O Future Places está aí para a 10ª edição – arranca na terça-feira e prolonga-se até sábado -, fiel à sua matriz experimental e pedagógica. Desde 2008 que o evento quer “pôr os cidadãos a pensar o futuro a partir dos media digitais e analógicos” e este ano o objetivo não se altera.

Heitor Alvelos, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, curador do Future Places, define-o como um “encontro improvável de cidadãos, de estéticas, de eventos”, uma junção “de ingredientes e agentes” que reunidos, costumam encontrar uma vida própria.

A programação deste ano inclui os já tradicionais Citizen Labs ou Laboratórios de Cidadania, que são oficinas de participação livre desenhadas para promover a “pedagogia da acessibilidade” ou, por outras palavras, a ideia de que “os media são ferramentas que têm vários níveis de uso que podem e devem estar ao serviço dos cidadãos”, explica o docente e investigador.

Dos azulejos do Porto a uma versão alternativa do Monopólio

Entre os 11 Citizen Labs deste ano, alguns destaques: na quarta-feira, entre as 10h00 e as 13h00, o projeto “Os Azulejos do Porto”, que já tem um posto no Instagram, ganha nova forma. A ideia é construir um arquivo digital público de todos os azulejos que cobrem as fachadas de edifícios da cidade do Porto. Realiza-se num dos espaços centrais do evento, o UPTEC Pink.

No dia seguinte, 19 de outubro, é a vez Sara Moreira apresentar o seu Commonspoly. Um jogo de tabuleiro, baseado no popular Monopólio, mas com uma proposta diferente: “imaginar um mundo baseado na cooperação, em vez da competição”. Os participantes serão convidados a juntar esforços para desenharem regras de um mundo melhor, com base nos nossos recursos comuns. É entre as 18h00 e as 20h00, no espaço Rosa Imunda.

A funcionar em contínuo ao longo do evento estará o projeto do desinger gráfico e artista visual, Miguel Januário, “±MAISMENOS±”. Desta vez, o objetivo passa pela recolha de assinaturas, durante o período do Future Places, para a criação de um partido com o nome do projeto de intervenção.

José Pacheco Pereira, que já no ano passado esteve no evento, volta a colaborar desta vez guiando uma visita à exposição que tem no Mira Fórum: “A Propoaganda nas Eleições Presidenciais dos EUA, 2016”.

O programa inclui ainda vários concertos. Logo na primeira noite, a 17, está agendado para o Passos Manuel, um concerto que envolve a Rádio Manobras, uma comunidade de cidadãos do Porto e um músico convidado que chegou esta semana do México: Steven Brown, dos Tuxedo Moon.

Quarta e quinta, há uma sessão de curtas-metragens, em associação com o Shortcutz, no Maus Hábitos. E na sexta, a tradicional mostra de videojogos, no mesmo local. Em paralelo, a mascote do Future Places, que acompanha o evento desde 2013, o Antifluffy, vai fazer, nesse espaço, à mesma hora, uma sessão de microfone aberto inspirada pela beat poetry dos Estados Unidos. “A nossa ideia é misturar estes dois ingredientes: um espaço de videojogos e um espaço de palco aberto de maneira a que cada um possa ser a banda sonora do outro”, conta Heitor Alvelos.

O sábado, dia de encerramento, conta com a participação da secretária de Estado para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Fernanda Rolo, e terminará com o concerto “The Longest Fade Out”.

Integrada no simpósio doutoral, destaque também para a sessão de abertura que este ano fica a cargo da professora Doreen Lorenzo, da Universidade do Texas em Austin. Esta “especialista na transferência de conhecimento” dedica a sua intervenção ao tema “Thinking About Design”.

Legado ao cabo de 10 edições

A Rádio Manobras, que começou por ser a rádio do Future Places e é hoje uma rádio comunitária, e o Citadocs, mais recente, que é um coletivo dedicado ao cinema documental do quotidiano na cidade do Porto, são exemplos de projetos-legado do evento. A Sonoscopia ou a Stopestra são outras criações com raízes no Future Places.

“A nossa missão tem sido essa muitas vezes: reunir pessoas, pô-las a conversar entre si, lançar ideias e depois as pessoas sabem o que têm de fazer. E não quero de forma nenhuma reclamar a autoria da Sonoscopia ou da Stopestra, mas de alguma forma as pessoas começaram a falar aqui”, observa Heitor Alvelos.

A 10ª edição do Future Places serve também de mote para uma exposição dos cartazes das edições anteriores como forma de “refletir o tempo” do próprio evento.

A iniciativa enquadra-se num novo esforço da organização de trabalhar uma arquivo físico – o digital está documentado no site do evento – tendo também em linha de vista a organização, no futuro, de uma mostra retrospetiva com objetos, produtos materiais de nove anos de Future Places, porque “os media não são exclusivamente o que está no ecrã”.

O Future Places é uma iniciativa da Universidade do Porto no âmbito do programa UT Austin-Portugal.