Na sexta-feira, Frankie Chavez, com a colaboração de Peixe – dos icónicos Ornatos Violeta – e Benjamim, apresentou ao Porto o seu mais recente trabalho, “Double or Nothing”, num Hard Club completamente cheio. Seguem-se mais duas exibições no Teatro da Trindade, em Lisboa, a 27 e 28 de outubro.

O JPN esteve à conversa com o músico horas antes do concerto. Num tom relaxado, Frankie Chavez falou-nos do novo álbum, muito marcado pelo nascimento das filhas, de como passou de um trabalho mais solitário para o contexto de banda e do que anda a ouvir. Neil Young e Wilco estão entre as escutas recentes.

JPN: O que distingue “Double or Nothing” dos seus outros trabalhos?
Frankie Chavez: Este disco foi essencialmente gravado em banda. Eu já andava a tocar com o João Correia e com o Donovan em trio há algum tempo, ao vivo. Os temas foram trabalhados por todos, foi uma coisa muito mais partilhada com outros músicos. Nos outros discos, apesar de serem os mesmos géneros musicais – continuei a abordar o folk, o rock e o blues -, o processo de gravação era bastante diferente. Para este disco quisemos mesmo ser uma banda.

JPN: O que significa o álbum para si?
FC: Foi o culminar de mais uma fase da minha vida, como são os outros discos. São sempre fases diferentes e eu sou sempre influenciado pelo que anda à minha volta. Os temas falam disso, alguns falam de coisas pessoais outras nem tanto. Este disco está muito marcado, também, pelo nascimento das minhas duas filhas. Fui agora pai de gémeas e o acabar do álbum, mais o trabalho que tenho tido com as miúdas… Ultimamente, quase não tenho dormido [risos]. Este disco é um culminar de histórias, é quase como se fosse um balanço de três anos de histórias, acho que é isso.

No palco, estiveram Donovan, Benjamim e o João Correia. Foto: Gonçalo Inácio

JPN: Um dos temas do álbum, o “My Religion” foi escrito no dia a seguir aos atentados de Paris. Portugal vive também um momento muito duro por causa dos incêndios. Já pensou tratar o tema numa música?
FC: É verdade, eu escrevi o “My Religion” no dia a seguir aos atentados do Bataclan, mas eu não sou aquela pessoa que anda sempre atrás de assuntos para escrever… As coisas acontecem naturalmente e, às vezes, sinto necessidade de escrever alguma coisa sobre o que está a acontecer. Na altura, lembro-me de ter acordado, pegado na guitarra e de ficar lá algum tempo a improvisar. Acabaram por sair-me aqueles acordes e aquela letra. Agora estamos a viver os incêndios e claro que é algo que me toca e mexe comigo. Se estivesse numa altura da minha vida em que tivesse mais tempo para estar tranquilo e compor, é provável que me saísse algo relacionado com isso. Confesso que não são coisas programadas, são coisas que vão acontecendo mas eu agora não tenho tempo nenhum para pegar na guitarra a não ser para ensaiar.

“Este disco está muito marcado, também, pelo nascimento das minhas duas filhas.”

JPN: Lançou o seu primeiro álbum em 2011, há seis anos. Fale-nos um pouco da sua evolução enquanto artista.
FC: No início, o meu trabalho era uma coisa muito imediata e muito acústica, quase que solitária porque compunha tudo sozinho. No primeiro EP, gravei os temas todos sozinho e, mais tarde, senti necessidade de ter um baterista, um teclista ou de fazer outros arranjos. No “Family Tree”, por exemplo, isso já aconteceu, comecei a trabalhar mais as músicas. Uma das coisas que tento fazer é nunca me repetir ou repetir fórmulas. Talvez a evolução tenha passado por aí, talvez tenha amadurecido mais as músicas, trabalhado mais as canções… Os estilos são os mesmos, mas trabalho de forma diferente, convido mais amigos para trabalharem comigo como tenho feito, por exemplo, agora com o “Double or Nothing”.

JPN: Pode explicar-nos o porquê do uso da boina?
FC: [Risos] A tal história da boina… Eu comecei a usar boina porque o meu pai usava boina. O meu pai sempre usou boina e eu lembro-me muito de o ver. Uma vez experimentei uma boina dele, gostei e acho que tem a ver comigo enquanto músico e com a minha personalidade.   

JPN: Como surgiu a ideia de convidar o Peixe e o Benjamim para estes concertos de apresentação do “Double or Nothing”?
FC: O Benjamim… Ele produziu um disco de uma banda onde eu toco que são os Tape Junk, eu conheci-o nessa altura e gostei logo muito da sua maneira de trabalhar. Fomo-nos cruzando. Entretanto, perguntei-lhe se ele não me queria ajudar na produção do “My Religion”. Acabámos por gravar o tema todo a meias em minha casa, no meu estúdio. Eu gravei a guitarra, ele gravou a bateria e uma série de percussões… Não aconteceu produzirmos o resto do disco juntos mas já que estou a apresentar esse disco, gostava de o ter comigo no palco quando estou a tocar o “My Religion”. Quanto ao Peixe, cruzei-me com ele no verão a fazer um festival que é o Guitarras ao Alto, um festival só mesmo de guitarras, e lembrei-me de o chamar já que vinha ao Porto, a cidade dele, e também porque gostei muito de tocar com ele. Demo-nos muito bem e é uma peça que faz parte do meu universo musical: as coisas mais instrumentais e acústicas.

JPN: O que ouve o Frankie Chavez?
FC: Olha, tenho ouvido muito Neil Young, há bocado estávamos a ouvir o disco dos Wilco, tenho ouvido Benjamim… Fui ao concerto em Sines do Benjamim e Barnaby Keen e adorei o concerto, assim como o disco… Sei lá, vou ouvindo um bocadinho de tudo. Há sempre coisas que vou revisitando de vez em quando, coisas que já oiço há muito tempo mas que, na volta, volto a ouvir. No outro dia estava a ouvir Kelly Joe Phelps que também adoro… Oiço um pouco de tudo.

JPN: O que podemos esperar do Frankie Chavez no futuro próximo?
FC: Agora vou fazer estes três concertos, depois vamos ter uma tour em Espanha. Vou também ter um concerto com um Peixe, eu e o Peixe continuamos a trabalhar esta nossa química… E para o ano espero ter mais concertos para continuar a apresentar o álbum.

Artigo editado por Filipa Silva