A Refugees Welcome Porto lançou na última quinta-feira a campanha Agasalha, com o objetivo de angariar bens como roupa, calçado, chá, café e açúcar, ou ainda produtos de higiene, que serão enviados para Lesbos, na Grécia, ilha que acolhe vários campos de refugiados, oriundos sobretudo do Médio Oriente e de África.

Até 15 de janeiro de 2018 vai ser possível deixar nos pontos de recolha do Grande Porto “todo o tipo de bens que as pessoas queiram doar”, explica ao JPN Susana Costa, responsável pela Refugees Welcome Porto.

Os interessados podem também constituir-se como ponto de recolha, tendo para isso de o solicitar à organização.

Criado em 2014 na Alemanha, o projeto Refugees Welcome tinha por base um princípio simples: a partilha de casa. “As pessoas que o criaram na Alemanha tinham um quarto livre, acolheram um refugiado e perceberam que este tipo de solução era ótimo não só ao nível da resolução do problema da habitação, mas também da integração das pessoas refugiadas na comunidade”, conta Susana Costa. Criou-se, então, uma plataforma onde as pessoas interessadas em acolher um refugiado em sua casa se podiam inscrever.

Dois anos depois, nasceu a versão portuguesa do projeto com sede em Lisboa e uma equipa no Porto. “Somos um grupo informal de jovens”, sublinha Susana. Este grupo é constituído por 20 voluntários, mas até ao final do ano, contam ter “à volta de 30 pessoas”. Para além do modelo de habitação, a equipa apresenta um leque de outras atividades como “aulas de português” bem como iniciativas de promoção cultural e de sensibilização.

Uma das grandes atividades organizadas pelos voluntários é o COM ou convívio multicultural que visa “juntar pessoas refugiadas, as próprias instituições, voluntários que trabalham com essas instituições e também a comunidade em geral”. O ambiente é diversificado, de partilha de “culturas, música e comida”, descreve Susana Costa.

No primeiro sábado de cada mês, a equipa organiza também um ciclo de cinema em que mostram “filmes do Médio Oriente e de África e, no fim, há um debate com especialistas sobre o filme e sobre a situação que foi descrita no filme”. Susana considera que esta atividade proporciona “mais conhecimento sobre a história contemporânea e sobre os diversos motivos que levam alguém a sair do seu país”.

Processo de acolhimento dos refugiados

“Antes do famoso boom de refugiados que tanto se falou a partir de 2014″, o Conselho Português para os Refugiados (CPR) era o principal promotor de acolhimento de pessoas refugiadas. Com o enorme crescimento de refugiados, “que se agrupavam principalmente na Grécia e na Itália, a União Europeia acabou por ter que criar uma solução para que estes países não ficassem assoberbados de pessoas”, explica Susana Costa. Criou-se, então, um programa de recolocação de emergência através do qual se atribuiram quotas aos diferentes países europeus para acolherem estes refugiados.

Portugal assumiu o compromisso de acolher cerca de três mil pessoas através deste mecanismo. A sociedade civil organizou-se e criou a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR). A partir do momento que se sabe que pessoas refugiadas vêm para Portugal, “têm que ser obrigatoriamente inseridas numa instituição de apoio pertencente à PAR”.

“A obrigação da instituição que acolhe é providenciar habitação, acesso à saúde, à educação, ao emprego e à língua durante dois anos”, explica a responsável. Assim, durante este tempo, a instituição terá que trabalhar com a família que acolhe de modo que esta consiga “estar independente para prosseguir uma vida normal no país de acolhimento após os dois anos”.

O objetivo do país está ainda muito àquem daquele a que se comprometeu: até julho deste ano terão chegado ao país pouco mais de 1.400 refugiados – cerca de 70% vindo da Grécia – sendo que um terço destes refugiados já terão deixado entretanto o país.

Integração dos refugiados: boa ou má?

Susana Costa considera que em Portugal, “as pessoas têm uma abertura bastante grande e de entreajuda para com os refugiados”. No entanto, “há certas coisas em que as pessoas por si só não conseguem ajudar”, como por exemplo, obter os documentos necessários para permanecer no país ou arranjar emprego. “A integração [dos refugiados] é mais complicada” em termos burocráticos.

Na opinião desta voluntária, há mais sensibilidade do que informação, mesmo entre os técnicos a quem cabem mais competências nesta matéria.

A Refugees Welcome Portugal tem sede em Lisboa. Ajuda é o principal lema deste projeto. No Porto, Susana diz que já contactaram com “mais de 30 pessoas”. Em Lisboa, já foram feitos “cerca de 20 matchings”, ou seja, já foi possível “colocar 20 pessoas a partilhar casa”.

“Cá no Porto, há mais pessoas ao abrigo da PAR, ou seja, há mais famílias. Em Lisboa, como também lá está o CPR, há mais pessoas a pedir asilo do que propriamente cá no Porto”, explica.

Para Susana, o projeto que integra é “necessário”. Funcionando apenas à base de voluntários, o esforço é “muito acrescido”, uma vez que não há “nenhum apoio”. Ainda assim, o facto de terem reunido 20 voluntários num “projeto criado do zero”, “é muito bom”. “Acho que é um projeto que ainda vai dar muito que falar”, remata.

Artigo editado por Filipa Silva