Os trabalhadores dos CTT estão em greve esta sexta-feira. A adesão será elevada de acordo com a estimativa do Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços (Sindetelco). Henrique Pereira, secretário nacional do sindicato, aponta para uma paralisação na ordem dos 80% a 85%, uma vez que não foram declarados serviços mínimos. No entanto, de acordo com a administração dos CTT, a “taxa efetiva de adesão” à greve é de 16%. A empresa prevê, por isso, que o impacto da greve não seja relevante, até porque a “rede de atendimento dos CTT mantém-se em funcionamento a 100%”.

Reverter a privatização, preencher alguns postos de trabalho e respeitar os trabalhadores são alguns dos motivos apontados pelo sindicalista para a greve desta sexta-feira.

“Vamos a uma concentração em Lisboa, no Marquês do Pombal, e depois vamos para a residência do primeiro-ministro, no Palácio de São Bento, onde vamos ter a oportunidade de lhe fazer chegar às mãos, uma vez mais, as nossas reivindicações”, explica Henrique Pereira ao JPN antes da partida dos trabalhadores em greve do Porto para Lisboa.

“A reversão da privatização seria a solução ideal para a resolução dos problemas dos CTT”, aponta Henrique Pereira. O secretário nacional do Sindetelco adverte ainda que a “falta de pessoal” está a prejudicar o atendimento nas lojas e a provocar “atrasos nas correspondências”.

Os tempos de espera têm vindo a aumentar, quer nos balcões dos CTT, quer na entrega de cartas nas casas, de acordo com os trabalhadores. Nesse sentido, Henrique Pereira alerta para a “correspondência atrasada de marcações de consultas, de exames” e ainda de “recibos para pagar” que chegam aos destinatários já “fora do prazo”.

No entanto, esclarece que “se existe alguma qualidade, apesar de tudo, é graças ao profissionalismo e o ‘vestir a camisola’ dos trabalhadores dos correios”. De acordo com Henrique Pereira, os funcionários dos CTT trabalham gratuitamente fora de horas. “É-lhes negado o pagamento de trabalho suplementar e depois, caso não o façam, vêm com ameaças”, acusa.

Alice Barbosa, trabalhadora dos CTT em Gondomar, corrobora: “Não conseguimos entregar o serviço dentro do horário e cada vez estamos a ser mais pressionados. Dizem que está tudo bem, que a empresa está a fazer remodelações, mas não é verdade”.

Para Jorge Sousa, trabalhador dos CTT no Porto, “a empresa está descapitalizada, está desgovernada, não tem organização”. Acrescenta ainda que [à altura em que a empresa foi privatizada] “já não era preciso privatizar”, tendo em conta que “os objetivos impostos pela troika já estavam ultrapassados”.

O secretário nacional do Sindetelco aponta a “falta de admissões” como uma das causas para a carência de trabalhadores. “Não há admissões nesta empresa desde 2008. As admissões que existem, de facto, são para serviços centrais e para pessoas de gabinetes, mas para o pessoal de rua que distribui correio e para atender não existem”, relata.

Lojas dos CTT passam a Banco CTT

Relativamente ao fecho de várias lojas dos CTT, o secretário nacional do Sindetelco explica que “deixar de chamar loja para chamar posto” torna as coisas muito diferentes. “Um posto é um ponto de acessibilidade que pode ser uma caixa ou um marco de correio”, ou seja, “não está lá um atendedor para receber, para vender um selo, para receber uma cobrança, para fazer um pagamento de vale postal ou para aceitar uma encomenda”, conclui.

Apesar de a administração dos CTT justificar o fecho das lojas com a abertura de novas e maiores, Henrique Pereira encara a realidade de outra forma. Considera que as novas lojas, apesar de terem “condições idênticas às que existem”, têm uma nova especificidade que é o Banco CTT.

“A loja do [Hospital] São João, que foi inaugurada esta semana, tem a particularidade de ser Banco CTT. Dois dos atendedores que lá estão vieram das lojas que fecharam, mas o objetivo é já só canalizado para a parte comercial do banco, essencialmente. O objetivo é comercial”, esclarece.

Também Alice Barbosa acredita que a atual preocupação da administração é o Banco CTT. “Hoje em dia eles só pensam no banco e estão a deixar a distribuição, assim, ao Deus dará“. Sublinha ainda que “não se admite uma loja dos CTT não ter marcos de correio“, referindo-se à que foi inaugurada perto do São João.

Efeitos que se esperam com a greve

Tendo em conta que começou à meia-noite, a greve afetou logo os “primeiros turnos nas centrais”, uma vez que houve “uma adesão na ordem dos 72%” por parte dos funcionários, segundo o Sindetelco. Já para os turnos que começam às 8h30/9h00, Henrique Pereira prevê uma adesão “entre os 80% e os 85%” já com os Centros de Distribuição Postal.

Henrique Pereira adverte ainda para os atrasos na correspondência durante o dia de hoje. “As pessoas hoje não vão receber o seu correio. Lojas fechadas, não existem. Mas as pessoas que lá estão a atender nunca serão no número que habitualmente seriam”, explica.

Com a greve, Jorge Sousa espera que sejam resolvidos os problemas causados pela privatização. “Deixamos de ter o vínculo público de um dia para o outro, isso ainda não foi resolvido. E uma empresa com duas velocidades não funciona”.

Já Alice Barbosa considera que se a greve não tiver “aquele impacto” [o Governo reassumir a gestão dos CTT], a empresa pode ir à falência. “Quem está lá vai levar isto à falência”, acredita a funcionária.

O início da manifestação em Lisboa está previsto para as 14h30. A concentração começa no Marquês do Pombal, mas tem como último destino a residência oficial do primeiro-ministro, onde os quatro sindicatos – SNTCT, Sindelteco, Sincor e SINTTAV – pretendem entregar documentos relativos à reversão da privatização da empresa.

Artigo editado por Filipa Silva