Uma semana depois do desaire em Paços de Ferreira, o FC Porto voltou a vencer no campeonato. Os dois golos marcados este sábado ao Boavista, cortesia de Felipe e Héctor Herrera, aparentam um resultado construído na tranquilidade de um simples dia no escritório. Desenganem-se.

À semelhança do encontro da primeira volta, o Boavista vendeu caro os pontos. No Dragão não só conseguiu jogar em posse durante vários períodos, como remeteu o primeiro classificado para o contra-ataque. Perceber a constância desta pantera continua a ser caso de estudo. Até porque a diferença entre os jogos em casa e fora é quase tão grande como o preto e o branco que preenchem o xadrez no símbolo.

Reagir cedo para retornar à normalidade

Chegar a março e sofrer a primeira derrota interna da época pode não ser necessariamente mau. Só que na liga portuguesa não basta ser melhor que o adversário. Cada ponto é mesmo banhado a ouro na luta pelo título. Se o deslize em Paços recentrou a concorrência, o triunfo vespertino da águia, pautada por uma ultrapassagem na tabela, mesmo que provisória, acentuava a necessidade portista em regressar às vitórias.

Toda a conjuntura pontual, cruzada com uma série de ausências, deixou rasto na construção estratégica da melhor malha para aprisionar a pantera. No regresso de Herrera após castigo, André André e Waris passaram da titularidade para a bancada. Jorge Simão só mexeu onde foi obrigado, ao escrever Tiago Mesquita no onze pela primeira vez desde o fim de setembro.

À boa maneira dos dérbis portuenses, o jogo abriu recheado de tensão. Alguns adeptos ainda procuravam o lugar na bancada quando o pé direito de Sérgio Oliveira serviu na perfeição a cabeça de Felipe. Ao segundo minuto, os fantasmas pareciam sucumbir. Era até tentador adivinhar um passeio tranquilo para os dragões.

Só que a pantera anda faminta fora do Bessa. No Dragão, mesmo com uma entrada em falso, procurou durante vários minutos concentrar atenções em ataque posicional. Yusupha e Mateus tomavam à vez as rédeas do ataque, mas foi Renato Santos a assustar em dois momentos.

Os portistas revelavam dificuldades para suster as saídas rápidas do adversário. A própria bola parecia queimar nos pés de alguns jogadores. Conceição acertou os níveis de pressão ao permutar Otávio e Ricardo, que começara o jogo a dividir a linha ofensiva com Aboubakar. O rendimento melhorou ligeiramente, também devido às contrariedades experimentadas pelo adversário.

A lesão de David Simão não estava nos planos. Vítor Bruno foi a solução de recurso, que esteve para não durar muito. Numa bola dividida, o médio axadrezado tentou desarmar Sérgio Oliveira. O árbitro principal ordenou expulsão imediata. O vídeoárbitro apareceu a tempo de repor a verdade, revertendo a admoestação ao camisola 90 para cartão amarelo.

Erro suicida aniquilou incerteza

A etapa complementar teve rituais idênticos. Os homens da casa reentraram a todo o gás, o Boavista respondeu com acutilância. Se Herrera desperdiçou dois lances nas barbas de Vágner, Sérgio Oliveira e Casillas negaram a meias o golo do empate.

Óliver subiu ao relvado para dinamizar a zona intermediária azul e branca, libertando Herrera em terrenos adiantados. O mexicano seria mesmo a chave do encontro, ao intercetar uma má reposição do guarda-redes para dobrar a vantagem. O FC Porto serenava numa das melhores etapas do seu opositor. Mas não queria parar por aqui.

Pouco depois, espaço para um dos momentos mais estranhos do campeonato. Sparagna travou Maxi na área, originando uma grande penalidade clara para os dragões. Ao contrário do que aconteceu em Paços de Ferreira, Sérgio Oliveira assumiu as rédeas e marcou. O FC Porto ainda festejou de forma efusiva com todo o banco de suplentes, mas viu depois Manuel Oliveira correr para o monitor. O vídeoárbitro transformou tudo num livre indireto, por o médio ter dado dois toques inadvertidos na bola na altura do remate. O resultado ficou como estava (2-0). Nada que impedisse o dragão de segurar a liderança.

“Pausa vem na altura certa”

No final do encontro, Sérgio Conceição sublinhou o regresso aos triunfos. “Disse que era importante vencer este jogo, pela semana atípica após a derrota”, começou por dizer em conferência de imprensa, antes de destacar o que pode trazer a pausa para os compromissos das seleções.

“Temos de dar descanso a alguns jogadores com mais fadiga. Não a todos, porque há vários atletas nas seleções. Vamos recuperar atletas que têm estado lesionados. E poderemos trabalhar algumas situações. Estamos atentos a tudo. Esta pausa vem na melhor altura”, admitiu o técnico portista.

Sobre o que resta no campeonato, Conceição garante que a confiança reina no balneário. “Há sete jogos bastante difíceis, vai ser uma luta jogo a jogo. Há consciência do que há pela frente e das dificuldades. Falta muito ainda e estamos serenos. Há confiança e um espírito fantástico”, concluiu.

“O que falhou? Não fizemos golos”

Para Jorge Simão, o Boavista claudicou nomeadamente no capítulo da concretização. “Nem tocámos na bola e sofremos o golo. Isso influenciou o resultado, não o jogo. A partir daí foi uma clara demonstração de coração, atitude, determinação e qualidade. Depois foi uma luta contra as contrariedades que fomos sofrendo com o tempo. Com maior ou menor dificuldade, fomos conseguindo incomodar o Porto. O que falhou? Não fizemos golos”, apontou em conferência de imprensa.

O técnico axadrezado admitiu que o desenrolar do jogo condicionou a gestão que tinha delineado ao longo da semana. “Quase todas as minhas substituições foram no sentido de tapar situações que foram acontecendo. Não gostei do período que culminou com o segundo golo do Porto. Naquele período existia algum desnorte nosso e superioridade do adversário”, considerou, sem retirar mérito à vitória azul e branca.

Por fim, um reparo ao trabalho de Manuel Oliveira. “No minuto 55 há uma bola de golo do Mateus, mas antes há um penálti que não foi assinalado. Se o vídeoárbitro acertou em todas as decisões que interveio, porque razão não solicitou a consulta do árbitro em relação à grande penalidade sobre o Yusupha?”.

O FC Porto mantém dois pontos de vantagem sobre o Benfica na liderança do campeonato. O Boavista pode ver o Chaves descolar na sétima posição depois de sair do Dragão com os mesmos 36 pontos com que entrou. Depois de uma pausa para os particulares das seleções, o Boavista recebe o Tondela a 30 de março. Já o FC Porto vai ao Restelo no dia 2 de abril, no encontro que fechará a jornada 28.

Artigo editado por Filipa Silva