O Prémio Cidadania Ativa foi criado pela Universidade do Porto em 2012, com o objetivo de distinguir anualmente estudantes com trabalho e projetos em vertentes tão distintas como a solidariedade, o empreendedorismo, a pedagogia, o desporto e/ou o ambiente.

Na quinta edição, a UP premiou um estudante de Farmácia que leva medicamentos a famílias carenciadas, um futuro economista com o sonho de trabalhar em África, um médico que promete simplificar o estudo da medicina e uma jovem açoriana que alia a veia desportiva à terapia para o Alzheimer.

Os prémios vão ser entregue esta quinta-feira, no Salão Nobre da Reitoria, durante a cerimónia comemorativa do Dia da Universidade. Os quatro vencedores vão receber mil euros, para além de um diploma individual comprovativo da atribuição do prémio e uma menção no suplemento ao diploma académico.

Um estudante de Farmácia que leva medicamentos a famílias carenciadas

Aléxis Sousa, estudante do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia (FFUP) e atual presidente da Associação Cura+, foi distinguido pela Universidade do Porto na vertente solidária e/ou humanitária.

A Associação Cura+ tem como objetivo sensibilizar a população para as desigualdades existentes no acesso a cuidados de saúde. “Porto com + Saúde” é o nome de um dos projetos, cuja missão é disponibilizar medicamentos sujeitos a receita médica a pessoas que, por motivos financeiros, não os conseguem adquirir. Para isso, a associação criou parcerias com farmácias e Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e tem vindo a organizar um conjunto de iniciativas com vista à angariação de fundos.

O vencedor do prémio da UP confessa que, antes de entrar para a associação, não imaginava que existiam pessoas que não tinham capacidade para adquirir a medicação de que mais necessitavam.

“Uma pessoa tem de se envolver neste género de iniciativas para ficar mais alerta em relação à comunidade que o rodeia e até porque isso vai ter repercussões diretas na sua profissão no final de curso. Uma pessoa atenta socialmente vai diferenciar-se de uma pessoa que simplesmente não faz ideia do que está a acontecer à sua volta”, revela o estudante da FFUP.

Daqui a dez anos, Aléxis Sousa, deseja, acima de tudo, estar feliz com a sua profissão. Depois, quer “viajar muito pelo mundo, conhecer novos sítios, novas pessoas e novas culturas”, conta.

Frase preferida: “Há gestos que podem mudar uma vida”.

Inspiração: Teresa Couto, anterior presidente da Associação Cura +, porque o fez crescer “quer na associação, quer enquanto pessoa”.

Um futuro economista com o sonho de trabalhar em África

Desde o momento em que entrou no Ensino Superior que Filipe Sousa tem dois grandes objetivos: preparar-se para o mercado de trabalho e criar “um projeto universitário que provoque uma mudança positiva em diversas regiões do planeta”. Três anos depois, a Universidade do Porto atribuiu-lhe o prémio de empreendedorismo.

Durante a licenciatura em Economia, o estudante do terceiro ano integrou a FEP Junior Consulting, a Associação de Estudantes e a JADE Portugal. Após participar na Missão País em Celorico de Basto, Filipe Sousa decidiu continuar o trabalho no Bairro de Contumil, estendendo o voluntariado à cidade Porto através da associação Pão de Alegria.

Mais tarde, o jovem foi convidado pelo presidente do Rotaract Universidade do Porto a integrar o conselho diretor fundador da organização, a primeira do Rotary International sediada numa universidade portuguesa. Fundou também a UPrise Talent, com o objetivo de “complementar o sistema educativo no ensino secundário e universitário, através do apoio de carreiras e desenvolvimento de competências”.

Se por um lado existem muitos jovens que já entraram no mercado de trabalho, o empreendedor acredita que a grande maioria dos cursos oferece aos estudantes universitários disponibilidade suficiente para se envolverem em projetos em diferentes áreas. Por essa razão, não tem dúvidas que “são os estudantes que podem ter mais impacto e mudar o mundo”.

Filipe Sousa incentiva todos os universitários a serem mais autónomos e confiantes. “Estamos agora mais próximos do mercado empresarial, portanto é muito fácil perguntar às empresas o que elas procuram e acho que os estudantes não sabem bem isso. Temos tanto tempo livre, porque não?”, questiona.

Quanto ao futuro, confessa que está num dilema. “Olho para as empresas e sinto que seria quase cobarde ir para uma empresa, desenvolver projetos, aumentar o rendimento daquela empresa, enquanto existem problemas no mundo, que eu sei que existem, e não estou a trabalhar totalmente para corrigi-los. Isso faz-me um bocadinho de confusão, sentir-me-ia mal comigo próprio”, admite.

