Um Toyota Bandeirante, um jovem brasileiro e um projeto solidário para erradicar uma doença. Os ingredientes da campanha Hepatite Zero pareciam ter tudo para dar certo. Mas na noite de sábado (17), na Avenida Camilo, em frente à Escola Secundária Alexandre Herculano, o carro foi assaltado.

Levaram cinco mil dólares [cerca de quatro mil euros] em dinheiro, um computador, um Ipad, duas câmaras Canon, cinco objetivas, uma GoPro, três discos externos com os registos dos dois anos e meio da expedição, uma coluna JBL, uma bicicleta dobrável, um drone e ainda dois pares de óculos de sol. Cerca de nove mil euros, no total. Foi na página de Facebook, onde Fred Mesquita partilha a parte gastronómica e cultural da viagem, que a notícia do assalto foi divulgada.

O JPN falou com Fred Mesquita que, questionado sobre o que seria mais importante reaver, só refere os discos externos: “Continham todos os registos sobre as ações sociais nos 28 países por onde já passei, estatísticas, fotos, memórias desses dois anos e meio e ainda parte do meu livro que vai ser lançado em maio. Tinha muita coisa de extrema importância para mim e que para os outros não tem importância nenhuma, até porque o próprio disco não tem valor”.

O jovem brasileiro acredita na possibilidade de recuperar alguns objetos, com a ajuda dos meios de comunicação social: “O meu apelo é realmente tentar sensibilizar as pessoas. Gostava de ter acesso aos media para conseguir divulgar de uma forma mais massiva, assim quem encontrar pode trazer de volta”.

Segundo o voluntário, quem assaltou o Toyota “carona”, assim apelidado pela expedição, teve consciência de que se tratava de um projeto social. “É impossível você passar a menos de 20 metros do meu carro e não perceber que o carro trata de uma missão humanitária de caráter global para erradicação da hepatite”, defendeu.

Com os olhos no futuro, Fred contou que vai continuar em Portugal nos próximos tempos. Coimbra, Lisboa e Faro são as próximas cidades a acolher a Hepatite Zero. Quanto à experiência negativa vivida no norte do país, o jovem confessa ter “muito carinho pelo Porto”. Esta foi, aliás, a quarta vez que visitou a Invicta. “Isto poderia ter acontecido em qualquer cidade do mundo”, acrescenta.

A expedição: cinco anos, cinco continentes

Com 32 anos, Fred Mesquita deixou o Brasil para viajar pelo mundo no âmbito do projeto Hepatite Zero. Antes de embarcar nesta viagem, o jovem brasileiro estudou artes cénicas e trabalhou como ator e diretor teatral. Foi por causa deste trabalho que passou a gostar de viajar, depois de fazer uma tour por cerca de 20 países.

A campanha “Expedição Hepatite Zero” nasceu pelas mãos do Rotary Internacional, com vários objetivos: criar embaixadores por várias cidades no mundo, fazer testes rápidos e gratuitos para identificar portadores do vírus e realizar palestras para divulgar informação sobre a doença.

Tudo isto a nível mundial, com uma viagem que passa pelos cinco continentes. Entre 2015 e 2017, já foram percorridos 20 países pela América do Norte, do Centro e do Sul. Este ano, a viagem passa por Portugal – que é onde Fred se encontra neste momento -, e por outros países da Europa para, em 2020, terminar na Ásia e na Oceania.

A viagem é feita com um Toyota “carona” com 20 anos. Como se lê no site da campanha, o veículo foi adaptado para poder fazer esta viagem, estimada em 180 mil quilómetros: “está preparado para enfrentar os desafios previstos, podendo passar por todos os tipos de temperaturas e terrenos – do deserto à neve, do frio extremo às mais altas temperaturas, de praias à montanhas”. Além disto, está também preparado para ser a casa de Fred caso não consiga alojamento.

O voluntário brasileiro pede a quem tiver informações sobre os discos externos e restante material roubado para entrar em contacto com o próprio através da página de Facebook da campanha ou da pessoal.

Artigo editado por Filipa Silva