restauro do Mercado do Bolhão vai finalmente para a frente. O concurso público para a entrega da obra de modernização do mercado lançado pela câmara terminou e a nova previsão é de que a intervenção arranque no início do próximo ano, mas ainda há muitas incertezas quanto à situação dos comerciantes.

Alguns dos vendedores do Bolhão sentem que estão mal informados e que os seus interesses não vão ser acautelados quando forem transferidos para o mercado temporário localizado no Centro Comercial La Vie, para onde estava previsto que se mudassem em setembro último.

A estrutura temporária ficou, de facto, pronta em setembro, mas os atrasos do concurso público de adjudicação da obra de restauro impediram a mudança dos vendedores. A futura casa dos comerciantes do Bolhão possui uma área com cerca de cinco mil metros quadrados. Segundo a Câmara do Porto, o novo espaço “permitirá oferecer aos comerciantes as melhores condições logísticas, de salubridade e de venda”.

Numa visita feita há dois meses ao mercado temporário, Rui Moreira destacou as “ótimas condições” do mercado, para o qual terão aceite mudar-se 80% dos vendedores do interior do Bolhão. Contudo, são muitos os comerciantes que vão abandonar o Bolhão de vez.

O restauro e a saída definitiva de alguns comerciantes

Miguel Costa, 47 anos, presidente da Associação Bolha d’Água, organismo que representa os comerciantes do Bolhão. Foto: Natacha Rebeca Neto

Miguel Costa, Presidente da Associação Bolha D’Água, que representa os comerciantes do Mercado do Bolhão, lamenta a saída de muitos vendedores.

“Se uns não se importam de ir para o La Vie, outros não vão e não querem continuar a atividade. Outros comerciantes arranjaram outros espaços que, entretanto, a câmara, penso eu, lhes vai subsidiar nas deslocações”,  afirma o representante dos comerciantes.

A Câmara do Porto investiu numa campanha publicitária inédita no ano passado, no sentido de chamar os clientes naquele que se supunha que seria o último Natal do velho mercado.

Para a nova estrutura, a autarquia terá pensada nova iniciativa de marketing. “A Câmara diz que vai pôr um pano a toda à volta do mercado e que vai fazer uma comunicação suficientemente forte para dar a conhecer a todos que o mercado temporário se localiza no La Vie. Agora se acho que as pessoas vão lá comprar? Eu acho que não”, desabafa Miguel Costa.

O presidente da associação considera que, em matéria de localização, foram feitas várias propostas consideradas mais favoráveis para o negócio dos comerciantes, mas que nunca foram tidas em conta: “Nós, enquanto associação, fruto de reuniões que tivemos com os comerciantes, propusemos dois ou três locais que achávamos que eram mais consentâneos com os interesses dos comerciantes e a Câmara não atendeu minimamente a isso”.

Cátia Meirinhos, responsável pelo Gabinete do Bolhão, criado pela autarquia para acompanhar o processo, informou durante a visita organizada pelo município ao espaço que vai acolher provisoriamente os vendedores, que dos cem comerciantes do interior do mercado, 25 cessaram a sua atividade e 74 vão permanecer no espaço renovado. Dos 74 estão incluídos 61 vendedores, quatro restaurantes, um amolador e oito carrejões. Cátia Meirinhos acrescentou ainda que dos 40 vendedores no exterior do Bolhão, 12 vão para o mercado temporário.

Os comerciantes e a Associação Bolha d’Água revelam alguns receios no que toca à reabilitação e modernização do antigo Mercado do Bolhão. Miguel Costa (47 anos), Maria Santos (58 anos), José Azevedo (28 anos) e Rosa Gonçalves (56 anos) admitem que o espaço precisa de obras mas temem que o mercado perca a sua identidade original.

Miguel Costa destaca a singularidade do Mercado do Bolhão e da relação entre os comerciantes e os clientes e turistas, mas receia que as vendas dos comerciantes sejam afetadas com a mudança para o La Vie.

A falta de informação e um futuro incerto

A autarquia divulgou este mês a conclusão do concurso público através do seu portal informativo, mas os comerciantes afirmam que não foram informados de novas datas da transferência.

“O que sei é pela Associação, mais nada. A câmara nunca se dirigiu a nós para nos dizer nada, a não ser quando nos chamaram lá a dizer que tínhamos que ir para o La Vie ou se queríamos desistir. Quem desistisse, disseram que nos davam indemnizações”, afirma a vendedora Maria Santos que brinca mais à frente: “Está tudo em segredo de justiça”.

Contactada pelo JPN no sentido de obter mais esclarecimentos sobre as datas e o processo de transferência, a autarquia remeteu para a informação divulgada através do seu site oficial.

As obras de restauro e reabilitação do Mercado do Bolhão têm data de arranque prevista para o início do próximo ano.

Artigo editado por Filipa Silva