Rui Moreira visitou o Centro de Acolhimento de Emergência para pessoas sem abrigo, que funciona nas antigas instalações do Hospital Joaquim Urbano desde setembro. Há tempo limite de permanência, mas o período pode ser renovado.

“Uma resposta diferenciada relativamente às tradicionais”. É assim que Fernando Paulo, vereador da Habitação e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto, caracteriza o Centro de Acolhimento de Emergência para pessoas em situação de sem abrigo que a autarquia tem instalado, desde setembro, no antigo Hospital Joaquim Urbano.

O espaço agora renovado foi alvo de uma visita, esta quarta-feira, que contou com a participação de Rui Moreira, presidente da CMP, o vereador Fernando Paulo, do diretor do Centro Hospitalar do Porto, Paulo Barbosa e a diretora adjunta do Centro Distrital do Porto da Segurança Social, Rosário Loureiro. Sónia Veloso, a enfermeira-chefe, conduziu os presentes.

O projeto envolve vários parceiros sociais. Desde logo a SAOM [Serviços de Assistência Organizações de Maria] que “tem vindo a sinalizar e a trabalhar com as equipas de rua” e “tem feito também um levantamento das pessoas que estão em situação de sem abrigo na cidade do Porto”.

Utentes satisfeitos

Francisco Lopes (nome fictício) está no Porto “há coisa de um ano”. Veio da Suíça, por questões pessoais e, apesar de ter casa em Portugal, ficou na rua. “Tinha onde ficar quando voltei, mas tinha vergonha”. Depois de meio ano na rua, foi para um albergue, mas teve de sair.

Há três semanas chegou ao Centro de Acolhimento de Emergência. Segundo o utente, o equipamento tem todas as condições necessárias para ele. Durante o dia, não sai, mas gosta de restaurar móveis para se entreter.

“Não melhoraria nada, tem muitas condições aqui”, conta ao JPN.

Luísa Oliveira tem 44 anos e veio de Bragança. As drogas fizeram com que fugisse da terra natal. “Não queria dar desgostos à minha mãe”, conta. Esteve “muitos anos” na rua. “Dormia nas paragens das camionetas, dormia nos jardins, dormia em qualquer lado”, conta.

Foi na rua que conheceu o marido, que também é agora utente do centro. Está lá há um mês. No dia a dia, gosta de fazer atividades lúdicas, mas também de dar uma volta.

“Está tudo bem aqui, têm condições para nós”, disse, acrescentando que não melhoraria nada.

O Centro de Acolhimento de Emergência acolhe neste momento 15 pessoas. Está lotado. O desafio, segundo Fernando Paulo, é consolidar o projeto e alarga-lo para 35 utentes. “Iremos alargando conforme a necessidade e também com a capacidade em ir libertando as pessoas que vão passando por aqui”, acrescentou o vereador.

Com o objetivo de aumentar a resposta social, foi anunciada também pela autarquia uma parceria com a Benéfica e Previdente, que “disponibiliza dois apartamentos para os utentes que se autonomizam”.  Além disso, estão também em conversações com a Santa Casa da Misericórdia do Porto. O vereador lembrou que este é um trabalho construído no dia a dia e que o “empenho dos parceiros e da rede social” têm resultado em “vontade, entusiasmo e o ânimo de fazer mais”.

O projeto representa um investimento de 75 mil euros da CMP para meio ano de funcionamento.

O Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse que esta é uma “questão de solidariedade fundamental”. “Era importante haver uma estratégia nacional para que estas pessoas que estão em dificuldades não tenham de vir à procura nas cidades de respostas que, se calhar, podiam encontrar em zonas periféricas”, continuou o presidente.

Pelo novo Centro de Acolhimento, já passaram 21 utentes, sendo que, dos seis que saíram, dois saíram para respostas habitacionais, dois conseguiram contratos de trabalho e um não quis ficar no centro.

Sónia Veloso, enfermeira chefe, informa que o tempo limite de alojamento é de três meses. Contudo, caso não se consiga arranjar uma resposta ao fim desse período, o alojamento é renovado.

O equipamento possui quartos, gabinete médico, um sala de trabalhos multidisciplinar, lavandaria, casas de banho hospitalares, copa e um refeitório.

O Centro de Acolhimento de Emergência é visto pela CMP como um “projeto-piloto” e está inserido na Estratégia Local de Apoio e Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo que a autarquia aprovou em julho de 2016. Além deste equipamento, está a funcionar um restaurante solidário na Batalha e o plano é abrir mais dois em meados do próximo ano.

Artigo editado por Filipa Silva