O auditório do Rivoli cedo se compôs na noite desta terça-feira. Shumon Basar, escritor e crítico cultural, levou a voz ao microfone e perguntou: “O que é o mundo hoje?” A interrogação do moderador, lançada no âmbito da conferência “Outros Mundos” do Fórum do Futuro, pode parecer estranha, ou talvez não. O que é certo é que esta pergunta pode ser analisada à luz de diferentes teorias, porque em território científico “nunca [nada] é tomado como certo”. O debate está permanentemente aberto.

Hito Steyerl, artista visual alemã, considerada em 2016 uma das 10 artistas mais influentes na arte contemporânea pela “ArtReview”, e Trevor Paglen, um geógrafo e artista norte-americano, foram convidados a responder à questão com base na experiência que têm em questões da tecnologia na contemporaneidade.

“Bubble Vision”: uma visão limitadora

Hito Steyerl é uma artista visual alemã Foto: Maria Campos

“Há pessoas que ainda acreditam que o planeta é plano.” A frase arrancou alguns risos entre a plateia, mas serviu de mote para Hito Steyerl abordar a teoria da “Bubble Vision”. Isto é, quem está dentro de uma bolha “não se apercebe do mundo lá fora, por isso, não sabe que o mundo é redondo.” Esta visão “limita horizontes, o fluxo de informação, ideias e perspetivas pessoais” e é, de certa forma, a base da tecnologia imersiva – subjacente, por exemplo, à realidade virtual ou aos vídeos 360), em que o sujeito está no centro da esfera, mas ao mesmo tempo ausente dela.

A era do Antropoceno, acredita Hito Steyerl, em que “o homem está no centro e é capaz de controlar, projetar e moldar tudo” está a chegar ao fim e a dar a vez à inteligência artificial.

Inteligência artificial: a sombra da sociedade

O impacto global do ser humano no planeta é significativo. Mas isso está a mudar. “Os seres humanos estão a delegar o poder de criar e mudar o mundo aos sistemas informáticos. O capitalismo é o mais tradicional” exemplo, concluiu Hito Steyerl. Os sistemas informáticos e a rede web são a prova de que “os humanos já estão ocupados a entregar o poder a este tipo de sistemas antecipando assim o futuro.”

Uma filosofia estudada, também, por Trevor Paglen. “Uma das coisas sobre a qual me tenho debruçado durante anos é tentar entender as infraestruturas. Como é que o ser humano tem mudado a superfície do planeta. Tradicionalmente, imaginamos algo como a deflorestação, algo territorial.” No entanto, Trevor analisa a mudança noutra perspetiva. “Olhar para os cabos da internet que circundam a Terra e formam um substrato imaterial. Ou como é que o panorama da cloud funciona.” “Entender os sistemas informáticos que estão a conectar o mundo todo”, encurta o geólogo.

Tanto um como outro concordam que “a inteligência artificial está entre nós e a crescer. Não está totalmente emersa, mas já está a transformar as nossas vidas.”

Até sábado, no Porto, o Fórum do Futuro pretende ser o palco de uma reflexão sobre questões da atualidade e fundamentais para as sociedades contemporâneas.

Artigo editado por Filipa Silva