No Rivoli, este sábado, Steven Pinker analisou as mudanças históricas da violência na sociedade. José Pacheco Pereira moderou a sessão de encerramento. Em 2018 há mais.

Steven Pinker era o homem por quem todos esperavam. Em 2004, foi considerado pela “Time” uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. É professor catedrático de Psicologia na Universidade de Harvard, nos EUA, especializado em ciências cognitivas e esteve, este sábado, no Rivoli, na companhia de José Pacheco Pereira, historiador e comentador político, para refletir sobre a história e o futuro da violência.

Antes, houve um aplauso ensurdecedor em memória de Paulo Cunha e Silva na noite de encerramento do Fórum do Futuro. Foi assim que Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, e todos os que estavam na plateia homenagearam o antigo vereador da Cultura, falecido há precisamente dois anos, considerando-o um dos responsáveis pela existência do que o edil do Porto descreveu como um momento “singular de encontro com a problematização de assuntos que não podemos ignorar” que não se vai ficar pela edição de 2017.

Rui Moreira Foto: Inês Silva Pereira

“Queremos que o Fórum continue a ser um espaço de novidade, de risco, de desconforto e sempre de aprendizagem. Em 2018, iremos propor uma reflexão sobre o impacto da antiguidade clássica na produção cultural contemporânea da arte às ciências”, declarou.

A violência, do passado ao presente

“A coisa mais fácil de dizer sobre a violência no passado é que havia imensa”. E para o provar, Steven Pinker recorreu a gráficos. No entanto, desde o início do século XX, os dados falam por si: o índice de homicídios na Europa diminuiu, a violência física diminuiu, as perseguições religiosas diminuíram, os casos de abuso físico e sexual de menores diminuíram, as guerras entre países diminuíram, a violência doméstica diminuiu, a pena de morte foi abolida, a escravidão legal não existe há já 37 anos. Os números não mentem e Steven Pinker repetiu umas quantas vezes que, desde a II Guerra Mundial, a violência está em declínio.

A pergunta que se segue é “porque é que a violência diminuiu no tempo e na magnitude?”. A resposta tentou-a dar no livro “Os Anjos Bons da Nossa Natureza” [Relógio d’Água, 2016]. O argumento para a transição não é a mudança da natureza humana com o tempo, mas a sua complexidade e evolução em diferentes direções.

Na tese do norte-americano, há “demónios” e “anjos” a protagonizarem o jogo. Do lado dos primeiros, fatores como “dominância, as pessoas querem ter poder e controlo sobre outras; vingança, as pessoas sentem que é praticamente obrigatório punir alguém; ideologia, como a violência religiosa em que as pessoas são convencidas de que é imprescindível recorrer à violência; e interesse, aproveitar-se de alguém para se atingir o que se quer”, levam as pessoas à violência.

No lado inverso da moeda, os “anjos” da natureza humana. Destacam-se “a empatia, a capacidade para sentir a dor de outras pessoas; o autocontrolo, a capacidade para controlar impulsos; normas e tabus, ou seja, crenças sobre o que uma pessoa pode ou não pode fazer, de forma a manter o respeito e a razão; a cognição, a capacidade para tratar a violência como mais um problema a ser resolvido.”

Do passado ao presente, os “anjos” retiraram poder aos “demónios”. Mas, pode esta tendência estar a inverter-se? Steven Pinker admite que o aparecimento do Daesh, a guerra civil na Ucrânia, os tiroteios em locais públicos vão nesse sentido, mas advoga que há um desfazemento entre a perceção e a realidade da violência no mundo.

Para esta sensação que o especialista diz ser desmentida pelos dados, Pinker aponta, o dedo aos media, um “meio sistematicamente errado para quem quer entender o mundo.” Para ele, os meios de comunicação social amplificam o perigo.

E fazem-no porque são os grandes fornecedores de exemplos e porque escolhem quase sempre os negativos, e é através de exemplos que as pessoas tendem a analisar a realidade. Na perspetiva de Pinker, a única forma de combater este pensamento é com estatísticas.

A violência no futuro

“Num ditado popular está escrito que os cientistas sociais não devem tentar prever o futuro, porque já têm demasiados problemas em prever o passado”, brincou Sreven Pinker. Para a seguir se arriscar numa previsão: “O que foi abolido, vai permanecer abolido e, é possível, que as guerras entre países, a violência como punição e a criminalização da homossexualidade sigam o exemplo.” Uma visão completada pelo “declínio de homicídios e da violência contra mulheres e crianças.”

Ainda assim, nem tudo é um mar de rosas. Na perspetiva do professor e psicólogo, orador convidado da sessão de encerramento do Fórum do Futuro, as formas de violência que são económicas e não provocam mortes, as guerras civis e o terrorismo podem não diminuir tão cedo. A este horizonte está associado o nome de Donald Trump, o “homem cujos ideias não contrariam estas tendências. Sem dúvida.” O Presidente dos Estados Unidos da América é um dos capítulos do livro de Steven Pinker:  “Enlightment Now: The Case for Reason, Humanism and Progress”, com publicação prevista para 2018.

Artigo editado por Filipa Silva