O instrumento de avaliação foi criado em 2004, mas sofreu alterações. Agora, todos os semestres, os alunos da Universidade do Porto (UP) são convidados a responder ao Inquérito Pedagógico, para aferir a perceção que têm em relação à qualidade da formação oferecida pela instituição. A Unidade Curricular (UC), o Estudante e o Docente são os três alvos que constam na atual versão do Inquérito Pedagógico da Universidade do Porto (IPUP).

Desde que foram criados, os inquéritos têm como principais objetivos desenvolver um processo avaliativo de aplicação abrangente, colmatando a sua falta e mobilizando estudantes e docentes, envolvendo-os no “processo de conceção dos inquéritos e na análise dos seus resultados”, lê-se no site da Inovação Pedagógica.

Mas, para muitos estudantes, este processo ainda é algo ambíguo: desconhecem, por exemplo, o percurso feito pelos inquéritos desde que são respondidos, quem os analisa e para que servem na prática. O JPN procurou clarificar estas e outras questões.

1. Qual é o percurso dos Inquéritos Pedagógicos?

No final de cada semestre, o sistema informático da Universidade do Porto – o Sigarra – sugere o preenchimento dos IPUP a todos os estudantes da UP. Logo aí, os alunos podem optar por responder, ou não.

No caso de não responderem, podem justificar o motivo. Se responderem, a informação entra numa base de dados e a partir daí são geradas estatísticas.

Depois disto, a UP envia alguns dos resultados, os mais globais, para cada unidade orgânica.

Importa recordar que as respostas dos estudantes são anónimas. De acordo com Fernando Remião, responsável pelo Gabinete de Inovação Pedagógica da UP, a resposta aos IPUP é como um voto: “vai para uma base de dados e depois não é possível ligar nunca a informação que caiu nessa base de dados com a pessoa que respondeu”.

2. Quem tem acesso às respostas dos Inquéritos Pedagógicos?

O acesso às respostas dos Inquéritos Pedagógicos é diferenciado. O Conselho Coordenador do Modelo Educativo da Universidade do Porto (CCMEUP) é o órgão responsável pela decisão dos vários níveis de acesso às respostas. O Conselho é composto, entre outros, pelo conselho científico e pelo conselho pedagógico de cada unidade orgânica; bem como por um representante dos estudantes, designado pelas respetivas associações de estudantes.

Marina Lemos, professora na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e uma das criadoras do IPUP, explica que quer o diretor da faculdade, quer o conselho pedagógico, têm acesso a toda a informação; os diretores de curso têm acesso a toda a informação sobre o seu curso.

A professora acrescenta ainda que o diretor de curso tem também acesso ao espaço para comentário livre, tal como o docente da UC. No entanto, não é possível aos docentes terem acesso à informação de outras unidades curriculares nas quais não lecionam: “o docente não tem acesso aos resultados do colega do lado, a não ser que faça parte da mesma UC”.

Também os estudantes têm acesso, disponibilizado através do Sigarra, às estatísticas globais das unidades curriculares em que estão inscritos. Na FPCEUP, de acordo com Marina Lemos, os alunos recebem um email dinâmico ou são informados pela associação de estudantes quando os primeiros resultados, os mais globais, chegam à faculdade.

3. Obtidas as estatísticas, muda alguma coisa?

Aos olhos dos alunos, os inquéritos são relevantes. Dinis Loyens, estudante do quarto ano de Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), considera que “é importante dar feedback de como as UC estão a correr e se estão a ser eficazes para preparar os estudantes”. Mas muitos não acreditam nos seus efeitos práticos. Ana Maia, estudante de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), acredita que “sendo uma voz no meio de duzentas, uma opinião isolada não tem grande importância”.

A perceção generalizada é a de que poucos são os casos de repercussões despoletadas pelos Inquéritos Pedagógicos.

Sobre este assunto, Fernando Remião clarifica que “não há uma orientação direta da Reitoria – cada faculdade tem procedimentos diferentes”.

Assim sendo, em algumas faculdades “os professores que têm resultados excelentes são, de alguma forma, felicitados: são entregues diplomas ou enviada uma informação geral a felicitar os docentes”, explica o professor. Em relação aos docentes que obtêm resultados negativos, “há faculdades onde os conselhos pedagógicos falam com esses professores, alertam-nos para a situação e tentam ajudá-los. Temos alguns casos de diretores de curso que pedem cursos de formação pedagógica de forma a dar resposta a algumas necessidades que têm internamente. Em algumas situações mais extremas, os professores foram dispensados”.

4. Quantos são os alunos que respondem aos inquéritos?

As taxas de preenchimento dos Inquéritos Pedagógicos dos últimos quatro anos estão entre os 20 e os 40%, segundo os dados da análise geral de 2016/2017.  A perceção dos alunos é de que poucos são os que respondem: “tenho noção de que os meus colegas só respondem aos Inquéritos Pedagógicos para reportarem situações com que não concordam, o que acaba por ser insuficiente porque as unidades curriculares que, para nós, funcionam bem, não são avaliadas”, diz Ana Luísa Pinto, finalista de Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

Marina Lemos tem uma ideia diferente: “Na FPCEUP temos tido taxas bastante satisfatórias, à volta dos 40%, o que é muitíssimo bom em termos daquilo que se sabe da literatura na Europa”.

Fernando Remião concorda: “As taxas não são baixas. Há um certo mito urbano em relação a isso. Os alunos respondem aos inquéritos em função da capacidade que têm para responder aos inquéritos. E quem é que o faz? Quem vai às aulas. Porque esse é o estudante que percebe que acompanhou o suficiente a UC para conseguir ter uma opinião sobre ela”.

O responsável pelo Gabinete de Inovação Pedagógica da UP sublinha: “se retirarmos esses alunos [os que desistem ou não vão às aulas], estamos a ter taxas de resposta provavelmente acima dos 50%. Portanto, há esse mito, que eu acho que é criado até, de certa forma, para descredibilizar o processo”, afirma.

5. Há uma taxa de preenchimento mínima para que os resultados dos inquéritos sejam analisados?

Há. Para que os resultados sejam contabilizados, os Inquéritos Pedagógicos têm que ser respondidos por 20% dos alunos inscritos numa Unidade Curricular. E esta é uma preocupação para os alunos: “como pouca gente responde aos inquéritos as estatísticas nunca são consideradas significativas”, lamenta Dinis Loyens, do ICBAS.

Além disso, se uma UC tiver menos de dez alunos inscritos, o sistema também não contabiliza as respostas. Isto acontece em UC do tipo tutorial, “onde há cinco ou seis alunos e aí facilmente se poderia identificar o aluno”, explica Marina Lemos.

Artigo editado por Filipa Silva