É caso para dizer “Terra chama Mar Azul”. Se antes do jogo se podia ouvir entre adeptos comentários confiantes como “vamos ganhar, estamos muito fortes” ou “o importante é não sofrer”, o fim da partida foi toldado por “com esta equipa fez-se o que se podia” e “este Besiktas é muito bom”. De facto, as “águias negras” de Istambul mostraram-se em grande nível – não fossem elas bicampeãs turcas. O encontro da primeira jornada da Liga dos Campeões foi uma chamada estrondosa à realidade para o FC Porto. 1-3 foi o resultado de uma exibição cinzenta e que terminou com o estado de graça dos “azuis e brancos”.

Neste que foi o regresso a “casa” de Pepe e Quaresma, o FC Porto apresentou duas alterações face ao anterior encontro, com o Desportivo de Chaves. Ricardo Pereira regressou ao onze titular para substituir o mexicano Miguel Layún no lado direito da defesa. Soares foi titular junto a Marega no ataque, com Aboubakar a cumprir castigo pelo cartão vermelho visto contra o Olympiacos na temporada passada, curiosamente vestindo a camisola do Besiktas.

Faltou sorte e equilíbrio defensivo

O jogo começou com as duas formações a tentarem jogar no erro do adversário, procurando espaços atrás das defesas. De um lado, o argelino Brahimi conduzia as investidas “azuis e brancas” e tentava isolar Soares e Marega com passes que acabavam quase sempre por serem demasiado longos. Na outra baliza, Talisca, Quaresma e Tosun bailavam como queriam sobre a defesa da casa. O encontro partiu-se rapidamente e o golo poderia ter sido para qualquer das equipas. Foi o FC Porto, embalado no ataque e abrindo brechas enormes na defesa, que pagou o preço. Marcou Talisca aos 13 minutos após um contra-ataque rápido que nem Casillas conseguiu conter.

Mas quem jogava em casa era o FC Porto, e cabia aos portugueses lutar pelos três pontos no primeiro jogo da liga milionária. Aos 19’, Óliver Torres rematou ao poste e, logo a seguir, marcou Marega. 21 minutos de jogo e o Caldeirão do Dragão ebulia de novo com o empate.

Após o golo, foi o Besiktas quem foi encostado às cordas. Falhou passes comprometedores junto à sua área e posicionou-se mais atrás no terreno, dando mais iniciativa de jogo aos visitados. Mas felizmente para os turcos, os erros de marcação e de compensação defensiva do FC Porto continuaram. E sem que ninguém dentro de campo o pudesse prever, e com um remate potentíssimo desde longe, Tosic devolvia a liderança aos visitantes aos 28’. Aqui foi a sorte que mais falhou aos “Dragões”.

O resultado não mais se alterou até ao intervalo e ficou patente a distância entre as duas formações. A segurança nas zonas recuadas, a serenidade a jogar (mesmo em momentos mais conturbados) e o foco firme na baliza contrária permitiu ao Besiktas sair vencedor deste encontro contra um FC Porto que caiu contra uma equipa francamente subestimada.

Confirma-se: faltam mais e melhores jogadores

Sérgio Conceição não ficou particularmente fã da primeira parte feita pela sua equipa. Prova disso, foram as substituições feitas ao intervalo. Saíram Corona e Óliver Torres e entraram André André e Otávio. A tática mudava com as mexidas de jogadores: o FC Porto jogava agora num 4-2-3-1. André André mais junto a Danilo, a recuperar mais bolas no meio-campo e a distribuir melhor os passes, Marega e Brahimi descaídos nas laterais, mas a procurar espaços interiores e Telles e Ricardo incumbidos de dominarem os corredores exteriores. E parecia poder resultar, considerando a boa atitude da equipa após o descanso.

O golo é que não aparecia. E com o avançar do relógio, o Besiktas foi lentamente anulando as investidas portistas e controlando aos poucos o meio-campo.

O treinador Ṧenol Güneṧ vincou isso mesmo, quando fez entrar o médio chileno Gary Medel e o ponta de lança espanhol Álvaro Negredo, de estilo mais posicional. O destaque vai para o jogador mais ovacionado da noite, o português Ricardo Quaresma, que saiu do relvado sob uma salva de aplausos de pé da nação azul e branca.

O fim do jogo aproximava-se e já se desesperava nas bancadas. Aos 81’, Conceição fazia entrar Hernâni e tirava Danilo. O equilíbrio já não tranquilizava ninguém e o golo passava a ser ainda mais a meta a cruzar.

Mas em vão. Mais uma vez desfalcado na defesa, o FC Porto sofria o 1-3 aos 86’. No momento exato do golo de Babel, alguns milhares de adeptos levantavam-se e sairam dos seus assentos quando ficava confirmada a primeira derrota – e os primeiros golos sofridos – da época. O “Mar Azul”, como chamou Sérgio Conceição aos portistas, escoou na maré da derrota e abandonou o estádio, visivelmente cabisbaixo e desiludido.

Em conferência de imprensa, o técnico do FC Porto atribuiu as culpas da derrota a si próprio e à equipa. Ainda assim, não dramatizou a situação. “Em termos estratégicos, se há alguma responsabilidade, é minha”. “Estamos tristes pelo resultado, mas sabemos que somos o FC Porto e que temos qualidade para em qualquer jogo, casa ou fora, recuperar os pontos perdidos hoje. Estamos a um ponto do segundo lugar, isso é que é a grande verdade e estamos apenas no primeiro jogo”, concluiu.

Em Leipzig, onde se disputou o outro encontro do grupo G, o Mónaco de Leonardo Jardim foi empatar a uma bola. Pontos divididos entre vice-campeão germânico e campeão francês, a darem o segundo lugar do grupo a ambas as equipas. O FC Porto volta a jogar para a Liga dos Campeões a 26 de setembro, no Mónaco.

Artigo editado por Filipa Silva