Houve menos alunos a desistir dos estudos no último ano, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). O Ministério da Educação anunciou, em comunicado, que em 2017 a taxa de abandono escolar foi de 12,6%, o que significa uma descida de 1,4 pontos percentuais face ao valor registado em 2016 (14%). Este é o valor mais baixo registado em 26 anos.

O Governo justificou a descida da taxa com a implementação de “medidas estruturais que contribuem para a melhoria das aprendizagens para todos os alunos e da igualdade de oportunidades e inclusão educativa”.

As medidas destacadas pela nota são a “implementação do Programa Nacional de Promoção de Sucesso Escolar”, “o alargamento da autonomia das escolas”, a constituição de tutorias para os alunos em risco de abandonar os estudos, a convergência entre as autarquias e as escolas, a “forte articulação com o mercado de trabalho” e “o reforço e valorização do ensino profissional”.

Carlinda Leite, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), diz ao JPN que “as políticas que o ministério da Educação tem vindo a desenvolver e o grande envolvimento das escolas e professores” são o fator determinante.

“É perverso e negativo associar-se o ensino profissional a um ensino de segunda escolha”

A investigadora reitera que “as medidas políticas associadas aos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) têm tido um papel extremamente importante na redução do abandono escolar”.

No entanto, a especialista considera que, apesar de positiva, a descida poderia ser maior. “Significativo era não haver abandono. Apesar de tudo, ainda tem de se investir nesta situação para que o abandono não exista”, explica a investigadora.

Sobre o que está por fazer, a professora de políticas educacionais e curriculares diz que “devem existir profissionais educacionais, além dos professores, de intervenção social” para fazer a mediação com famílias e as comunidades. “Embora nos programas TEIP já existam possibilidades de recrutamento de alguns profissionais que façam este apoio, ainda é insuficiente”, sustenta.

Para a investigadora, a taxa de abandono escolar está intimamente ligada com “situações de pobreza”. Noutro plano, Carlinda Leite defende que ainda existe um estigma relacionado com os alunos que preferem seguir um curso profissional. “É perverso e negativo associar-se o ensino profissional a um ensino de segunda escolha ou que é para aqueles alunos que não têm capacidade para seguir um percurso escolar que os leve ao ensino superior”, sublinha.

“O ensino profissional, pelas ofertas que têm surgido, constitui uma oportunidade para alguns alunos que pretendem construir um projeto de vida mais relacionado com atividades práticas”, conclui a investigadora da FPCEUP.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro