O Museu de Serralves inaugura esta quinta-feira uma exposição retrospetiva de Álvaro Lapa. Fernando José Pereira, professor da FBAUP, fala-nos da marca deixada pelo artista naquela instituição de ensino.

A exposição “Álvaro Lapa: No Tempo Todo”, comissariada por Miguel von Hafe Pérez, abre ao público no Museu de Serralves, esta quinta-feira. São mais de 290 as obras expostas na maior retrospetiva da carreira do pintor e antigo professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) que dá nome à mostra.

Os trabalhos apresentados reúnem obras do início de carreira do artista e produções conhecidas, algumas pertencentes a colecionadores privados.

Natural de Évora, Álvaro Lapa nasceu em 1939 e deixou uma marca indelével enquanto professor na FBAUP. Foi escritor, professor e um artista autodidata com uma linguagem muito própria. Morreu em 2006, no Porto.

“No Tempo Todo” junta pintura, desenho e objetos raros e é a primeira grande exposição depois da morte do artista.

“O fascínio da arte é sempre ficarmos com algo que falta, porque se nós apreendêssemos tudo das obras dos artistas deixava de ser arte, passava a ser comunicação”.

Ao JPN, Fernando José Pereira conta que conheceu Álvaro Lapa ainda como estudante. Apesar de não ter sido seu aluno, o agora professor da FBAUP sabe “muito bem o tipo de aulas que ele dava”. Aulas “fora das perspetivas de ensino”, que se diferenciavam pelos “elementos teóricos” que abordavam.

Fernando José Pereira também realça o lado enigmático das produções de Lapa pela dificuldade de apreensão de tudo o que as obras contêm. “O fascínio da arte é sempre ficarmos com algo que falta. Se nós apreendêssemos tudo das obras dos artistas deixava de ser arte, passava a ser comunicação”, afirma.

O professor universitário conhece bem os trabalhos do artista. Considera que a formação em filosofia e os conhecimentos de estética de Álvaro Lapa são dois fatores que contribuíram para a “singularidade” da sua obra.

“Por razões que têm que ver com a minha passagem como professor na FBAUP, tivemos alguma amizade”, conta Fernando José Pereira. Acrescenta ainda que Álvaro Lapa “foi dos professores mais importantes que a escola teve”, tendo em conta o cunho que deixou nos seus alunos.

“A relação que nós temos com as obras de arte é como, metaforicamente, entrar numa casa que nos é familiar, mas ao mesmo tempo é habitada por coisas estranhas”.

Relativamente à exposição em Serralves, o docente de Belas-Artes mostra-se feliz por “finalmente” o trabalho de Álvaro Lapa estar a ser reconhecido pelo país, mas admite que também gostava de ver isso a acontecer internacionalmente.

“A relação que nós temos com as obras de arte é como, metaforicamente, entrar numa casa que nos é familiar mas, ao mesmo tempo, é habitada por coisas estranhas”, diz o docente numa tentativa de definição dos trabalhos artísticos de Álvaro Lapa. Serve-se para o efeito do conceito freudiano das unheimliche, o estranho-familiar, que no caso de Álvaro Lapa será mesmo um familiar “ameaçadoramente estranho”, conclui.

Fernando José Pereira acredita que a exposição em Serralves vai permitir perceber a “maturidade” do artista, tendo em conta que se trata de “uma exposição muito ampla e aberta em termos de temporalidade”. A perceção da evolução dos trabalhos de Lapa será possível pelo vasto número de obras presentes nesta exposição.

A exposição é inaugurada às 22h00 desta quinta-feira e fica patente até dia 13 de maio.

Artigo editado por Filipa Silva