No Estádio do Dragão, a noite de sexta-feira foi daquelas que não gosta de se deixar esquecer. Uma mão cheia de golos deixou o FC Porto bem seguro na liderança do campeonato em vésperas de se deslocar ao Mónaco.

Sete vezes felizes em outras tantas jornadas é um prenúncio que inspira confiança no Norte a um ritmo só visto há 10 anos. Os azuis e brancos contaram uma mão cheia de golos, esta sexta-feira, no Dragão, mas não tiveram os homens de Portimão na palma da mão.

O Portimonense foi ao Porto igual a si próprio, igual ao estilo a que habituou o Benfica, o Boavista, o Braga e tantos outros. Os homens de Vítor Oliveira não entraram no esquema das linhas recuadas e do autocarro em frente à baliza.

“Olhos nos olhos” frente aos azuis e brancos primaram pelas acelerações nos flancos e pelas recuperações de bola. No entanto, houve um Porto invicto e cheio de arte com a bola do outro lado.

As complicações para os algarvios tinham o nome de Aboubakar – contavam-se ainda 3 minutos e já o camaronês no corredor esquerdo rematava rasteiro e em arco para a baliza de Ricardo Ferreira – e de Brahimi.

Paulinho tentou uma e outra vez descomplicar para os de Portimão numa das suas (muitas) investidas. O problema era que o meio-campo do Porto estava em todas. Passes incompletos e tentativas de fluxo ofensivo interrompidas ao japonês Shoya Nakajima não permitiam ao Portimonense levar a sua avante.

Aos 20′, o Porto pôs um ponto final à indecisão e, em vez do 8, foi ao 80. Marcano converteu em golo um canto de Alex Telles. 1-0 para os homens do Norte.

Com Aboubakar, um golo nunca vem só. Nem dois minutos depois de Marcano, o camisola 9 quis que a bola voltasse a conhecer o fundo da baliza de Ricardo Ferreira. Jogada a dois tempos teve ajuda de Corona.

Por esta altura, as bancadas cobriam-se de adeptos eufóricos e a felicidade estava para durar. Marega encarregou-se disso. Isolado por Corona, o avançado surgiu tão rápido como um foguete na cara de Ricardo Ferreira para assinar o terceiro golo da noite.

Vítor Oliveira mudou a tática para um 4x4x2. Mais um homem a meio-campo para conseguir a posse de bola mais tempo e, em última análise, para se adaptar ao estilo do Porto. Nem de propósito, Pedro Sá encontra espaço e jeito para rematar. Casillas estava atento às intenções perigosas do homem natural da Póvoa de Varzim.

A atenção não deu para tudo. Aos 36′, um remate certeiro de Nakajima, na cara do guarda-redes espanhol, diminuiu as distâncias no marcador. O Portimonense reduziu para 3-1 e os cerca de 50 adeptos algarvios fizeram o que podiam para se ouvirem no meio das bancadas coloridas de azul e branco.

E se jogar sem medo no Dragão pode dar golo, a possibilidade de sofrer é uma consequência a ter em conta. A linha defensiva do Portimonense foi, nos últimos minutos da primeira parte, uma espécie de bombeiro de última hora. É que na passada, Marega tentava dar resposta às intenções de golo de Aboubakar. Saiu ao lado e foi tudo para o balneário.

Jogou-se bonito até ao fim

Quem se sentou nas bancadas do Dragão com expectativas altas para os segundos 45 minutos não se enganou. O filme parecia replicado, com mais dois golos à mistura.

O som do apito ainda não soava no Dragão e já Vítor Oliveira tinha trocado Wellington por Manafá. O brasileiro não estava a fazer muito em campo e o técnico queria raça para reduzir a desvantagem.

Quando a bola começou a rolar, foi Brahimi quem mostrou aos algarvios a raça nortenha. Uma combinação do trio Aboubakar, Marega e Brahimi dilatou os números para os da casa. O camaronês do costume fintou um ou dois adversários e deixou a bola para Marega assistir Brahimi. No remate, a redondinha ainda desviou em Pedro Sá. O marcador assinalava 4-1 e a noite ainda tinha algo mais reservado.

