A chuva e o frio eram tudo menos convidativos ao futebol. Os poucos milhares que se sentaram nas bancadas do Estádio do Bessa, esta quarta-feira, assistiram a um encontro com vários momentos chave. Ora de superioridade para o SC Braga – concretamente na pressão sobre a primeira fase de construção do Boavista e nos golos de Danilo, André Horta e Paulinho. Ora de superioridade para o Boavista, que durante o jogo cresceu em ritmo, ainda forçou o empate, mas acabou por soçobrar nos últimos 15 minutos do encontro. 1-3 foi o resultado final a contar para a jornada 16 do campeonato.

(In)eficácia boavisteira

Antes do apito inicial de Jorge Sousa, nota para o minuto de silêncio emocionado em homenagem a Eduardo Ferreira. “Edu”, jovem promessa do futebol axadrezado, faleceu em finais de dezembro, aos 20 anos, vítima de doença oncológica descoberta há pouco mais de um ano.

Iniciado o jogo, os olhos concentraram-se na bola e a pressão bracarense traduziu-se em três remates à figura de Vagner. À quarta, foi de vez. Canto de Jefferson e o cabeceamento picado de Danilo Silva acabou por inaugurar o marcador para os ‘arsenalistas’.

Da euforia à tristeza não foi preciso esperar muito. Num contra-ataque dos homens da casa, Ricardo Ferreira lesionou-se no joelho direito. Entrou a maca e o central bracarense acabou substituído. As combinações estratégicas na saída de bola do Boavista encontravam sempre um corte pela frente. Aliás, Rochinha protagonizou uma das melhores oportunidades para os axadrezados empatarem o encontro. O remate acabou nas mãos de Matheus.

Aos 29 minutos, os cânticos mudaram, os sorrisos encheram-se de saudades e o estádio de luzes e isqueiros em memória de Eduardo Ferreira. “Allez Edu, allez”, ouviu-se no Bessa.

O quarto de hora seguinte não trouxe novidades, nem oportunidades flagrantes de golo. Ainda assim, nota para o cruzamento de Kuca que não encontrou ninguém capaz de lhe dar a direção certa e para o remate de Vítor Bruno que viu Matheus segurar a bola. O Braga encolhia os ombros perante um Boavista um tanto arrojado.

Seis cartões amarelos, dois vermelhos e dois golos

O Boavista saiu e entrou nas quatro linhas mais senhor do jogo. Kuca mirou a baliza, rematou em arco e nem a flexibilidade de Matheus segurou o golo do empate. A igualdade estava reposta aos 50 minutos de jogo, mas Rochinha queria mais. Encontrou espaço na zona central e rematou. A bola não esteve longe do poste direito da baliza do guardião bracarense.

Abel Ferreira limava posições e o Braga recuperava o ritmo imposto pelos axadrezados. Raul Silva, comprometido em não deixar Rochinha isolado na fronteira com a área, derrubou-o em falta. O defesa acumulou assim dois amarelos e foi expulso. A bola foi colocada a centímetros do limite da grande área para Carraça converter o livre. Matheus não segurou à primeira e à segunda derrubou David Simão. Jorge Sousa consultou o vídeo-árbitro e decidiu pelo penálti a favor do Boavista. Fábio Espinho falhou da marca de sete metros e a oportunidade de desfazer o empate. Competência de Matheus que estava no sítio certo para desviar a bola.

O treinador dos ‘arsenalistas’ não encontrava maneira de se superiorizar no resultado e em campo. As soluções de nome Paulinho e André Horta haviam de sair ao mesmo tempo do banco de suplentes para resolver a partida.

Não muito tempo depois de pisar o relvado, Paulinho presenteou a equipa com um golo que a adiantava no marcador (79′). Dez minutos depois, foi a vez de André Horta consolidar a vitória dos visitantes com um golo resultante de um remate em arco com a bola a entrar junto ao poste da baliza Vagner.

O Boavista mantém as duas dezenas de pontos. O SC Braga regressa a casa com mais três e encurta distâncias para Benfica e Sporting face ao empate na capital no jogo decorrido também na noite desta quarta-feira. Já o FC Porto levou a melhor sobre o Feirense, com 1-2 como resultado final, e conquistou terreno na liderança do campeonato.

“A expressão resultado pesado é suavizar aquilo que, na verdade, foi o jogo.”

Jorge Simão esteve “a tentar lembrar de um outro jogo” em que o Boavista tivesse “manifestado tanta superioridade frente ao adversário” sem lograr vencer. “Não me recordo”, disse aos jornalistas, porque se houve uma palavra que para o técnico descreve o encontro essa foi “amasso”. “Nós demos um amasso ao nosso adversário”, afirmou.

No entanto, o “amasso” não chegou para carimbar a vitória e “o que fica são zero pontos somados” num jogo em que o penálti “acaba por tornar-se o momento-chave”, na opinião de Jorge Simão.

Para o técnico do Boavista, “a expressão resultado pesado é suavizar aquilo que, na verdade, foi o jogo”. “O que importa realmente é que foi uma exibição esmagadora que em condições normais ganhava o jogo”, reforçou.

“Esta é uma equipa que joga para ganhar. Não joga para não perder”

“São três pontos. É esse o significado que a vitória tem”. E com um esclarecimento sem rodeios, Abel Ferreira deu início à conferência de imprensa.

O técnico bracarense sublinhou que apesar da equipa ter entrado em campo “a comandar e a assumir” teve “medo de ganhar o jogo”, o que se traduziu em abdicar daquilo que são os “princípios” e a “identidade” da equipa: “comandar e controlar o jogo através da posse de bola.”

Contudo, reconhece que os jogadores foram felizes em “encontrar espaços de um lado, do outro, por dentro, por fora. Capazes de criar dificuldades ao adversário e de ganhar metros até último terço”, porque “esta é uma equipa que joga para ganhar. Não joga para não perder.”

Artigo editado por Filipa Silva