O seu maior sonho é conseguir, um dia, trabalhar em África: “Se não fosse daqui a dez anos, seria daqui a 20 ou 30, mas gostava de ter esse impacto”.

Frase preferida: “Eu tenho ido muitas vezes contra a parede, mas vai haver um dia em que vou deitar a parede abaixo”.

Inspiração: Cristiano Ronaldo, pela “capacidade de trabalho, de aprendizagem e de não ir abaixo com críticas”.

Um médico que promete simplificar o estudo da medicina

Bruno Guimarães foi merecedor do prémio pedagógico da Universidade do Porto. O médico concluiu o curso em 2014 na Faculdade de Medicina (FMUP) e, no ano seguinte, ingressou no programa doutoral para completar a formação.

O investigador do grupo In4Health, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), quis dedicar o seu doutoramento ao “desenvolvimento de novas tecnologias de apoio, quer à aprendizagem, quer à avaliação do estudo dos estudantes de medicina, em particular na área de anatomia”. Em conjunto com José Miguel Diniz, o estudante decidiu aplicar a ideia à Prova Nacional de Seriação, mais conhecida como o Harrison ou “o monstro da Medicina”.

É assim que surge o HarriFlash, uma aplicação que promete simplificar o processo de revisão dos conteúdos para o tão temível exame. Através de “pequenos factos post it” para um estudo “rápido e de revisão eficaz”, perguntas de exame e verdadeiros e falsos, os estudantes conseguem identificar mais facilmente se “conhecem ou não aquela informação daquele capítulo” ou “se sabem ou não aquela frase crucial da matéria”.

A aplicação possui módulos gratuitos e é utilizada diariamente por milhares de estudantes que procurem um “feedback automático do seu conhecimento”, afirma Bruno Guimarães.

O investigador confessa que “não ficaria satisfeito por ter apenas um papel na sociedade, ou seja, ser apenas médico ou arquiteto ou engenheiro ou advogado. Eu acho que é muito importante as pessoas, e hoje em dia mais do que nunca, exporem e desenvolverem várias capacidades”.

No futuro, Bruno Guimarães ambiciona terminar o internato médico e tornar-se especialista em Medicina Física e Reabilitação. Além disso, pretende “manter a ligação à faculdade e criar novos produtos para outros contextos pedagógicos” que possam ser úteis, tanto na área de saúde, como noutras áreas.

Frase preferida: “Eu sou eu e a minha circunstância”.

Inspiração: Nikola Tesla, pela “mente brilhante”.

Uma jovem açoriana que alia a veia desportiva à terapia para o Alzheimer

Flávia Machado, aluna do Mestrado em Atividade Física para a Terceira Idade na Faculdade de Desporto (FADEUP), foi a estudante escolhida para receber o prémio desportivo da Universidade do Porto.

A jovem licenciou-se em Gerontologia pela Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro. Atualmente, é uma das responsáveis pelo programa Mais Ativos Mais Vividos Alzheimer, que permite a formação de técnicos especializados em exercício físico e promove a autonomia, o bem-estar e a saúde da população idosa.

“Cada vez mais verificamos que a nossa população está envelhecida e com este envelhecimento surgem as patologias crónicas não transmissíveis e que causam maior sobrecarga ao sistema de saúde e até à própria comunidade em geral. Este tipo de projetos e o envolvimento dos jovens permite manter e promover a saúde dos mais velhos e criar esta geração intergeracional que cada vez mais é necessária”, declara a jovem.

Para Flávia Machado, a melhor forma para um estudante se envolver neste tipo de iniciativas é ter curiosidade. Por essa razão, deixa um conselho aos jovens que ingressam este ano no Ensino Superior: “Saiam da vossa zona de conforto, procurem conhecer e saber o que é que os diversos projetos têm para oferecer e qual é o contributo que poderão dar a essas pessoas e a esses projetos”.

Daqui a dez anos, sonha ter uma instituição na ilha Terceira, nos Açores, dedicada à população idosa, na qual o exercício físico seja a palavra de ordem. O objetivo é “promover hábitos de vida saudáveis e o envelhecimento ativo e bem-sucedido da população idosa”.

Frase preferida: “O sonho comanda a vida”.

Inspiração: As pessoas com quem trabalha diariamente, pois “ainda que seja muito sofrido ver a progressão da doença e qual o desconhecimento do familiar, para eles [doentes de Alzheimer] está sempre tudo bem e há coisas que nunca se esquecem”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro