A cirurgia robótica é já uma realidade nos dias de hoje, mas ainda “num estado primitivo”. Esta foi uma das ideias partilhadas na quinta edição das YES Talks que teve lugar na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, esta quarta-feira.

De acordo com o cirurgião Carlos Vaz, um dos oradores convidados do evento, a cirurgia robótica apresenta uma evolução lenta, apesar de estar há 20 anos no mercado. Para o especialista, o facto de não existir concorrência na área é umas das principais razões que explica a situação e justifica os preços elevados praticados.

Os avanços conseguidos na área da cirurgia robótica, até ao momento, permitem “oferecer cirurgia minimamente invasiva, com mais precisão e segurança e depois, em mais casos e com maior complexidade do que conseguíamos fazer antes”, garante Carlos Vaz ao JPN.

Isto é possível devido ao facto do cirurgião conseguir controlar três a quatro braços, incluindo um com a câmara de filmar, que tal como os outros instrumentos é completamente estável. O avanço, “faz uma diferença muito grande, do ponto de vista do andamento da cirurgia, porque até aqui o cirurgião era obrigado a ver através dos olhos do assistente e não via o que queria”, esclarece o cirurgião geral do Instituto CUF Lisboa.

Outro dos avanços verifica-se ao nível da articulação dos instrumentos com capacidade mecânica, o que confere “muito mais liberdade e movimento dentro do doente”, acrescenta o especialista.

O cirurgião geral não tem dúvidas quanto aos benefícios da robótica na cirurgia médica e delineia o futuro: “Os sistemas cirúrgicos digitais são, neste momento, os melhores instrumentos que há para fazer cirurgia, portanto, vai ser feita com eles”.

O que é a cirurgia robótica?

É uma cirurgia minimamente invasiva, vídeo-endoscópica, com recurso a um sistema/interface digital não automatizado interposto entre o doente e o cirurgião.

Contudo, para o especialista os robôs não são um substituto dos cirurgiões, mas sim um complemento à área da medicina. Apesar de admitir que os robôs possam ser programados para fazer segmentos de operações ou talvez operações inteiras, o especialista vai ser sempre preciso “quanto mais não seja para programar, vigiar ou resolver uma complicação que possa surgir”, analisa o cirurgião.

Promovidas pelos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) no âmbito do congresso YES Meeting, as YES Talks foram criadas em 2014, com o objetivo de “permitirem que os estudantes aprendam novas técnicas e novas modalidades que por vezes não são muito abordadas no curso”, explica Mariana Gutierres, presidente do comité organizador do 13º YES Meeting.

O tema discutido na YES Talk deste ano – robótica na cirurgia médica – levou a uma grande procura por parte dos estudantes da FMUP, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e as inscrições esgotaram em menos de 48 horas. Para Mariana Gutierres, é fácil explicar o interesse dos jovens: “o tema tem estado em desenvolvimento e é bastante inovador, tanto em Portugal como no estrangeiro”.

O próximo YES Meeting vai ser realizado nos dias 13 a 16 de setembro, na FMUP, e tem como principal objetivo dar espaço aos participantes para apresentarem os trabalhos de investigação. “Promover a investigação e a ciência, com o objetivo de no futuro sermos melhores profissionais de saúde”, este é o desejo de Mariana Gutierres para o Congresso YES Meeting que vai já na 13ª edição.

A YES Talk deste ano teve ainda a presença da investigadora italiana Giulia Veronesi. A especialista exerce na área da cirurgia torácica no Hospital Humanitas e tem desenvolvido a técnica da robótica para o tratamento do cancro do pulmão iniciado e localmente avançado.

Artigo editado por Filipa Silva