O Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência 2016, apresentado esta quarta-feira por João Goulão – diretor geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) – na Assembleia da República, demonstra um aumento significativo do consumo de canábis nas mulheres, em particular, e nos adultos acima dos 45 anos, no geral.

Outros dados alarmantes relacionam-se com o facto de quem estar a consumir canábis estar a fazê-lo de forma muito mais frequente e com o aumento do número de pessoas a conduzir sobre o efeito de álcool. Portugal continua, contudo, abaixo dos valores médios europeus no que diz respeito ao consumo recente de canábis, cocaína e ecstasy.

Manuel Cardoso, subdiretor geral do SICAD, explica ao JPN que não há nenhum estudo específico para perceber o que pode estar na origem do aumento do consumo nas mulheres.

No entanto, o subdiretor do serviço pensa que a “evolução civilizacional, a aproximação das questões de género” que, entre outras áreas, tem influência nos comportamentos, pode ser uma explicação. Manuel Cardoso menciona, contudo, a existência de “vários estudos internacionais que demonstram que as mulheres de um nível socioeconómico mais elevado tendem a ter mais consumos de risco”.

O subdiretor geral do SICAD refere que nos homens a situação é diferente e que “há tendência para que estes consumam menos, com o aumento do nível socioeconómico”.

Sobre o aumento dos consumos nos mais velhos, Manuel Cardoso diz que podem existir duas explicações. Uma relaciona-se com a possibilidade deste aumento estar ainda relacionado “com a situação de crise e algumas dificuldades que as pessoas sentiram. Portanto, consumiam mais numa tentativa de colmatar algum sofrimento ou mágoa”. Outra explicação pode dever-se ao facto de na época do estudo [2016] haver “uma fase de retoma, relacionada com o alívio da pressão da crise, que gerou uma sensação de festa, normalmente associada ao consumo”.

Questionado sobre as medidas específicas para atuar junto das populações femininas e mais velhas, Manuel Cardoso explica que, no plano nacional, não há nenhum ponto específico para as questões de género, nem alusivo aos mais velhos, nomeadamente na sua relação com o álcool e defende que estes grupos devem ser incluídos numa estratégia de sensibilização.

Por outro lado, na opinião de Manuel Cardoso, o mais acertado para lidar com a questão dos consumos seria “implementar, de uma maneira efetiva, um instrumento chamado Rede de Referenciação/Articulação”, que os serviços já desenharam, publicaram, foi aprovado e está em fase de execução.

O objetivo é que nos cuidados de saúde primários, quem contacta diretamente com os utentes possa “aplicar um questionário simples para perceber se aquele cidadão tem consumos de risco”. Ao serem identificados comportamentos perigosos de forma precoce “pode haver uma sensibilização para este facto, um alerta que pode levar à mudança, a uma alteração de comportamentos, ainda que possa necessitar de um suporte maior com intervenções breves e consultas específicas sobre a matéria”.

No que diz respeito ao panorama nacional, o relatório indica que os Açores e a Região Norte foram as zonas que apresentaram maior prevalência de consumo recente e atual de qualquer droga no escalão 15-74 anos. No escalão 15-34 anos foram também estas regiões, juntamente com o centro do país e Lisboa, a registar os níveis mais elevados. O Alentejo foi a região que registou menor prevalência de consumo recente e atual de qualquer droga nas faixas etárias mencionadas.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro