Ao contrário do que tem acontecido nas últimas edições do Portugal Fashion, esta quinta-feira, três designers já consolidados na passerelle principal apresentaram as coleções no mesmo dia que os jovens criadores inseridos na plataforma Bloom.

Anabela Baldaque, Estelita Mendonça e Júlio Torcato mostraram as suas propostas para as estações frias de 2018 nesta quinta-feira à noite no Parque da Cidade do Porto.

Duas Auroras, uma coleção

Por coincidência, o nome da mãe de Anabela Baldaque e de um fenómeno da natureza é o mesmo: Aurora. Este foi o ponto de partida para a coleção da criadora que faz parte da equipa do Portugal Fashion desde a primeira edição do evento.

Numa viagem aos países nórdicos, a designer trouxe a misticidade da aurora boreal para os coordenados. Há uma transformação da noite em dia ao longo da apresentação da coleção através da paleta de cores. O desfile iniciou com pretos, evoluindo para os roxos e os laranjas: cores vibrantes que refletem o caráter da mãe da Anabela Baldaque.

“A minha mãe é muito alegre, é muito colorida, é muito divertida. A minha mãe tem a particularidade de ser muito mais arrojada. É uma pessoa destemida, que brinca muito com as roupas. Tem 85 anos e continua a olhar para o espelho, a pegar nas peças que tem e a fazer grandes misturas”, revela a criadora ao JPN.

Os padrões misturam-se e as cores entrelaçam-se em conjuntos contrastantes. Surgem diversas texturas e materiais, num jogo entre a leveza e tecidos mais compactos.

Há um foco nas mangas das peças que buscaram inspiração em coordenados “fortes ao longo de uma carreira de 32 anos” da criadora. Umas franzidas, outras drapeadas ou plissadas, as mangas constroem uma silhueta feminina.

Anabela Baldaque traz diversidade e cor ao outono/inverno de 2018, numa coleção que considera ser transversal a todas as camadas de idade e adequada a vários tipos de situações.

A “moda do futuro” aterra na passerelle do Portugal Fashion

Estelita Mendonça surge como uma lufada de ar fresco entre Anabela Baldaque e Júlio Torcato, habituados a pisar o palco do maior evento de moda nacional há muitos anos. O designer trouxe ao White Room do Portugal Fashion uma coleção cinematográfica e futurista, numa aliança perfeita entre tecidos familiares e plásticos refletores que, até agora, o público só viu nas janelas dos carros.

O metalizado, a gola alta, o plissado e as riscas fazem da coleção uma mistura de elementos e padrões, pintada em tons de azul, laranja e verde.

À primeira vista, o Blade Runner e o 5º Elemento podem não parecer ter ligação direta à coleção. Mas foi nestas cidades futuristas que Estelita Mendonça se inspirou para trazer a “roupa do futuro” para a passerelle.

“Começou comigo a pensar no que vai ser a marca daqui para a frente, tanto a nível de negócio, como a nível de conceito, como a nível de peças que temos delineadas”, conta o estilista ao JPN.

Estelita Mendonça garantiu não se tratar de um ponto de viragem, mas sim de um “ponto de afirmação” da marca. As suas peças são agora mais vestíveis, mas nem por isso perdeu a vontade de arriscar.

O cabelo bem puxado a trás, preso com tiras vermelhas e amarelas, deixa o público a questionar-se o que estará por detrás delas. Terá o estilista que habituou o público a uma crítica social algo na manga? Desta vez não. “As tiras vermelhas e amarelas têm a ver com o que vai ser possível daqui para a frente e porque não ter o cabelo desta forma? É quase uma coisa de libertação”, explica após o desfile.

Um retrocesso que junta ao clássico traços desportivos

Numa mistura de linhas clássicas com detalhes mais desportivos, Júlio Torcato apresenta a coleção Re/wind. Esta é um “rebobinar para andar para em frente”, explica o criador que celebra este ano 30 anos de carreira.

Re/wind podia ser um reviver do seu percurso profissional, mas o designer admitiu ao JPN que quando começou a coleção nem se recordou que já soprava 30 velas.

Esta é “uma reflexão pessoal sobre o percurso, sobre o que tem sido a marca, sobre o caminho que tem seguido ao longo deste tempo e, de vez em quando, temos de voltar um bocadinho atrás para andar um pouco mais em frente”, explica Júlio Torcato.

O estilista acredita que, com o mundo em constante mudança, é necessário provocar e estimular a sociedade através da moda. Assim, procurou criar uma nova estética, transgredindo materiais e formas, “numa atitude mais jovem, mais irreverente”.

É entre as linhas da alfaiataria clássica e os materiais de performance competitiva que surge a coleção do criador. Cortes retos, sobreposições e assimetrias formam um manifesto sobre a intemporalidade.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro