“Frequentemente, nas zonas metropolitanas há tantos tarifários que torna difícil às pessoas perceberem que tarifário mais lhes convém”. A ideia, deixada pelo secretário de Estado do Ambiente no Porto, esta segunda-feira, é-lhe provavelmente familiar, caso use ou já tenha usado transportes públicos em Portugal.

Com o objetivo de simplificar a utilização destes transportes na Invicta, os TIP-Transportes Intermodais do Porto desenvolveram o ANDA, um novo sistema de bilhética desmaterializada que quer facilitar a vida dos utentes.

A primeira demonstração pública decorreu esta segunda-feira de manhã, depois de assinados os contratos com as empresas que vão projetar as novas linhas de metro da cidade.

Os responsáveis pelo desenvolvimento do sistema levaram políticos e jornalistas a fazer uma viagem de teste pela cidade que envolveu metro, autocarro e comboio. Eis o que ficamos a saber.

O que é o ANDA?

O ANDA é um sistema de bilhética baseado numa aplicação móvel. Foi desenvolvido pelos TIP-Transportes Intermodais do Porto, em colaboração com os operadores de transporte e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Destina-se aos utilizadores de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto.

Representa um investimento que ronda os dois milhões de euros, totalmente suportados pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente.

Para que serve?

Serve para transformar o telemóvel no nosso bilhete de metro, autocarro ou comboio. Por outras palavras, com a aplicação instalada no smartphone, o equipamento pode ser validado tal e qual um Andante. Ao colocá-lo junto ao validador, a nossa viagem está iniciada.

Se não houver quebras da aplicação no percurso, o utilizador poderá fazer toda a viagem, mesmo que por múltiplos transportes, sem se voltar a preocupar com validações.

Nesta fase, ainda de testes, essas quebras ainda acontecem com alguns equipamentos. A solução é validar a viagem sempre que entrar num novo meio de transporte.

Como funciona?

Primeiro é preciso descarregar a aplicação. Depois, criar uma conta pessoal à qual teremos de associar um modo de pagamento – cartão de crédito, débito, MBWay, etc. O próximo passo será fazer login na aplicação e garantir que estão ligados os dados, o Bluetooth e o NFC [Near Field Communication] antes de iniciar a viagem.

Feita a primeira validação com o telemóvel, inicia-se a viagem e podemos ir acompanhando na aplicação o nosso percurso, os custos associados, o histórico de deslocações, etc.

Através de centenas de beacons – cerca de 1400 já estão instalados, mas a meta é chegar aos dois mil -, instalados nos veículos e nos validadores, a aplicação traça o nosso rasto.

No final da viagem, quando saímos do veículo, a aplicação vai dar por encerrada a viagem ao fim de alguns minutos.

O algoritmo desenvolvido para o sistema vai então “apresentar a solução tarifária mais económica e vantajosa para o cliente”, segundo o TIP.

A conta chega a casa ao fim do mês.

Em que situações se pode poupar?

Na demonstração que teve lugar esta segunda-feira foi dado um exemplo. Imagine que se desloca diariamente entre a Senhora da Hora e o Bolhão. A esta deslocação regular, junte uma ida ao Hospital de São João para efetuar um tratamento em quatro sábados.

De acordo com as contas do TIP, atualmente o cliente teria de adquirir um passe mensal para as zonas C1 e C2 no valor de 30,10 euros. A isto acresceriam oito viagens Andante Z2 para usar aos sábados. No total, gastaria 39,70 euros.

Com o sistema ANDA, o cliente paga ao fim do mês, de acordo com as deslocações que realizou. No caso vertente, o sistema calcularia que sairia mais vantajoso, naquele mês em específico, a compra de uma assinatura mensal Z3, pelo valor de 36 euros.

Teria proporcionado uma poupança de 3,70 euros.

O Andante físico vai acabar?

Não. O ANDA é um sistema de bilhética alternativo, disponível para quem queira e possua um telemóvel com as características necessárias ao funcionamento da aplicação.

Que caraterísticas são essas?

Para já, a aplicação só corre em telemóveis com sistema operativo Android de versão 5.0 ou superior. É ainda obrigatório que o equipamento possua comunicações NFC.

Os iPhones ou o sistema iOS não entram para já neste jogo. Não que os TIP não tenham tentado, mas a empresa da maçã não parece disposta a abrir portas no seu sistema de pagamento.

De acordo com dados recolhidos a propósito do projeto MOVE, a Metro do Porto estima que cerca de 70% dos seus clientes use sistema Andriod.

O que acham os voluntários que estão a usar o sistema na fase de testes?

Sofia Tojal e Emília Gomes participam como voluntárias nos testes.

Sofia Tojal e Emília Gomes participam como voluntárias nos testes. Foto: Filipa Silva

Gostam. Sofia Tojal, de 20 anos, estudante de Bioengenharia na FEUP, quis ser parte do projeto assim que recebeu o email da faculdade a procurar voluntários para o projeto. Diariamente viaja de Gaia para o Pólo Universitário da Asprela e participa há cerca de um ano nos testes.

Quanto às vantagens, é pronta: “Primeiro, em relação ao preço porque vou pagar apenas aquilo que utilizo. Depois não tenho de estar nas filas de espera para pagar. Faço-o pelo telemóvel. E se sair fora da minha linha, não tenho de me preocupar com o título que tenho de comprar”, referiu.

Emília Gomes, também ela voluntária e trabalhadora junto ao Hospital de São João, concorda. O sistema é “mais vantajoso e menos stressante” além de ser “menos um cartão na carteira”.

O ANDA já pode ser usado?

Ainda não. Em março, os testes devem terminar e os TIP prometem ter a aplicação disponível para descarga a partir de abril. Para já só na Google Play.

Nessa altura, o sistema não vai estar disponível em todos os operadores da Área Metropolitana do Porto. Segundo explicou ao JPN o engenheiro José Jesus, coordenador do projeto, no arranque, o sistema englobará a Metro do Porto, STCP, CP e a Espírito Santo. Mas o alargamento a todos os operadores deverá ser feito “logo a seguir”.