O Besiktas Park esteve, esta terça-feira, ensurdecedor. Nas bancadas, a coreografia dos turcos intimidava. O FC Porto não se deixou levar em cantigas. Coreografou um empate (1-1) e reservou um lugar na Liga Europa sem medos nem dores nos ouvidos.

A Turquia congela quem lá vai. Istambul é um pesadelo sonoro. O Besiktas é apelidado de “águia negra” e não é por acaso. Em condições extremas, só convicções vincadas asseguram o sucesso. Assim pensou Felipe quando apontou o primeiro golo do FC Porto. Talisca não quis ficar para trás e, antes do intervalo, empatou para o Besiktas.

Numa cidade que pertence a dois continentes, um empate significou duas ‘vitórias’: a dos bicampeões turcos que escreveram uma nova página na sua história ao garantir o apuramento para os oitavos de final da Liga milionária, e a de Sérgio Conceição e dos seus que reservaram, pelo menos, um lugar na Liga Europa para o FC Porto. Reserva que pode ser cancelada caso o sonho da Champions se torne realidade na sexta e última jornada. É sempre tudo para a última, à boa moda portuguesa.

Correr, correr, correr

O apito inicial no Besiktas Park não foi igual a tantos outros. Além de ser dia de Liga dos Campeões, as “águias negras” nas bancadas de Istambul aumentavam os decibéis à medida que o cronómetro andava.

Dentro das quatro linhas, a intensidade e a pressão alta caracterizaram os primeiros toques na bola. Os de Brahimi foram os mais criativos. Desenvencilharam-no quase sempre da marcação. Uma dança com a bola para encontrar espaços mais ofensivos. Os de Quaresma trocaram as voltas à defesa portista um bom par de vezes. Os de Arslan e Pepe para Talisca e Tosun eram quase sempre longos. Uma opção que se foi repetindo. Aliás, foi daqui que surgiu o primeiro lance de perigo do Besiktas. Ajudou que a armada nortenha estivesse a errar na primeira fase de construção de jogo, muito por culpa da pressão intensa dos turcos.

Babel materializou a superioridade turca num remate de meia distância, em arco, bonito. José Sá não desprendeu a atenção da bola e voou para a defesa. Os punhos afastaram o perigo pela linha final, onde a uns metros de distância estavam cerca de 36 mil adeptos a entoar um grito de guerra.

Os turcos não brincam em serviço. Mas, os portugueses também não. Alex Telles converte um livre ensaiado à direita. O cruzamento rasteiro de Ricardo Pereira encontrou em Felipe quem lhe desse um final feliz. Era a estreia do brasileiro a marcar na Champions. O golo permitiu uma vantagem necessária e importante aos “dragões”.

Ainda assim, já se sabe que a margem mínima não é para brincadeiras. Cara a cara com José Sá, Quaresma tentou o golo, mas o guardião acabou por levar a melhor. O mesmo não aconteceu com o rasgo de génio de Tosun. O camisola 23 roubou espaço a Felipe, com uma majestosa bola picada, e cruzou para Talisca carimbar o empate na única vez em que Sérgio Oliveira não foi a sua sombra.

Segunda parte sem novidades no resultado

Um reinício intenso do Besiktas – culpemos a substituição de Tosic por Medel, de um central por um chileno com inspirações de médio. O controlo da posse de bola e a estrutura tática ofensiva dos homens da casa intensificou-se e complicava as ideias do FC Porto na saída organizada com bola, porque não a tinha. Estava nos arrojados pés de Babel. As ambições de golo do holandês esbarraram com a trave de Sá. Os punhos cerrados de Şenol Güneş, o treinador da formação turca, eram a expressão de frustração que andava pelo banco do Besiktas.

O encontro denunciava estar a ser de sentido único. É Quaresma quem o prova. O autor das trivelas ultrapassa Maxi com classe e remata colocado para o canto superior esquerdo da baliza do internacional português José Sá. A bola acabou por ultrapassar as linhas de jogo.

O tempo passou e a pressão baixou. Ninguém é de ferro. O Besiktas esmoreceu. O FC Porto aumentou a construção e estabilizou o bloco ofensivo do Besiktas. Queria mostrar que ainda podia ter uma palavra a dizer. Não que se ouvisse no meio da coreografia sincronizada dos turcos com os cachecóis. Os realizadores deste espetáculo no Besiktas Park.

Na quinta jornada do Grupo G da Liga dos Campeões, o Besiktas assegurou a passagem aos oitavos de final, pela primeira vez na história, com 11 pontos. O Porto, com sete, mantém-se firme na corrida e só depende de si, sabendo que as contas para a Liga Europa já foram vistas e aprovadas.

A luta vai ser contra o RB Leipzig que, esta terça-feira, impôs uma pesada derrota ao Mónaco por 4-1, no terreno do campeão francês. A equipa de Leonardo Jardim está mesmo afastada da Europa pelo que a deslocação ao Dragão, a 6 de dezembro, para o fecho do grupo G será para cumprir calendário.

“Mentiria se não dissesse que me deixa satisfeito este resultado”

Para o treinador do FC Porto, “nem o mais otimista” esperava que a equipa dependesse apenas de si para, na última jornada, chegar aos oitavos de final. Na flash interview, Sérgio Conceição explicou que o sucesso esteve na consistência dos “dragões” em campo. “Fizemos um jogo consistente principalmente na primeira parte. De grande qualidade. Os jogadores interpretaram muito bem aquilo que se queria”, declarou.

Apesar do “resultado se ajustar” ao filme do encontro, o técnico portista acredita que a equipa podia ter sido “ainda ser mais feliz” se tivesse sido “mais eficaz em momentos-chave como o do Aboubakar ou o do Ricardo”.

Artigo editado por Filipa Silva