Mais à frente, Ricardo Ferreira viu-se obrigado a provar quantos metros media face a um remate colocado de Alex Telles. A bola saiu pouco por cima da trave. E se o tema é alturas, o metro e sessenta e seis de Shoya nada tem a ver com a velocidade e habilidade técnica que foi exibindo nos últimos trinta metros dos dragões. Qualidades que valeram um livre para Fabricio converter. A bola vai à barreira e na recarga sai ao lado, muito ao lado.

A equipa azul e branca não quis dar muito espaço de manobra para os algarvios sonharem reduzir mais uma vez a desvantagem. E que melhor maneira de o fazer, senão com uma jogada coletiva de nota artística. Ora, Aboubakar tocou de calcanhar para Herrera, que numa simulação, deixou para o pé direito de Brahimi fazer o quinto golo.

E se com tanta oportunidade e golo marcado de ambas as formações não se dava pelo tempo passar, a verdade é que Rúben Fernandes mostrou que não tem só qualidades de defesa central. O algarvio encontrou espaço de manobra nas costas de Felipe e respondeu com um cabeceamento certeiro ao pontapé de canto de Hackman. Sem muita festividade, as contas da noite (5-2) estavam fechadas.

Apesar da contagem decrescente para o apito final, houve ainda tempo para Herrera rematar ao poste e Paulinho dançar com a bola na área.

O Portimonense não desistiu de incomodar a gente grande do futebol. E que o diga Sérgio Conceição. Os algarvios liderados pelo mestre das subidas vieram ao Norte fazer o que ainda ninguém tinha feito no Estádio do Dragão: apontar dois golos e não deixar esquecer que estão de motivações reforçadas para garantir a permanência.

E se para uns a estadia entre os 18 clubes quer-se duradoura, para outros há a ambição desmedida de levantar a taça ao fim de quatro anos. O Porto exibe sem constrangimentos o objetivo de que é este o caminho certo para ser campeão. A questão é que não está sozinho nestas andanças. Jorge Jesus e o seu Sporting fazem-lhe, para já, companhia.

A 1 de outubro as atenções vão estar única e exclusivamente em Alvalade. Porto e Sporting andam de mãos dadas na liderança do campeonato, mas quem sabe não será o clássico a mudar o rumo das coisas.

“Eu não tenho que falar dos outros”

Sérgio Conceição não foi de meias palavras numa conferência de imprensa que soube a aviso. O técnico chegou à sala, sentou-se e disse que na antevisão do encontro com o Portimonense “oito em 10 perguntas foram sobre o Benfica.” E continuou: “Tiraram uma frase do contexto, ou seja, completamente diferente daquela que veio a público. Eu não quero saber dos rivais, no sentido em que tenho muito com que me preocupar”. “Eu não tenho que falar dos outros. Está à vista de todos aquilo que é o campeonato nacional e não a crise do Benfica”, concluiu. Três minutos depois levantou-se e saiu.

“Gostamos de encarar o jogo pelo jogo”

Nem tudo é bom quando se ganha e nem tudo é mau quando se perde. Vítor Oliveira reforça a importância de marcar em dose dupla e lembra que “não é fácil para nenhuma equipa fazer dois golos ao Futebol Clube do Porto”. “Nunca podemos sair insatisfeitos quando perdemos, muito menos com este score. É que 5-2 é um resultado em desuso no futebol atual”, observou.

O técnico da equipa de Portimão realça a “entrega dos jogadores” no relvado do Dragão, mas assinala que aquilo que correu menos bem é muito mais importante para o que se avizinha a curto e longo prazo: “cometemos muito erros defensivos, fomos muito macios para uma equipa com a qualidade da linha ofensiva que o Porto apresentou. Teríamos que ter sido muito mais agressivos, mais compactos e capazes de tapar melhor os caminhos para a nossa baliza.”

A necessidade de uma reorganização defensiva é uma prioridade para a formação do Algarve, “sem fugir ao que é o ADN do Portimonense. Gostamos de encarar o jogo pelo jogo”, explicou Vítor Oliveira.

 

Artigo editado por Filipa Silva