Vivemos num mundo em que a moda se encontra presente um pouco por todo o lado. Mais do que uma tendência no ato de vestir, a moda é um fenómeno sociocultural que expressa ideais e costumes, num determinado momento. Beatriz Bettencourt, uma jovem designer de moda radicada no Porto, distinguida na competição PFN da Modtíssimo e finalista do último concurso “Bloom”, esteve à conversa com o JPN sobre o meio da moda.

Beatriz conta-nos que a moda foi aparecendo na sua vida gradualmente. O mundo das artes era aquele com que mais se identificava. Já o interesse pelo ato de vestir e o que se consegue transmitir através da moda foi evoluindo ao longo do seu percurso no curso de artes visuais, que frequentou no ensino secundário.

“A moda diz muita coisa. É mais do que o ato de vestir. Transmite personalidade, atitude, presença. A moda também comunica”, observa a estilista para quem a conceção de vestuário sendo frequentemente entendida como banal, é um trabalho com elevado grau de complexidade e um investimento de muitas horas.

Beatriz, que só tem marca no mercado desde 2015, conta que quando escolheu esta área sentiu o receio de contactar com muita superficialidade e materialidade. A jovem de 25 anos não esconde o que acha: “A moda lucra com a futilidade e a materialidade das pessoas”, afirma. “Apesar de eu não querer compactuar com esse mundo, de certa forma eu não posso pensar muito nisso, porque automaticamente ele vem ter comigo”, sublinha ainda.

“Não há certo e errado na moda”

Como qualquer profissional, Beatriz ambiciona um lugar de destaque no meio em que opera. Uma “espécie de lugar ao sol” num ofício que não é binário, não tem “certo e errado”. A jovem diz que, apesar de parecer “cliché”, o segredo para o sucesso é o trabalho e a noção do que se procura.

Quanto ao viver-se da moda em Portugal, a jovem declara que algumas coisas já foram feitas no sentido de se caminhar para uma valorização do setor. No entanto, afirma que ainda só se deram os primeiros passos.

Bloom

O Espaço Bloom é uma plataforma que alavanca e promove novos talentos no Portugal Fashion (PF). Foi integrado no PF pela Associação Nacional de Jovens Empresários, que organiza o certame, em 2010. Desde o ano passado, o projeto apresenta um dia e um local exclusivos para a mostra do trabalho dos jovens designers, que entram no Espaço por convite ou através de um concurso bienal.

Portugal não tem uma ligação tão próxima com a arte de vestir como as capitais da moda Londres, Paris, Milão e Nova Iorque, que alcançam escalas muito grandes. Deste modo, segundo a estilista, só com plataformas como o Bloom no Portugal Fashion, no Porto – onde vai estar esta quinta-feira a desfilar a sua nova coleção “Perfect Strangers” – ou o Sangue Novo, em Lisboa, é que os jovens criadores portugueses conseguem divulgar um pouco do seu trabalho e de certa forma alcançar uma visibilidade maior dentro de um mercado que é muito pequeno.

Daí que a luta por um lugar neste espaço, que este ano vai estar montado e aberto ao público no Museu do Carro Elétrico, no Porto, seja enorme: “Tu tens que dar tudo por tudo e tu nem sabes propriamente se na próxima edição vais estar lá”, afirma Beatriz. “Tens de mostrar vendas que comprovem que o teu produto é viável, que as pessoas gostam e querem comprar e que traz mais-valias para o Bloom”, conta-nos.

Uma luta que se justifica porque não é todos os dias que se tem a oportunidade de mostrar um conceito: “Quando idealizas uma coleção, idealizas para vender peça a peça, por lucro, mas o facto de poderes ter um desfile no qual podes idealizar desde o calçado, os cabelos, a maquilhagem, ou seja, toda a envolvência, tu consegues mostrar realmente a um público qual foi o teu conceito e o que tu procuras mesmo com aquela coleção.”

Já quanto a uma potencial internacionalização da sua recente marca, a modista comenta que mais que uma possibilidade, é uma necessidade.

O Portugal Fashion chega esta quinta-feira ao Porto depois da passagem por Lisboa, no sábado. Além de Beatriz Bettencourt vão desfilar no Espaço Bloom as coleções de três escolas de moda (EMP; IPCB/ESART/FAUL e ESAD) e ainda de Maria Kobrock/Joana Braga, David Catalán, Inês Torcato, Olimpia Davide, Nycole e Sara Maia.

Os desfiles prosseguem na sexta e no sábado e vão passar pela Alfândega do Porto – o local central do evento -, o Matadouro Municipal e o Cais Novo.

Artigo editado por Filipa Silva