorismo social é o de Lúcia Sousa, que desenvolveu um “Sabonete Higiénico” feito a partir de óleo usado. Segundo a universitária, que veio de Minas Gerais, no Brasil, fazer um período de mobilidade na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, este novo produto “vem em folha e em rolo, já pontilhado para ser destacado”.

“Um litro de óleo descartado de forma errada pode contaminar mais de um milhão de litros de água, o solo e o ar”, enfatiza a estudante de Gestão, que aponta ainda as “falhas consideráveis” do sabão em barra e do sabonete líquido. “O sabonete em barra é uma fonte de bactérias, podendo ser prejudicial à saúde. Por outro lado, o sabonete líquido é mais difícil de remover devido à sua composição, que deixa resíduos na pele. Exige mais tempo para enxaguar e origina assim um desperdício de água”, aponta Lúcia.

Soluções criativas para problemas reais

A “MedBox” é uma das ideias oito ideias apresentadas por alunos do ensino superior na categoria de empreendedorismo criativo. Consiste numa “caixa eletrónica de medicamentos e por uma aplicação”, conta Catarina Cardoso, aluna do segundo ano da Escola Superior de Saúde de Santa Maria, no Porto. As colegas de turma Mariana Garcez e Diana Mota partilham a conceção e o entusiasmo pela ideia.

“Foi pensada para ser prática e rigorosa. A caixa abre só na hora da toma dos medicamentos, acompanhada de um aviso que pode ser sonoro, luminoso ou vibratório”, explicam as alunas, que procuram ainda uma entidade parceira para fazer os protótipos em 3D. “A aplicação permite que um cuidador saiba se os fármacos estão ou não a ser tomados e a que horas, além de poderem ser inseridos outros dados do doente, como a tensão arterial ou glicemia, que serão úteis para mostrar aos profissionais de saúde nas consultas”, sublinham as futuras enfermeiras.

Aos 18 anos, Paula Rego é já uma empreendedora com um produto no mercado. Veio de Furnas, em S. Miguel, nos Açores, com algumas caixas de “Queijo do Vale”, um queijo que criou com a ajuda dos pais.

“Tudo começou devido ao fim das quotas leiteiras, que foi um problema sentido no continente mas que afetou mais os açoreanos”, recorda Paula. “Comecei a ver que as coisas não estavam a correr bem e tive que ajudar os meus pais de alguma forma. O meu pai é produtor de leite, e eu ajudo os meus pais desde seis anos. Não sabia nada, começámos do zero e estivemos dois anos em experiências para criar este queijo”, explica a jovem, que frequenta o 11º ano na Escola Profissional de Vila Franca do Campo, no curso técnico de Restaurante/Bar.

“Temos aqui cinco variedades: o amanteigado, o ‘meia cura’, com tomilho, com alho e com oregãos. O nosso objetivo no início, e que se concretizou, é diferenciar este queijo de todos os queijos do mundo. Ele é banhado numa água mineral das Furnas, e absorve tudo o que essa água tem, que é rica, muito rica, em ferro e sais minerais”, descreve a criadora.

“Vai fazer em julho um ano que a queijaria está aberta. Já vendemos em tudo o que é restauração nas Furnas, e na hotelaria em S. Miguel. Em Portugal Continental, estamos nas “Lojas Açores” em Lisboa, e vamos brevemente entrar no El Corte Inglés”.

Apesar de o projeto ser seu, garante que não teria conseguido sem a ajuda dos pais “devido à burocracia toda” com que teve de lidar, ainda adolescente. Destaca também a colaboração de Ana Rita Ferreira, uma amiga e colega de turma na escola. Já ganharam o concurso “Ideia Açores” com este projeto. “Agora vamos juntas nisto”, garante Paula.

Uma experiência “enriquecedora” para os jovens empreendedores

O Porto é o distrito mais representado na mostra, com 18 dos 55 projetos. Aveiro traz sete ideias de negócio, Lisboa apresenta seis, Coimbra e Setúbal cinco, Faro concorre com quatro. Braga e Viseu estão representados com dois projetos cada. Os Açores e os distritos de Bragança, Castelo Branco, Guarda, Portalegre e Vila Real marcam presença com um projeto cada.

“Está a ser bastante enriquecedor, conhecer outros projetos, conhecer outras ideias de outras zonas do país em que têm também projetos bastante bons, para concorrer connosco”, observa Rafael Almeida, um dos três alunos que apresenta o B3E.

Francismo Maria Balsemão, presidente do Conselho de Administração da Fundação da Juventude, deixa “um conselho” aos jovens empreendedores. “Não desistam. Não se sintam demasiado frustrados se não conseguirem à primeira, nem à segunda, nem à terceira. Na cultura americana, é considerado um bom empreendedor alguém que não desistiu à primeira”, sublinha o filho de Francisco Pinto Balsemão. “Os ensinamentos que daqui levarem vão ser importantes para a vida profissional no futuro”, garante o gestor, que se licenciou em Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior Técnico.

“Independentemente de ganharem ou não, podem estar orgulhosos. Estar aqui, terem sido selecionados, já é uma vitória”, assegura Francisco Maria Balsemão.

Artigo editado por Filipa Silva