As botas pisaram o relvado bem apertadas de certezas. Certeza de que o empate era suficiente, mas a vitória era o caminho a seguir para garantir a qualificação da equipa das quinas. E assim foi. A fase de grupos passou e Portugal está nas meias-finais da Taça das Confederações.

São Petersburgo recebeu o terceiro encontro de Portugal em apenas sete dias. O onze titular mudou. Nada que tenha posto em causa a liderança do grupo A e o quarteto de golos assinados por Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, André Silva e Nani.

Devagar se vai ao longe

Portugal só dependia de si e do seu querer para chegar mais longe na Taça das Confederações. A vontade esteve lá e o apuramento também. Mas, não precisavam de ter chegado atrasados.

Nos instantes iniciais, à incapacidade da seleção nacional segurar a bola à chuteira somou-se o primeiro remate neozelandês. Chris Wood, a quem os neozelandeses confiavam o golo, atirou de pé direito, mas Rui Patrício estava no controlo da trajetória da bola.

O cronómetro já marcava 26 minutos e, em jeito de resposta ao futebol direto, físico e sem criatividade imposto pelos “All whites”, Cristiano Ronaldo só não marcou porque estava lá o ferro para evitar o golo. O cruzamento de Ricardo Quaresma e a finalização do capitão foram a combinação de sinais necessária para os portugueses tomarem as rédeas do encontro.

Mesmo assim, o processo de construção ofensiva de Portugal demorou a ficar pronto. É que a Nova Zelândia, comandada pelo inglês Anthony Hudson, pressionou e equilibrou os pratos da balança até perto da meia hora. Havia de ser Cristiano Ronaldo a desequilibrá-los.

Estavam contados 33 minutos e, na área, Tommy Smith e Thomas Doyle impediam Danilo de chegar à bola. O árbitro norte-americano Mark Geiger assinalou penálti a favor da equipa das quinas. Cristiano Ronaldo não falhou o golo 75 de quinas ao peito. O que parecia um dia não para Portugal era, nada mais nada menos, do que uma aparência.

E quem melhor do que o miúdo de Pepe Guardiola para o provar? Bernardo Silva lá guardava o segredo das acelerações e dos desequilíbrios. Quaresma serviu com classe Eliseu e o internacional cruzou rasteiro para o golo do senhor Silva. Não há magia que resista tanto tempo escondida.

A Nova Zelândia ainda não estava convencida e mostrava não estar pronta para baixar os braços. O problema é que havia sempre um homem português no caminho da bola.

Mais e mais Portugal

Os sorrisos entre desmarcações a que a dupla portuguesa, Bernardo Silva e Cristiano Ronaldo, habituou o estádio Krestovsky não voltaram do balneário. Pizzi rendeu o camisola 10 e trouxe consigo a fluidez de jogo necessária.

Do banco para o relvado, apetecia dizer que era uma segunda parte em loop. Repartida e um tanto desinteressante. Porquê? Porque faltava aquele património de ideias táticas flexíveis o suficiente para apresentar soluções. Pelo menos, assim se esperava que acontecesse.

O que não se esperava era o cartão amarelo mostrado a Pepe. Um erro desnecessário que lhe custou a presença na meia-final da Taça das Confederações e que, à semelhança de Raphaël Guerreiro, troca as voltas a Fernando Santos.

Minuto a minuto, aquele Portugal campeão da Europa mostrava querer pintar a final das cores nacionais. Mas antes, um cruzamento perigoso de Thomas Doyle, na sequência de uma investida neozelandesa. A sorte de Portugal foi Chris Wood não ter chegado. Agora sim. Ricardo Quaresma, pelo flanco direito, dá a bola a Nélson Semedo que, num cruzamento perfeito, a coloca na cabeça de Ronaldo. Só faltou mesmo a finalização.

Sucediam-se as jogadas. Desta vez foi André Silva à passagem do minuto 63. O avançado de 21 anos, desmarcou-se entre os centrais, puxou a bola para o pé direito e o remate saiu à figura de Marinovic. O miúdo do AC Milan prometia, prometia e, pouco tempo depois, cumpriu mesmo. André Silva recebeu a bola e correu meio-campo até encontrar o caminho para o terceiro golo de Portugal.

Tempo para mais uma substituição. O capitão das quinas dá o lugar e a braçadeira a Nani dentro das quatro linhas. Portugal aproximava-se de um sistema de jogo em 4-2-3-1 e, numa investida por intermédio do camisola 17, valeu à Nova Zelândia uma defesa quase por instinto de Marinovic. Entrou a mostrar compromisso.

Mesmo assim, era certo que enquanto o tempo corresse, Wood prometia não dar descanso a Rui Patrício. Dito e feito. Mais um remate do avançado para uma defesa atenta do guardião nacional.

Aquele Nani de umas quantas linhas a cima marcou. Recebeu a bola em zona frontal, fugiu à pressão de Ingham e atirou cruzado para o quarto das quinas. Quem sabe não são estes os golos que nos vão fazer chegar à última página da história de Portugal na Taça das Confederações.

Contas feitas, Portugal é líder do grupo A com sete pontos, os mesmos do México. A Rússia é a terceira classificada com 3 pontos. A Nova Zelândia, por sua vez, ocupa o último posto do grupo, sem qualquer ponto conquistado.

A Alemanha ou o Chile são os possíveis adversários de Portugal nas meias-finais. A decisão é conhecida este domingo. As meias-finais jogam-se a 28 junho, pelas 19h00, hora de Portugal continental, na Kazan Arena.

Ao estatuto de campeão europeu pode juntar-se o título inédito na Taça das Confederações. Em território russo, Portugal não quer parar de sonhar.

“Sabíamos bem aquilo que queríamos. Passar em primeiro”

Danilo Pereira esteve sempre lá quando foi preciso e desempenhou um papel importante na goleada portuguesa. Na flash interview, o médio do FC Porto reforçou a motivação da equipa no jogo das meias-finais e garantiu que, face às recentes lesões e castigos no plantel, Portugal tem “um grupo muito competente. Quem quer que jogue vai estar preparado para as adversidades”.

O mesmo disse Nélson Semedo: “Temos um lote de 24 jogadores e estão todos preparados para jogar”. A prestação da Nova Zelândia não passou despercebida ao defesa-direito: “Tivemos a humildade e o respeito sobre a Nova Zelândia, uma equipa com muita garra e determinação”, mas “sabíamos bem aquilo que queríamos. Passar em primeiro.”

Já Pizzi, realçou que “o mais importante agora é descansarmos bem e começarmos a preparar o próximo adversário. Quem vier será certamente um adversário complicado, mas nós estamos fortes e preparados para conquistar uma vitória.”

Fernando Santos começou por dizer que acredita nos seus jogadores, independentemente de quem jogue. “Procuro fazer uma rotação, mas sempre com um padrão na minha equipa”, concluiu. No que diz respeito às meias-finais, o técnico assumiu que “a partir de agora são finais e as finais são para se ganhar”. A fórmula? “Sermos iguais a nós próprios.”