A Rainha Njinga Mbandi – uma das mais importantes mulheres africanas da História – é a protagonista da peça “Que ainda alguém nos invente”, que resulta de uma coprodução do Teatro Municipal do Porto e do Teatro Griot. O espetáculo tem estreia marcada – no auditório do Campo Alegre – para o dia 2 de março às 21h30.

Paula Diogo contou ao JPN que a peça se trata de “uma leitura possível sobre uma personagem histórica, a Rainha Njinga Mbandi”. O que o teatro Griot fez foi “encomendar um texto ao Ricardo P. Silva sobre essa figura” e, posteriormente, realizou uma leitura desse texto, pelo que a peça é “uma espécie de ficção em cima da ficção do Ricardo”, explicou a encenadora.

A Rainha Njinga Mbandi trata-se de uma figura real e o texto de Ricardo P. Silva nasce de “uma pesquisa e de uma investigação muito rigorosa”, razão pela qual “está cheio de referências que foram estudadas, correspondem à realidade e que não são ficção”, avançou Paula Diogo. A peça faz uma releitura desses factos, pelo que o espetáculo é ficção, apesar da figura não o ser, concluiu a encenadora.

Peça "Que ainda alguém nos invente"

A peça é o reflexo de um tempo e de uma geração “que nasceu entre dois países” Foto: Patrícia Santos

Matamba Joaquim salientou que Njinga Mbandi “é uma figura muito complexa”. Ninguém sabe linearmente a história desta Rainha, as pessoas sabem partes ou versões da mesma, esclareceu o ator.  A história – já por si fragmentada – recebe várias interpretações que contribuem para uma ainda maior “fragmentação” da vida de Njinga Mbandi, esclareceu o artista.

Paula Diogo realçou que Njinga foi uma “Rainha letrada, que fez uma espécie de frente de combate contra os colonizadores e acabou também por ter de negociar com eles, porque era a única maneira de conseguir manter o domínio”. Isto torna-a numa figura “controversa”, pois “ao mesmo tempo que é uma espécie de herói nacional, também representa uma série de outras coisas”, revelou a encenadora.

A peça, segundo Paula Diogo, é o reflexo de um tempo e de uma geração “que nasceu entre dois países, seja Angola, Moçambique, Cabo-Verde, porque são africanos que já não são africanos, ou são africanos, mas não só”.

Peça "Que ainda alguém nos invente"

Em “Que ainda alguém nos invente” a Rainha Njinga Mbandi “invoca os seus mortos numa conversa consigo mesma” Foto: Patrícia Santos

Mas a obra vai além disso, reflete uma realidade que nos chega a casa diariamente, “que são povos que estão constantemente a ser varridos de um lado para o outro, por uma violência que já não é identificada”, explicou a encenadora.

Para Paula Diogo, a peça é muito contemporânea, porque fala sobre o que se vive atualmente, sobre este mundo e a forma como se organiza: “como se tem organizado sempre ao longo dos tempos”.

O espetáculo que estreia a 2 de março – e se repete às 19h00 do dia 3 de março – apresenta a fusão de dois papéis, o de rainha e o de mulher, num ritual que oscila entre o orgulho e o remorso.

A sinopse da peça levanta a ponta do véu e explica que a Rainha Njinga Mbandi – no papel de filha, irmã e amante – conta a sua versão, “escusando-se ao logro de um passado forjado, divinizado e imaculado no seu desígnio”, ao mesmo tempo que “invoca os seus mortos numa conversa consigo mesma, fala do que foi e do que poderá nunca ter sido”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro