O Governo anunciou, esta quarta-feira, a ideia de criar uma agência destinada ao financiamento para investigação clínica. A proposta vai ser discutida e aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros. O objetivo é juntar 20 milhões de euros de entidades públicas e privadas até 2023 para aplicar na investigação.

A notícia foi avançada por Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, no âmbito da primeira “The Gago Conferences on European Science Policy”, que decorre ao longo de todo o dia, esta quarta-feira, no Porto.

A nova agência vai resultar da cooperação entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), em representação do setor público, e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) e o Health Cluster, pertencentes ao setor privado.

Segundo Manuel Heitor, pretende-se aliar “um esforço público e privado, e é isso que tem sido debatido nos últimos seis meses, para se criar um mecanismo novo em Portugal de financiar e de avaliar os chamados centros académicos clínicos”. Esse esforço deve resultar num financiamento de cerca de 20 milhões de euros até 2023.

Para Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, iniciativas como esta “fazem com que Portugal se oriente para uma posição de grande relevância em termos europeus”.

Manuel Sobrinho Simões, co-diretor do I3S, acredita que esta é uma novidade “excecional”, que “muda muita coisa porque passa a haver uma especialização das ciências médicas e das ciências de saúde em relação à FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia]”.

O anúncio da nova agência para financiar a investigação clínica partiu de Manuel Heitor. Foto: Joana Lima

Manuel Heitor justificou aos jornalistas a autonomização da avaliação e financiamento da investigação na área clínica face à FCT com o facto desta área ter “mecanismos próprios” e características muito específicas.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior adiantou ainda que a nova agência para a investigação clínica poderá localizar-se no Porto.

A primeira de muitas Conferências Gago

Organizada pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) da Universidade do Porto, a primeira “Gago Conferences on European Science Policy” tem como principal objetivo definir uma estratégia de apoio à investigação em cancro de forma a garantir que, a partir de 2030, três em cada quatro doentes possam aspirar a ter melhores perspetivas de vida.

A conferência contou com a presença de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde; Alexandre Quintanilha, deputado no Parlamento; e Mário Barbosa e Manuel Sobrinho Simões, diretores do I3S.

Também o Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas; o Diretor do European Research Council, Jean Pierre Bourgignon; assim como, o diretor e principais dirigentes das instituições europeias envolvidas na Rede Cancer Core Europe estiveram presentes.

Ao longo das conferências da manhã, o contributo de José Mariano Gago – na aproximação entre a ciência, as universidades e as instituições de saúde – foi recordado pelos oradores e conferencistas. O próprio nome do evento homenageia o cientista.

“Não estamos no caminho para a cura do cancro, mas sim para o perceber”

Manuel Sobrinho Simões afirmou que Portugal está no caminho certo para perceber o cancro. Foto: Joana Lima

Em declarações aos jornalistas, Manuel Sobrinho Simões sublinhou que, com esta conferência, “não estamos no caminho para a cura do cancro, mas sim para o perceber”. Para o investigador, “só conseguimos evoluir na cura do cancro se percebermos muito bem o cancro”.

Mário Barbosa defende que, para concretizar a meta de que três em cada quatro doentes com cancro sobrevivam, “é preciso que haja equipas integradas, constituídas por vários especialistas, que percebam quais são as várias dimensões da doença, ou seja, é preciso apostarmos na deteção precoce do cancro”.

“Por outro lado, é preciso fazer uma ligação muito forte entre a parte da investigação e a parte clínica, ou seja, muitas das novas terapias, muitos dos métodos de diagnóstico são desenvolvidos com base em técnicas de investigação, que têm de ser feitas por equipas especialistas”, acrescenta o co-director do I3S ao JPN.

Quanto às expectativas para o final desta conferência, Mário Barbosa tem consciência de que nada mudará num dia, mas espera “que haja consenso em relação aos aspetos fundamentais sobre as questões debatidas, nomeadamente, como é que conseguimos que os Comprehensive Cancer Centers sejam mais eficazes”.

“Este é um dia muito importante para as pessoas pensarem coletivamente”, conclui Mário Barbosa. A sessão de abertura do evento contou com a promessa de que serão realizadas entre uma a duas conferências anualmente.

Ao nível mundial, morrem 23 mil doentes oncológicos por dia. Em Portugal, o cancro é a segunda maior causa de morte. Na Europa, prevê-se que o número de novos casos aumente de 3,6 para 4,3 milhões nos próximos 20 anos.

Artigo editado por Filipa Silva