O primeiro festival de new media português, que acontece no Porto a 24 e 25 de março, corre o risco de não ter uma segunda edição, caso a Direção-Geral de Artes não volte atrás na decisão de não apoiar financeiramente a Saco Azul. A associação, assim como a Circulando e a Circular, vai tentar reverter a resolução.

“Estupefação” é a palavra que define a reação da Saco Azul no momento em que soube que a associação não foi selecionada para receber o apoio da Direção-Geral das Artes.

Daniel Pires, presidente da associação, explicou que a estrutura tinha “uma candidatura muito bem construída e fortalecida em termos de parcerias, nomeadamente com a Universidade do Porto”. A proposta da organização incluía uma nova edição do Vivarium Festival, cujo ano zero conta com o apoio da entidade.

Além do festival, todos os projetos do organismo ficam em risco. “[Se] a associação pode ficar em standby, as atividades artísticas de criação nos Maus Hábitos evidentemente têm de parar”, avançou o presidente da Saco Azul.

A Saco Azul conseguiu apoio da DGArtes pela primeira vez em 2008, com o projeto Sweet & Tenders Collaborations

A associação adianta que, sem o apoio da DGArtes, pode avançar com algumas iniciativas, “mas nunca com o programa desenhado, com curadores estrangeiros, artistas nacionais, internacionais e circulação de peças”, concluiu. Em risco está também o emprego do único funcionário da associação.

O presidente da Saco Azul esclareceu que o organismo, fundado em 2002, foi pedindo algumas vezes apoio à Direção-Geral das Artes, sendo que o primeiro chegou em 2008, com o projeto Sweet & Tenders Collaborations – que nasceu de uma união com os Maus Hábitos para receber 48 artistas e 22 países durante 60 dias no Porto.

Desde 2008 a associação tem recebido sempre o apoio estatal e Daniel Pires salientou não entender o motivo que levou à decisão da DGArtes, ao mesmo tempo que realçou a importância do trabalho do organismo.

“Todas as atividades que o público que vem aos Maus Hábitos vê na sala de exposições são responsabilidade da Saco Azul”, mas realizam também atividades fora de portas, como projetos de residência cruzados na cidade, explicou o presidente.

“Não é possível que uma única organização receba mais de 50% do dinheiro destinado à Região Norte”.

Numa carta enviada à redação do JPN, Daniel Pires adianta que as razões apresentadas para a não-atribuição do apoio passaram pelo facto de a associação ser “demasiado local”, ter “públicos vagos” e “números excessivos”, além de uma “equipa artística de mérito, mas algo desadequada”.

Quanto ao argumento “demasiado local” o presidente da Saco Azul diz não entender como pode ser considerada assim quando organizam, por exemplo, exposições com artistas nacionais no estrangeiro.

“Os públicos vagos” e os “números excessivos” também confundem a Saco Azul por trabalharem “há 16 anos num espaço visitado mensalmente por dezenas de milhares de pessoas e que aí tomam contacto com diversas formas de expressão de arte contemporânea”.

O argumento de que a equipa artística é “algo desadequada” também não lhes faz sentido, uma vez que a associação é dirigida há mais de dez anos pelas mesmas pessoas e a “sua extensão artística acolhe desde artistas a iniciar carreira até aos consagrados nacionais e internacionais, com o apoio da própria DGArtes”.

Tal como a Circular e a Circulando, a Saco Azul considera injusta que uma associação “pequena” tenha de concorrer com instituições como o Centro Cultural Vila Flor, que é “assumidamente suportado pela Câmara Municipal e não tem autonomia nem vive fora do município”.

Daniel Pires defende que deve existir um outro concurso para instituições como a de Guimarães, porque “não é possível que uma única organização receba mais de 50% do dinheiro destinado à Região Norte”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro