O que será melhor do que um dia dedicado à cara-metade em Dia de São Valentim? Bom, talvez a ocasião pudesse ficar na memória dos mais de 45 mil adeptos que foram ver o jogo se não se tratasse mesmo do encontro que qualquer portista gostava de esquecer.

As dificuldades começaram antes da partida. Sérgio Conceição não podia contar com Felipe (castigado), Aboubakar e Danilo Pereira (lesionados) e fez três mudanças no onze: Marcano no lugar do defesa brasileiro, Ricardo por Maxi Pereira e Brahimi por Corona.

Jürgen Klopp, técnico do Liverpool, tinha também o seu plantel condicionado. Emre Can cumpria suspensão e deu lugar a Lovren. Além disso, saem Joel Matip e Oxlade-Chamberlain, para as entradas de James Milner e Jordan Henderson.

Capoeira aberta e caldo entornado

O jogo não correu mesmo de feição à equipa portuguesa, nem remotamente perto. Sem Danilo Pereira, Conceição achou melhor repetir o esquema de meio-campo do jogo em Chaves: Herrera e Sérgio Oliveira mais recuados e Otávio mais subido e encostado a Soares. Problema? O meio-campo dos ingleses. Wijnaldum, Henderson e Milner foram sempre suficientemente rápidos e inteligentes para trocar as marcações ao adversário e aparecer em superioridade numérica praticamente desde o início até ao fim de cada jogada.

O primeiro golo chegou aos 25’, por Mané. Sem rumo definido e com uma péssima abordagem de José Sá à bola, a defesa portista ficou a ver navios e a contar estrelas no céu. Mas, tal como o caminho de Rui Veloso, não houve nenhuma a dourar o caminho dos “dragões”.

E apenas quatro minutos volvidos, o placard volta a assinalar golo dos “Reds”. Desta feita, o novo ídolo do clube Salah aproveitou da melhor forma a recarga de um remate ao ferro por James Milner. Uma jogada tão facilitada, quase um bailado com a bola. Nada nem ninguém parecia importunar o egípcio na altura de rematar, como viria a acontecer com os restantes golos do encontro.

Antes do intervalo, os vice-campeões nacionais ainda tentaram marcar por Soares, que falhou a baliza por pouco.

Puro embaraço

Embora Sérgio Conceição tenha pensado em almejar a baliza contrária com a substituição ao intervalo de Otávio por Corona, a verdade é que isso apenas contribuiu para o desmoronamento total do meio-campo portista. Herrera e Sérgio Oliveira nunca foram capazes de suster o caudal ofensivo do Liverpool, que viu na segunda parte a oportunidade para fechar a eliminatória e receber o FC Porto numa posição bem mais confortável.

Dito e feito. Continuando com o domínio por inteiro na partida, os britânicos aumentam a vantagem aos 53’. Mané, de novo, a insistir no golo depois da defesa de José Sá ao remate de Firmino.

Se não tinha sido óbvio antes para todos que a derrota era o mais certo para os visitados, com o 3-0 ficou selado. De nada valeu pôr Gonçalo Paciência e Waris em campo, o mal estava feito. Num dia em que reina o amor, a noite foi de mágoa forte. Nem o adepto mais pessimista poderia prever um pesadelo destes.

E porque sobrava tempo para mais um par de tentos, foi mesmo isso que os forasteiros fizeram. Firmino aos 69’ e o incansável Mané aos 85’. Pelo meio, Klopp quis trocar Matip por Henderson aos 75’, Gomez por Alexander-Arnold aos 79’ e Ings por Firmino aos 80’.

No final, e apesar de ter perdido por números tão expressivos, a equipa do FC Porto foi aplaudida pelos adeptos.

“Vamos dar uma resposta completamente diferente em Liverpool”

Apesar de ter na conquista da liga o principal objetivo da temporada, Sérgio Conceição não escondeu a angústia pelo resultado frente ao Liverpool. “Temos o foco no campeonato, mas queríamos ir o mais longe possível. Não interpretámos bem o que tínhamos preparado. Foi um dia menos bom para alguns jogadores e para mim”, referiu em conferência de imprensa.

O técnico dos dragões diz que os dragões podiam ter sido mais perspicazes na gestão da partida. “Não vi as estatísticas, mas penso que em seis ou sete remates enquadrados fizeram cinco golos. Jogar contra o Liverpool já é difícil, até é capaz de ser mais forte fora do que em casa. É uma equipa muito rápida e objetiva. Contra uma equipa deste nível faltou inteligência de jogo para perceber o que o jogo pedia”, analisou, referindo que a equipa vai “dar uma resposta completamente diferente em Liverpool”.

“Eliminatória decidida? Claro que não!”

Jürgen Klopp apelidou de “muito boa” a prestação inglesa. Em conferência de imprensa, o treinador do Liverpool salientou a eficácia defensiva, muito para além dos cinco golos concretizados fora de portas. “Marcámos golos fantásticos nos momentos certos. Defendemos bem, quase sempre. Disse ao intervalo aos jogadores para pressionar e foi o que fizemos”, começou por dizer, prosseguindo com elogios ao espírito coletivo dos “reds”.

“Não é só o ataque. Jogámos como equipa. O FC Porto está na frente do campeonato e é impossível estar na frente do campeonato se não se souber jogar futebol. É uma equipa ofensiva. Por isso, defender foi muito importante. Foi muito, muito bom. Os médios estiveram bem e os três rapazes da frente ajudaram-nos”.

Apesar da diferença no marcador, Klopp considera que nada está acabado. “Eliminatória decidida? Claro que não! Viemos para criar as bases para o segundo jogo. Estou há muito tempo no futebol para saber que tudo pode acontecer. Vamos ver com os nossos adeptos em Anfield”, terminou.