Sophia de Mello Breyner Andersen já o tinha escrito no conto “A Saga”: havia um esqueleto de uma baleia nos corredores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que combinaria muito bem com o grande átrio da Casa Andersen, no Jardim Botânico do Porto, onde a escritora passou alguns anos da sua infância. A miragem literária cumpriu-se. A Galeria da Biodiversidade é inaugurada esta sexta-feira pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O esqueleto da baleia lá está, bem no centro, aos olhos de todos.

A galeria é o primeiro pólo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, que ganhou uma nova vida e terá recebido cerca de 1,9 milhões de euros de fundos comunitários para a sua construção. O novo projeto pretendeu desde o início combinar a arte com a ciência. Nuno Ferrand, diretor do museu, disse ao JPN em maio do ano passado, que “cruzar todo o tipo de saberes” era uma das missões da Galeria da Biodiversidade.

E o público poderá encontrar exatamente isso: desde uma escultura de Charles Darwin, cientista que nos deu a conhecer a teoria da evolução humana, a uma vitrina repleta de ovos pigmentados e não pigmentados, a Casa Andersen deixa entrar a ciência pelas portas onde já morou a literatura. Mas quem pensar que a cultura ficará fora do perímetro, desengane-se. Os poemas de Sophia de Mello Breyner vão ser escutados numa das divisões do espaço. Aí é lhe feita a devida homenagem.

A interatividade está presente e os visitantes não serão meros agentes passivos. Para quem já não passa sem uma imagem de si mesmo como recordação, Andy Warhol será recordado através da técnica fotográfica — do movimento artístico pop art — que imortalizou em Marylin Monroe. Ouvir as batidas do próprio coração, de um rato ou de uma baleia (a diferentes ritmos, claro) e ver o mundo através dos olhos de uma minhoca e de um caracol são outras das atividades desta galeria, que pretende ser tão diversa, quanto possível.

Pelas divisões da “casa de Sophia”, ainda há a possibilidade de conhecer uma variedade imensa de sementes e espécies de caracóis. E se o visitante tiver interesse pelas diferentes culturas, pode achar interessante saber como seria o seu rosto, caso tivesse nascido em África ou na Ásia. O projeto “Pantone” da fotógrafa Angélica Dass permitirá replicar este efeito.

As visitas começam este sábado e a primeira semana da abertura da Galeria da Biodiversidade terá entrada gratuita.